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Eleições nos EUA

O conhecido escritor norte-americano Mark Twain escreveu em sua autobiografia de 1906: “If we would learn what the human race really is at bottom, we need only observe it at election time”, algo como “Se você quer conhecer o pior da raça humana, basta observar o período eleitoral”. O mordaz observador e escritor se referia claramente a campanha negativa e a cegueira partidária que afloram nesse período.

Em tempos de crise econômica e elevada polarização política essa nefasta tendência das campanhas políticas fica ainda mais aflorada e o voto passa a ser pedido na base do impedir a tresloucada agenda de outrem e não na base do implementar minha acertada agenda.

E meus caros, não tenham dúvidas os analistas midiáticos ou acadêmicos são afetados pelo partidarismo ou simpatias ideológicas e pior tentam estabelecer que sua posição seria o “normal” e “natural” e a do outro lado “anacrônica” ou qualquer adjetivo de acepção negativa, aliás são os adjetivos empregados que entregam a visão de mundo de quem escreve (inclusive a desse escrivinhador, é claro), mas isso chega a ser lugar comum para escrever.

A narrativa dominante tem Obama como o homem aberto ao mundo, socialmente sensível, que busca uma sociedade igualitária e uma ordem internacional justa, menos imperial e, portanto, mais pacífica. Romney seria o representante da elite, o homem que quer desmantelar o sistema de proteção social para dar descontos nos impostos dos ricos e que quer acabar com liberdades individuais e limitar e subjugar as mulheres. E que no front externo seria capaz de iniciar novas guerras imperialistas.

Claro que a impopularidade de Bush pesa sobre essa visão de Romney, não importa que ele seja da ala “Rockefeller” do partido, isto é, ala não neocon, que prefere livre-comércio a bombardeios. Não importa que Obama tenha ampliado o Patriot Act e que tenha ampliado os assassinatos extrajudiciais com o uso de drones.

Talvez, o mais irônico dessa linha percepção versus realidade seja o caso de dois notórios e perigosos terroristas. Khalid Sheik Mohammed, o homem por trás dos atentados de 11 de setembro, quem realmente planejou e cuidou da execução da trama, que foi preso por Bush e levado para ser julgado (ok, preso na polêmica Gtmo e julgado em tribunal militar, ainda assim) e seu chefe Osama Bin Laden que foi sumariamente executado e sepultado pelo homem que supostamente respeita a lei internacional e é amante da paz.

Quero deixar claro, que meus princípios me colocam mais ao lado dos republicanos, embora não me anime com Romney, sou mais para Ron Paul, principalmente na sua visão de engajamento americano em Política Externa. Mas, isso não pode ser confundido com fazer campanha ou ser anti-Obama.

Obama é pintado pelos conservadores como um quase-socialista que no cenário internacional enfraquece os EUA ao ser apologético com o resto do mundo, que abandonou Israel e alienou importantes aliados na revolta árabe e que é aliado da extrema esquerda americana ao ser ligado a nomes como do reverendo Jeremiah Wright e/ou Bill Ayers, por exemplo.

Esse quadro também é imperfeito, já que apesar da óbvia frieza nas relações com Israel Obama nunca demonstrou nenhuma ação que enfraqueça a aliança com os dois países e tão pouco vociferou com verdadeira força contra os assentamentos em território palestino. E as execuções sumárias por “drones” mostram que Obama não é “frouxo” ou leniente com o terrorismo e que estaria disposto a aquiescer os interesses do Estado dos EUA.

Outro lugar comum, que nem por isso deixa de ser importante é dizer que a percepção pessoal que se tem do candidato interfere na hora de votar e nisso a vantagem é toda pra Obama e sua aura “cool”, aliás, um vídeo feito por um grupo que não apóia nenhum candidato ilustra perfeitamente essa percepção, mostrando que apoiadores de Obama, não conhecem a fundo suas políticas. O vídeo segue abaixo.

Obama e Romney pouco diferem em política externa e isso ficou patente no terceiro debate entre eles, claro os dois possuem distintas visões para economia e cosmo-visões de sociedade distintas, mas algo que tem que ser notado é que ambos acreditam que o que fazem é o melhor para que sua população seja mais feliz e próspera. Os dois, assim, tencionam fazer o bem, diferem nos caminhos, mas nenhum dos dois é “mal”, são apenas políticos com boas doses de ego e visões de futuro.

Romney tende a seguir o caminho da livre-oportunidade, da responsabilidade individual, da responsabilidade fiscal, da menor regulação federal e maior espaço para os estados e municipalidades decidirem seu futuro. E para ele a saída da crise está em mais liberdade econômica e empreendedorismo e inovação. Obama tende a acreditar na indução governamental do crescimento, na expansão das redes de proteção social, de regulação federal de mais impostos para equilibrar o orçamento.

Os dois têm em comum o fato de que nenhum deles vai implementar nada sem o congresso e nenhum deles vai implantar sua visão de mundo livre de grande concessões ao outro lado. Os dois vão ter lidar e acalmar os radicais do seu lado.

Contudo, nunca cessa de me surpreender que profissionais de relações internacionais e estudantes desse campo teçam análises apaixonadas sobre as eleições dos Estados Unidos, como se fosse uma disputa maniqueísta, ou seja, o bem contra o mal, mas creio que por vezes o arrebatamento do horizonte utópico das ideologias seja sedutor demais para que eles permaneçam objetivos.

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