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E finalmente a S&P rebaixou a nota de crédito soberano do EUA

Os agentes do mercado financeiro mostraram “nervosismo” toda a semana diante do quadro político americano, a amarga batalha pela aprovação da elevação do teto da dívida pública daquele país já havia feito a Standard & Poor’s ameaçar esse rebaixamento. Ameaça que se concretizou rebaixando a nota americana do mais alto posto AAA para o ainda muito seguro AA+, contudo é a primeira vez na história daquele país que sua dívida não tem classificação máxima de segurança.

Três grandes agências dominam o mercado de avaliação de risco soberano a S&P, a Moody’s e a Fitch. Diferentemente da S&P as outras agências não anunciaram planos para revisarem a nota da dívida americana nos próximos dias.

A nota AA+ ainda não provocará grandes alterações nos juros pagos pelos EUA, já que as outras agências mantiveram a nota máxima, mas sem dúvida é uma sinalização que o endividamento pode vir a ser um problema no futuro. Justamente por que há muita incerteza política.

Os mercados de certo modo já “precificaram” esse rebaixamento durante a semana, o que não significa que não haverá muita volatilidade durante a próxima semana.

Não é o fim do mundo, nem do capitalismo ocidental ou qualquer coisa assim, mas é um preocupante sinal de como o problema da dívida pública está longe de ser equacionado e pode ser o responsável por um Double-dip que tanto se teme.

É interessante notar que o rebaixamento acontece depois de um período em que líderes europeus reiteradamente criticavam essas agências por serem americanas e terem algum tipo de viés nacionalista “anti-europeu”, como se os investidores financeiros vissem bandeiras e não cifrões. Claro, é um discurso com muito apelo popular ainda mais depois do fracasso das agências em avaliar com correção os derivativos e produtos financeiros responsáveis em parte pela crise de 2008.

É o desfecho de uma semana que foi uma das mais duras da presidência de Obama e nem os festejos de seu qüinquagésimo aniversário (que foi dia 4) serão capazes de apagar das preocupações do mandatário o fato de ter sido no turno dele que a nota soberana dos EUA foi rebaixada, o que pode custar bilhões de dólares em serviço da dívida e votos.

Agora nos resta esperar os desdobramentos.

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Caso queiram saber mais sobre como interpretar as letras e números da classificação de risco deixo aqui um bom trabalho curto e bastante técnico, mas fácil de ler e em português. Clique Aqui. [GUIMARÃES, André. Avaliando a Classificação de Risco de Crédito em Operações Indiretas com Garantia de Fundo de Aval. In REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 15, N. 30, P. 39-61, DEZ. 2008]

Uma boa matéria bem ilustrada e com uma tabela de risco das três grandes para vários países é bem interessante consultar e ver que Brasil, Portugal, Tunísia e Colômbia, por exemplo, têm a mesma nota de crédito. Em inglês, clique aqui.

Comentários

Marcus Alencar disse…
Conheço pouco sobre economia, mas percebi um texto bem escrito. O que posso dizer é que quando se trata de capitalismo, é óbvio que sentimentos como esse desconfiança se farão presentes tendo em vista que há muitos interesses envolvidos. Sei que há um grande jogo de especulações, alianças e outras coisas que nunca chegam a público para não causar oscilações financeiras.
Parabéns pelo seu blog, o layout está ótimo.

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