Estão a serem convocadas para o sábado próximo, feriado de Tiradentes, marchas e manifestações contra a corrupção no trato da coisa pública. As manifestações pretendem manter o seu caráter apartidário e, portanto pluralista.
Claro que movimentos apartidários e que clamam por questões gerais tendem a não ter agendas propositivas claras e uníssonas. E provável que várias correntes dentre os que vão as ruas defendam soluções distintas. Teremos com certeza aqueles que querem regulamentações especificas sobre financiamento de campanha, outros que cobram celeridade da justiça, outros que queiram a mudança radical de organização econômica e social, outros tantos quererão o fim de privilégios parlamentares ou de autoridades judiciais e claro os mais utópicos que desejam um fim holístico da corrupção.
É saudável para democracia que as pessoas possam peticionar o poder público e possam se reunir de maneira pacífica para defender sua causa. Ainda causa espanto e enorme estranheza nos militantes de partidos de esquerda que costumavam se arrogar o monopólio da ética e principalmente do clamor das ruas que essa manifestação faça tanto esforço para ser apartidária.
Claro, que a conseqüência natural dessa ênfase apartidária é que se faça um discurso que pretende esvaziar a manifestação como sendo uma manifestação da classe média e acreditem dizem isso com um desprezo típico dos salvadores do povo. E, assim o movimento seria um estratagema reacionário para prejudicar e minimizar os avanços do “nunca antes na história desse país”. Um exemplo, aqui. (Se vocês procurarem acharão outros).
E é preciso ter em mente que o apartidarismo desse movimento acolhe a presença de líderes políticos nos eventos desde que deixem de lado seus símbolos e proselitismos partidários.
É estranho, eu admito, ver um movimento da sociedade civil que não esteja vinculado a agendas de partidos. O que não quer dizer que não tenha agenda políticas cada vez mais claras, como no caso de um dos eixos do movimento que é o amontoado (melhor termo que achei) hacker Anonymous. (Sim, eu tenho uma enorme desconfiança sobre esse grupo).
O sistema político e judiciário brasileiros são convites abertos a corrupção ao fomentarem baixos níveis de accountability a isso se soma um estado enorme e cheio de dificuldades e entraves burocráticos que parecem servir a causa da venda de facilidades e não a causa da governança racional do Estado.
E são essas estruturas propositadamente falhas que levam a corrupção endêmica que possuímos. A meu ver a solução passa necessariamente pelo legislativo que é o ente republicano que tem como competência o desenho institucional e legal. E como uma melhora na situação depende da qualidade do legislativo passa a ser por dedução lógica uma responsabilidade do eleitor.
Por isso é importante que existam mecanismos de governo aberto, ou seja, de transparência para que se possa – em tese ao menos – o eleitor evitar aqueles que não se coadunam com a causa da honestidade. Mas, sou pessimista posto que os mais acusados e nebulosos parlamentares são sempre re-eleitos com poucas exceções. E muitos exemplos desde ACM a Palocci.
Há quem queira aproveitar o ensejo do combate a corrupção com a coisa pública para questionar as falhas éticas das pessoas de alguma forma igualando condutas irritantes como furar-fila a formação de cartel para manipular uma licitação. Embora, possa haver alguma correlação entre as falha éticas da nossa sociedade que criaram a cultura do “jeitinho” e a corrupção acachapante de nossos políticos é um caminho pantanoso colocar a superação da corrupção política, da corrupção que lesa o pagador de impostos, o roubo do dinheiro público atrelada ao surgimento de um novo brasileiro.
Parece-me que a melhor solução é a melhora do desenho institucional que crie melhores mecanismos de controle externo transparente para flagrar e principalmente condenar o corrupto e um desenho burocrático que minimize a venda de facilidades.
E a meu ver esse é o maior mérito das passeatas contra a corrupção fazer com que os políticos sejam pressionados a romper a inércia e incentivar os cidadãos a refletirem sobre suas escolhas e quem sabe não seja a expansão da classe média o momento de inflexão nessa trajetória de vergonha das urnas brasileiras?
Portanto, quem for a favor do fim da corrupção e concorde com a agenda das manifestações tem a obrigação de ir as ruas nesse 21 de abril. Quem é a favor, mas discorda do que se prega nas diversas correntes, vá também. E ofereça sua visão. Nossa democracia precisa de nós. Por que sejamos honestos pior que ta, pode ficar, depende de cada um de nós, o preço da indiferença nesse tema é alto demais.
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