Ontem tanto no texto publicado aqui no blog como nos canais de interação nas redes sociais lancei um desafio aos meus leitores escreverem textos sobre o casamento real. Além do fomentar a interatividade o desafio visava, também, suprir os leitores desse blog com uma visão sobre as bodas menos cética (alguns diriam cínica). Em resposta a esse desafio a querida amiga e leitora Milena Sanches (que é a professora de literatura, sobretudo poesia desse blog) escreveu um excelente texto (em seu blog) que é construído com o olhar daquilo que podemos chamar de alma.
Todas as demonstrações de afeto são ridículas. Sejamos ridículos então
Por Milena Sanches*
Fui instada a discorrer acerca do Real Casamento Inglês ocorrido ontem. Contudo, desde o primeiro momento argui minha suspeição porque demonstrações de amor total publicas me comovem por me fazer (re)acreditar que sentimentos humanos nobres, e, dentre estes o amor, ainda existe, ainda que a realidade e os atuais comportamentos sociais teimem em descartá-los em nome do imediatismo dos interesses.
Assim, independente se os atores eram ou não nobres, o que importa, na verdade, é que havia mais que um protocolo ou ritual. Havia cumplicidade nos olhares, bem querer nos gestos e indubitavelmente amor. E lealdade. O mais importante, uma vez que, para mim, não existe um sem o outro.
É mister um sentimento muito maior para doar-se na louca tradição, principalmente num mundo em que virtudes deixam de ser exaltadas, e somente merecem destaque erros, gafes, deselegâncias, que muitas vezes sequer existem!E este sentimento maior não possui definição. É um coletivo de coragem, amor, doação, companheirismo.
Mostrar-se publicamente, assumir sentimentos implícitos em rituais é para poucos bravos que não temem aos demais, porque estão cheios um do outro, em complementariedade. O resto não importa.
Eu realmente acredito que exista sentimento assim, uma vez que é inerente ao ser humano, contudo, a minha descrença é depositada no ser que nega a sua natureza, e opta pela futilidade das sensações passageiras, numa eterna insatisfação, que cada vez mais possui adeptos, por bem ou por mal.
Pessoa escreveu que “todas as cartas de amor são ridículas”, desta forma, eu, numa interpretação livre, posso dizer que todas as demonstrações de afeto são ridículas, contudo, onde está escrito, em qual lei ou costume restou impresso que é proibido ser assim, pois para mim, “se não fossem ridículas” não seria uma demonstração de amor.
Compreendendo os noivos e suspirando pela felicidade alheia, não me arrependo de ser também ridícula e celebrar, com sorrisos por todo o dia, com uma sensação de leveza e bem estar na alma, o que hoje é quase inexistente, o amor e sua forma pública de manifestação…
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* Milena Sanches é advogada. Formada pela Universidade Federal Fluminense.
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