“I'm antichrist, I'm anarchist, don't know what I want But I know how to get it I wanna destroy the passerby” Sex Pistols.
Nesse aniversário de 6 meses da chamada “Primavera Árabe” outro grupo de jovens enfrenta a polícia nas ruas de uma cidade densamente povoada, mas dessa vez não foi numa milenar capital do Oriente Médio e sim na igualmente milenar cidade de Londres, que uma vez não há muito tempo foi a capital de um Império sobre o qual o sol nunca se punha.
Essa revolta não possui o caráter libertário e esperançoso das revoltas árabes em que homens e mulheres, jovens e velhos se juntam para tomar em suas mãos a rédeas de sua sociedade e nesse contexto é natural que todo tipo de opinião lute pela supremacia até mesmo as estapafúrdias posições extremistas. Em Londres a revolta juvenil se alastra não pela luta pela liberdade, mas como a expressão de uma raiva, de um ressentimento.
Não vou fazer sociologia barata e dizer que é a expressão do rancor dos que sofrem com racismo e desemprego e o cerco da repressão por morarem em regiões com alta criminalidade e constantes entreveros com a polícia. Parece ser uma resposta para a crise adotada pela imprensa, contudo creio ser incompleta, no mínimo.
A crise e a revolta começaram em reação a morte de um jovem em uma nebulosa operação policial, mas rapidamente a natural e legitima indignação foram seqüestradas por elementos criminosos, vândalos e simplesmente ladrões. Ou alguém conhece um motivo legitimo para roubar lojas e casas de aposta, incendiar propriedades? Ok, sou capaz de imaginar que um altermundista ou um comunista revolucionário que por ventura venha parar nessa página irá concordar.
A revolta londrina por mais provinciana que seja nos dá duas importantes medidas a primeira é que fica patente que mesmo uma resposta firme de uma nação democrática sob a égide do rule of Law é decorosa, ainda mais quando comparamos com o brutal uso de força dos regimes autocráticos, fica forçoso comparar com a Síria, afinal ocorrem concomitantemente.
A outra medida é a ausência do primeiro-ministro David Cameron que estava de férias e só agora retorna. A ausência dele é ilustrativa de um fenômeno dos dias atuais, a falta de líderes mundiais que sejam verdadeiramente dignos de serem chamados de líderes.
Afinal, mesmo que fosse um pequeno tumulto local controlável rapidamente pelas forças policiais ele deveria estar em Londres para lidar com a rebordosa do rebaixamento da nota da dívida americana.
Não tenho viés anti-tory (como é conhecido o partido conservador que lidera a coalizão de governo), por sinal em muitas coisas simpatizo com as plataformas defendidas, mas não é possível que um líder valorize mais seu descanso do que o trabalho diante dele.
Temo que essa revolta seja difícil de ser contida e que ainda teremos noticias de vítimas fatais ou em confrontos com as forças de segurança ou vítima de turbas violentas e saqueadoras. E para deixar a coisa ainda mais confusa é bem provável que exista nesse bolo aspirações e demandas populares legitimas que farão analistas e entusiastas da “revolução” se colocarem ao lado das turbas, sem fazer o inglório esforço de separar joio do trigo.
A revolta se espalhou por Londres e outras cidades e será um importante teste para a segurança de um país que abrigará os Jogos Olímpicos de 2012 e é alvo preferencial de terroristas. Será importante observar os desenvolvimentos dessa crise, embora seja fácil antever que muito se dirá contra os conservadores, muito tentarão fazer ideologia e política com a crise. Afinal foi o que fizeram sem muito sucesso devo acrescentar quando a “Dama de Ferro” Margareth Thatcher governava o Reino Unido, nos anos de 1980.
É claro que poderia analisar esse tema a luz dos cortes no orçamento ou da crise econômica ou mesmo da xenofobia/imigração, mas como todo mundo está a fazer isso prefiro esperar e entender melhor a situação. A única coisa que tenho claro é que é preciso conter a violência, prender e julgar os criminosos e investigar as circunstancias em torno da morte que deu início a tudo.
Comentários
Sucesso!
;D