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Dia internacional das Mulheres

É difícil celebrar uma data como o Dia Internacional das Mulheres quando se tem ciência que a situação de uma parte das mulheres do mundo é tão complicada, contudo faz bem pra alma celebrar as vitórias conquistadas, afinal isso anima a enfrentar as batalhas vindouras.

Vou reciclar mais uma vez esse texto de 2010, por que o considero o assunto importante.

Mulheres além de biologicamente impossível viver sem vocês essa hipotética existência seria insuportável. Não é a toa que quando fundei minha primeira empresa fiz tendo duas das mais maravilhosamente inteligentes mulheres que já tive a honra e prazer de conhecer.

8 de março

A data de hoje é uma data usualmente de celebração e debate acerca do papel feminino na sociedade, tem sua origem no infame incêndio que vitimou cerca de 130 operárias durante uma greve em uma tecelagem na cidade de Nova Iorque no ano 1857. Por essa origem ativista a data é sempre utilizada pelos movimentos feministas em seus protestos e requisições, esse post, contudo, não objetiva analisar a questão do feminismo, que é uma corrente teórica (enquadrada nas correntes pós-modernas) e analítica das relações internacionais.

O objetivo é celebrar a presença feminina que é majoritária nos cursos de graduação de relações internacionais, portanto é forma de celebrar as minhas amigas, colegas, parceiras e leitoras. Sem nenhuma “puxação de saco” ou “sedução barata” o que seria da existência masculina sem as mulheres? Por sinal nem nasceríamos, ainda que a convivência amorosa com essas lindas criaturas seja atribulada vez ou outra, não há como não as amar e admirar (ok. Pararei de rasgar seda).

Como disse acima as mulheres são maioria entre os estudantes, portanto o pensamento feminino (se é que existe tal distinção nas funções cerebrais) está intimamente presente na formação de um analista e sinceramente não tenho como quantificar ou analisar as benesses e os problemas que derivem disso por que não consigo me distanciar o suficiente. Quem sabe um dia com o crescimento da maturidade analítica eu consiga.

No campo das relações internacionais um dos setores mais visíveis que é muito confundido com as próprias relações internacionais é o exercício da diplomacia e nesse campo há no planeta um crescimento do reconhecimento da capacidade feminina, inclusive em países em que a questão da igualdade feminina é complexa como Sri Lanka, Índia, Bostwana. Que entre outros tiveram mulheres servindo como suas ministras de relações exteriores.

Essa história tem inicio com a Anna Polker, que foi uma figura proeminente no regime comunista romeno servindo como ministra no período entre 1947 e 1953. Outra mulher judia a seguiu no cenário militar foi a legendária líder israelense Golda Meir que antes de ser Primeira-Ministra, foi a primeira embaixadora de Israel na extinta União Soviética, e depois ministra de relações exteriores. Nessa tradição tivemos Tzipi Livini entre 2006 e 2009 afrente de uma chancelaria com uma agenda densa, complicada e quase única que são as negociações com os palestinos, as relações com EUA e as negociações regionais.

Segundo o site “Guide to Women in Leadership” foram 143 as mulheres a ocuparem tal cargo máximo das chancelarias em países de todos os continentes. Na maior potência planetária os EUA foram três as mulheres a comandarem sua diplomacia a Madeleine Albright, diplomata de carreira, Condolezza Rice, acadêmica de elevada estatura e a atual Hilary Clinton, ex-primeira dama que enfrentou os escândalos sexuais em torno de seu marido e usou esses escândalos para se lançar a política sendo senadora e presidenciável.

Na América Latina e Caribe foram 26 as ministras em 17 países. Segue abaixo um breve memorial com os nomes e anos de administração dessas ministras, organizado pelo ano de posse da pioneira.

A República Dominicana teve a primeira ministra ainda que interina em 1975 com Licelott Hoffiz. A primeira efetiva foi na Dominica em 1980 com Eugenia Charles que ficou a frente da chancelaria por uma década.

A seguir foi a vez da Argentina que em 1989 com Suzana Myrta Ruiz Cerutti. Em 1991 foram duas as nações que da região que adentraram a esse grupo a Colômbia e o Haiti, no primeiro assumiu o cargo a Nohemi Sanín Posada de Rubio que ficou no cargo até o ano de 1994 e mais duas colombianas enfrentaram esse desafio María Emma Niejía Vélez de Caballero entre 1996 e 1998 e Carolina Barco Isackson entre 2002 e 2006. No segundo, também foram três a começar com Marie-Denise Fabien-Jean-Louís, no ano de 1991, Claudette Werleigh, no período de 1993 a 1995 e Marie-Michele Rey que está no cargo desde 2009.

Outras duas nações nomearam suas ministras no ano de 1994, Barbados e Guatemala. No primeiro foi Billie Antoinette Miller, entre 1994 e 2008 e no segundo foi Maritza Ruiz de Vielman, no período de 1994 a 1995. Nesse ano de 1995, assumiu Janet Bostwick que ficou no cargo até 2002.

No ano de 1998 no México assumiu Rosário Green Macías de Heller que ficou no cargo até o ano 2000, quando assumiu a atual ministra Patrícia Espinosa Cantellano. Nesse mesmo ano 2000, foi a vez de Soledad Alvear Valenzuela assumir a chancelaria chilena, onde ficou até 2004. Também, em 2000, no Suriname assumiu o cargo Maria Elisabeth Levens que ficou até 2005 quando passou o cargo para a atual chanceler Lygia Kraag-Ketel Dijik.

Em El Salvador, em 1999, tomou posse Maria Eugenia Brizuela de Avila que ficou até 2004 e em 2008, assumiu Marisol Argueta de Barillas que ficou até 2009. No ano de 2003, Equador e Paraguai empossaram suas ministras. No primeiro quem assumiu foi a Quéchua Nina Pacari Veja que ficou durante o ano de sua posse. Em 2007, assumiu María Fernanda Espinoza que no mesmo ano transmitiu o cargo a María Isabel Salvador Crespo que ficou até 2008. Já no Paraguai quem assumiu, em 2003 e ficou até 2006, foi Leila Rochid de Cowles.

Nos últimos anos Trinidad e Tobago, Guiana e Honduras escolheram suas pioneiras para a posição, sendo que, em 2007, assumiu Paula Gopec-Scoon, em Tinidad. Em 2008, na Guiana, assumiu Carolyn Rodrigues e em 2009 foi a vez de Patrícia Isabel Rodas Boca, em Honduras. Todas ficaram apenas um ano em seus ministérios.

Resta a pergunta incomoda sobre o porquê de o Itamaraty ainda não ter tido nenhuma diplomata em condições de assunção desse cargo, que resta óbvio tem que ser preenchido de acordo com a capacidade, sem querer implicar que há falta de capacidade entre as mulheres que arcam com as dificuldades inerentes a vida diplomática.

Por fim não posso deixar de dedicar essa postagem as minhas sócias (de fato ex-sócias) duas das mais brilhantes pessoas com que estudei e trabalhei na minha vida. Pessoas, ponto.

Feliz dia das mulheres!

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