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Eleições no FMI

A prisão de Dominique Strauss-Kahn por uma suposta tentativa de estupro de uma camareira em um hotel em Nova Iorque provocou um corrida política pela sua sucessão a frente do Fundo Monetário Internacional – FMI. Isso para não falar do maremoto político que sua prisão significou na França onde ele liderava as pesquisas de intenção de voto para presidente.

Tradicionalmente e por questões de fungibilidade de poder o cargo de diretor-gerente do FMI é reservado a um nacional de algum país europeu (em tempos de guerra fria da Europa ocidental) enquanto o Banco Mundial fica com um nacional americano. E assim acontece por que esses são dois pólos importantes de poder real nas relações internacionais, ainda mais quando falamos de sistema financeiros, além desses pólos possuírem cotas importantes no capital da organização.

Nos últimos anos, notadamente desde a crise econômica de 2008, cujo efeitos ainda se fazem sentir até hoje, os países chamados de emergentes, isto é, aqueles em desenvolvimento que passaram a possuir peso econômico relevante no mundo passaram a demandar mais poder de decisão e um papel mais central na criação dos regimes internacionais econômico-financeiros. O ponto alto foi a criação do G-20 financeiro e de sua ascensão a lócus central para debate superando o G-8 (Grupo que reunia as 7 maiores economias do mundo mais a Rússia).

Esse papel dos emergentes e, sobretudo, do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China – agora com a África do Sul) foi bastante alardeado como sendo o movimento seminal da criação de uma nova governança global. Contudo, a coordenação política de grupos heterogêneos como os emergentes não é fácil, ainda mais por que tirando as relações com a China nenhum dos outros membros possuem laços fortes entre eles, ou seja, é muito mais difícil coordenar um grupo que não tem forças de atração e interesses comuns e contatos regulares.

Sempre que falo nesse tema sustento que é prematura apontar tanto a falência do atual regime que pode ser mais resiliente que muitos observadores imaginam, como a realidade da aliança e coordenação dos BRIC, claro também é prematuro apontar que nunca terão coesão interna, mas observando o momento é difícil ver esse grupo emergente agindo em bloco. O exemplo mais claro é que nem BRICS nem emergentes em sentido mais amplo reagiram a prisão de DSK concertando uma posição comum. E é uma ótima oportunidade de mostrar o poder desse grupo e seu compromisso com a mudança da governança do FMI.

O Brasil ao que tudo indica está propenso a votar na candidata francesa Christine Lagarde que é a atual ministra das finanças de Sarkosy, Christine tem sido bem atuante na questão da crise mundial, não discuto a credenciais dela, que por sinal é uma mulher intrigante e sempre bem solicita nas entrevistas, além de possuir uma elegância bastante européia no falar e se conduzir, além de seu impecável cabelo branco. O problema é que há um candidato mexicano. Isso levou muitos analistas a observarem finalmente a falta de coesão nos BRICS e alguns duvidam que existam, como grupo político.

Sobre isso comentou o diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida:

Existe, ao que parece, um candidato indiano. Existe um mexicano, de um país que é um emergente a mais de um título. Mas talvez o assunto das finanças internacionais e do sistema monetário seja um complicador a mais no conjunto de complicações que separam, na prática, as posições dos Brics entre eles. Não é que os Brics não existem, já que os fundos de investidores já decidiram seguir os quatro (agora cinco, com relutância) como oportunidades de investimento. Eles apenas não têm muito em comum, a despeito da inspiração e até da transpiração desenvolvida por certos líderes para provar o contrário. Os motivos para estarem juntos são peculiares e específicos a cada um.

É provável que a francesa seja a nova diretora-gerente do FMI e terá a sua frente as crises em Espanha, Grécia e Portugal para lidar, além de toda a polêmica em torno das taxas de câmbio da China. Não será um trabalho muito fácil.

Mais uma vez reitero aos leitores que freqüentam essa página uma advertência sejam sempre céticos das versões oficiais e das declarações de líderes políticos, usem a lógica e procurem a correspondência na prática. Por que se fossemos crer no que diziam líderes emergentes (e brasileiros) agora estaríamos a ver um candidato emergente único.

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