O terremoto político que a “Primavera Árabe” representou no Oriente Médio e Norte da África está longe de chegar ao fim, mas uma coisa já está clara, há uma franca e aberta disputa pela liderança regional apoiada tanto em fatores conjunturais como estruturais da política dessa parte do mundo.
É fácil até para o observador mais distante do Oriente Médio perceber três grandes atores regionais que se movimentam em busca da proeminência temos a Arábia Saudita, o Irã e a Turquia todos querendo ocupar parte do espaço perdido pelo Egito nesse período – que pode ser longo – de reorganização interna.
É claro, que nada disso começou esse ano, mudanças estruturais na fungibilidade do poder ocorrem lentamente (exceto em caso de uma grande conflagração militar posto que no final das hostilidades sempre há um novo equilíbrio), mas a conjuntura mundial ajuda a mudar o equilíbrio já que aumenta a cotação do petróleo, por um lado e restringe a capacidade da Europa de absorver mão de obra vinda dessa região o que agrava situações tensas na política interna de vários atores afinal é muito difícil não existirem tensões com um alto numero de jovens desempregados.
Uma das funções desse blog é ser espaço para depositar algumas hipóteses que deverão ser testadas mais na frente, sim eu sou um “Popper man”. Isso quer dizer que eu me arrisco um bocado aqui fazendo em público uma reflexão que pode estar completamente equivocada ou ser idiótica mesmo. Mas, enfim sem coragem não se faz nada. Vamos em frente.
O grande conceito analítico de Jospeph Nye, o Soft Power pode ser entendido de maneira muito resumida como a capacidade de um país de influenciar a agenda internacional e o comportamento dos outros atores do sistema de maneira sutil e indireta. É forçoso pensar em bens culturais e no carisma dos líderes. Por exemplo, juízos de valor a parte, o ex-presidente Lula era um grande trunfo da diplomacia brasileira justamente pela via do Soft Power.
Nos últimos dias tenho visto uma escalada do discurso do governo turco, de fato o primeiro-ministro daquela nação, Recep Tayyip Erdogan, tem sido bastante vocal, em suas críticas ao governo de Israel, chegou a declarar ontem segundo informa o jornal israelense, em língua inglesa Haaretz: “The barrier to peace in the region is the mentality of the Israeli governmen” Erdogan said. “The people in Israel are under a blockade (by its government).” [“A barreira para a paz na região está na mentalidade do governo de Israel” […] “O povo israelense está sob cerco (de seu próprio governo)].
Esse discurso agressivo se junta a retirada do embaixador turco de Tel-Aviv e da expulsão do embaixador israelense de Ancara, por conta é claro do episódio da “flotilha da liberdade”.
Esse incidente grave – diga-se de passagem – gerou a oportunidade perfeita para que Ergodan se torne uma figura líder numa questão poderosa no imaginário regional, a questão palestina. Seu calculo parece ser aproveitar seu status único de membro da OTAN e grande democracia de maioria muçulmana para se apresentar como uma forte voz de oposição a Israel sem a pecha de conivente e incentivador do terrorismo.
A Turquia tem uma vantagem clara junto a chamada opinião pública ocidental quando comparada com a Arábia Saudita e o Irã que é o fator democrático e do rule of Law.
Resta saber como serão os próximos passos e como reagirão os outros atores e mais ainda como reagirá a opinião pública da região e do globo quando e se a Turquia partir para o uso da força em ampla escala contra os curdos?
De todo modo mais uma vez os palestinos são moeda política na região será interessante como isso interagirá com a campanha palestina pelo reconhecimento de status junto a ONU, na AGNU que começa na próxima semana.
Por hora no quesito Soft Power os discursos duros e ações de força simbólica têm feito Ergodan ser o líder mais bem avaliado na região. Claro que muito ajuda a isso não ter feito incursões militares como as que a Arábia liderou no Bahrein, via Conselho de Cooperação do Golfo.
E vocês o que pensam disso tudo?
Comentários
Vc levanta bons pontos para serem sempre analisados e acompanhados. Alguns desses pontos já foram abordadas em alguns textos aqui, principalmente a atuação brasileira no que chamam de acordo nuclear, mas que demonstro que não é bem assim.
Abs,
Abraço!