Um dos motivos que me fazem acompanhar o blog do professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida é sua verve crítica e iconoclasta. Imagino que isso deva trazer problemas com os ‘zelotes’ e ‘sabujos’, além dos “Anônimos Adeístas”, como ele mesmo costuma dizer. O texto que selecionei para republicar aqui é belo exemplo de pensamento independente, que pode até ser contra-intuitivo para os entusiastas da grandiloqüência ‘sul-sul’. (O original pode ser lido aqui, transcrito com autorização do autor).
À margem de um relatório da UNASUL
Por Paulo Roberto de Almeida
Com base em relato a propósito da mais recente reunião da Unasul, ocorrida em Assunção em 17 de março de 2012, ficamos sabendo que os chanceleres examinaram o estabelecimento do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS).
Se considerarmos que já existe a OPAS, com sede em Washington, chegamos à conclusão que os sul-americanos pretendem duplicar, em grande medida, o trabalho da OPAS, o que inevitavelmente vai resultar em gastos administrativos -- ou seja, com atividades-meio -- antes que se possa pensar em gastos com atividades-fim, ou seja, com a saúde dos sul-americanos. Como o Instituto é de Governo, são os governos, ou seja, todos nós, que vão pagar pelos novos gastos.
Seria interessante se não fosse preocupante essa mania sul-americana -- e portanto brasileira também -- de sair por aí criando novas instituições, todas elas exigindo novos gastos, quando existem instituições que funcionam nos mesmos setores designados. A menos que seja, claro, para escapar dos braços de ferro do império, que deve subordinar os gastos com saúde feitos a partir de sua capital aos seus desígnios estratégicos, sempre suspeitos, por definição.
A mesma informação diz que o intercâmbio comercial entre os membros da Unasul quadruplicou na última década, elevando-se de US$ 19 bilhões para US$ 76 bilhões. Ora, se a Unasul só existe desde dois anos, não se pode atribuir esse aumento a qualquer ação, iniciativa, promoção da dita entidade, não é mesmo? Esse tipo de amálgama soa incongruente, de fato ilógico, já que o comércio existe por ele mesmo, independente de ser dos países membros.
Ao mesmo tempo, se sabe que o Brasil exportou para a América do Sul um total de US$ 45 bilhões, e importou US$ 31 bilhões, o que deixa um saldo positivo de US$ 14 bilhões; pode-se talvez perguntar a opinião dos demais países membros sobre esse "desequilíbrio".
Será que os demais membros vão exigir compensações, como o Brasil acaba de fazer com o México, por exemplo?
Não precisa responder...
Paulo Roberto de Almeida
Comentários