Pular para o conteúdo principal

Ler, Refletir e Pensar: A blogueira e os mercenários, por Paulo Roberto de Almeida

O professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida faz o que ele chama de reflexão de lateral, que é bem oportuna, afinal a loucura em torno da visita de Yoani Sánchez já passou do ponto. Sou leitor dela desde o começo de seu blog e gosto da janela que ela abre pro cotidiano cubano e nos mostra que não há na ilha nem o pensamento único do “homem novo”, nem a virulência do ‘ancien régime’. O que há é pensamento independente abrigado sobre o manto da oposição a Fidel e que saudavelmente se dividirá numa miríade de correntes numa eventual Cuba pós-comunista.

A blogueira não se notabiliza como ideólogo anti-regime, seus textos não são profundamente políticos, mas o ódio que a ela se dirige – como escrevi inúmeras vezes – advém muito mais dela representar a falência da utopia que eles amam.

Abaixo vai o texto do professor, o original pode ser lido aqui.

A blogueira e os mercenários: pequena reflexão lateral

A visita ao Brasil e os eventuais pronunciamentos públicos (quando pode) da blogueira cubana não possuem nenhuma importância intrínseca, nenhuma relevância, pelo que possam representar como argumentos em si, e para si: são banais, anódinos, sem qualquer profundidade analítica ou sem qualquer objetivo programático ou político, no sentido mais preciso dessa palavra. Ou seja, o que ela diz, ou como diz, não importa muito.

Mais interessante são as reações que esse périplo despertou e que suas aparições vêm despertando entre gregos e goianos, ou entre brasileiros e estrangeiros. Na verdade, essas reações são tristes, patéticas, lamentáveis, denunciadoras de um mal maior: o profundo atraso mental em que vive o Brasil.

Já nem me refiro aos representantes da ditadura e seus mercenários tupiniquins, pobres diabos que não sabem o que fazem, apenas receberam ordens de protestar contra a "agente da CIA"  e "inimiga do poder popular" na única ilha "socialista" do hemisfério, ou então o fazem até com entusiasmo, o que lhes permite a idiotice reinante em certos setores do que seria a esquerda, mas que é apenas um ajuntamento de fascistas ignorantes.

Mesmo os supostos "apoiadores" da turista acidental estão dramatizando de tal forma esse episódio, que ele aparece como muito mais importante do que ele realmente é, ou seja, quase nada, seja na história do Brasil, seja no itinerário de Cuba.
Cuba é hoje um anacronismo absoluto, não apenas da Guerra Fria -- que desapareceu no sentido clássico, embora sobreviva em certas reações da Rússia e nos espíritos de russos e americanos saudosistas -- mas especialmente do stalinismo, da mais terrível ditadura já conhecida na história, junto com sua irmã maoista, que não inventou nada, mas que matou infinitamente muito mais gente.

Cuba não tem nenhuma importância, para o Brasil, para os EUA, para a América Latina, e só tem importância para esse bando de idiotas -- dos dois ou três lados -- que ficam se movimentando em torno do nada, justamente, apenas revelador, repito, do estado mental atrasado em que infelizmente nos encontramos.

Paulo Roberto de Almeida

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...