Desde a escolha de Antonio Patriota para ser o novo ministro das Relações Exteriores e da entrevista da então presidente-eleita Dilma Rousseff ao jornal Washington Post, que se especula sobre a mudança de rumos na política externa brasileira. O que se acentuou com a mudança com relação a política de Direitos Humanos, inclusive o chanceler Patriota chegou a convocar os embaixadores e funcionários graduados do MRE a apresentarem suas observações a cerca dessa política uma medida que é rara e foi interpretada como um gesto do Patriota de deferência a seus colegas mais antigos um recado da mudança no espírito da governança do ministério que seria mais aberto e participativo (em termos já que é uma carreira bem hierarquizada).
É seguro dizer que houve uma mudança no tom geral da diplomacia brasileira e muito disso é o fato de uma até aqui diminuição da diplomacia presidencial. E é claro que isso se deve ao fato de Dilma não ser Lula. Não sou louco (ou estúpido) a ponto de dizer que a forte diplomacia presidencial que vem sendo conduzida desde FHC desapareceu, houve sim um claro ajuste no tom.
Durante os oito anos da gestão Lula a Política Externa foi o ponto de grande atrito e algum desgaste para o governo. O próprio ex-chanceler Amorim chegou a reclamar publicamente disso algumas vezes, principalmente reclamando (como todos os petistas dessa terra) de alguma perseguição dos grandes veículos de imprensa em especial a escrita.
Ao mesmo tempo houve também grande apoio em torno das posturas “progressistas” (o termo foi apossado pelos militantes de esquerda) e de desafio ao poderio americano. E para muitos essa independência era vista como grande prova do sucesso da diplomacia lulista e sinal do avanço e do novo status da política externa brasileira e aproveitavam também para polarizar em torno desse tema. Acusando (inclusive a esse blogueiro) de “vira-lata”, “entreguista”, “elitista” e preconceituoso a quem tivesse uma visão diversa da incensada versão oficial. Como se não fosse legitimo a crítica e como se outros rumos tanto estratégicos como táticos não fossem possíveis.
Como coloquei mais acima muito se fala sobre as mudanças de rumo na PEB tanto durante o governo Lula como nesse inicial governo Dilma. Obama certa feita falou que mudar os rumos de uma política externa era como mudar a rota de um petroleiro, ou seja, algo lento e que tem que vencer muita inércia. Mas, é muito mais que isso por que não são só fatores de vontade de um líder e da burocracia especializada que determinam os rumos de uma política externa e sim fatores conjunturais e estruturais do próprio sistema internacional. Ou como colocou Paulo Roberto de Almeida (aqui):
“Toda política externa, ou toda política governamental, em geral, é feita de mudanças e continuidades. Talvez a política externa tenha bem mais continuidades do que mudanças, pela própria natureza do “negócio”: não se muda o sistema de relações internacionais, a política regional, as relações bilaterais e menos ainda a agenda de trabalho de grandes organismos internacionais da mesma forma ou com as mesmas “facilidades” com que se pode imprimir mudanças de direção, algumas até repentinas, no plano das políticas domésticas”.
O ex-chanceler Amorim, agora convertido a colunista da “Carta Capital” tem sido enfático (alguns até dizem deselegante) nas críticas as decisões do governo Dilma, principalmente no que diz respeito ao Irã e aos Direitos Humanos.
Muitos sugerem que essas críticas derivam de algum ressentimento por ele não ter sido escolhido para se manter a frente do MRE, ou por que ele estaria sentindo falta da ribalta. Não tenho conhecimento para avaliar o caráter do ex-ministro e ainda que esses sentimentos estejam presentes no Amorim (afinal, ele é humano) vejo algo mais nessas críticas.
A meu ver as críticas de Amorim que é filiado e entusiasta do partido do governo (PT) são motivadas por uma brilhante estratégia política (Gramsciana) de busca pela hegemonia. Assim, o partido passa a ditar a política e a crítica a essa política. Ou seja, a crítica passa a ser em termos tais que a própria política do partido seria a reposta. Em outras palavras a resposta para os supostos erros da política de Dilma não seriam as propostas da oposição e sim o retorno as políticas de Lula.
Assim, o partido passa a pautar seus críticos que passam a agir em seus termos assim a opinião do partido é vital para seus filiados e para seus críticos que passariam a se posicionar depois do partido. Visto por esse prisma começa a ficar claro por que Amorim se apressou a criticar o governo de maneira incisiva, mas bastante pontual. Ainda é uma hipótese em construção que eventualmente deverá ser testada, mas assim que percebo esse momento.
Comentários
Quanto a questão de direitos humanos, é esperar e ver. Não duvido de haver a projetos internos de lei "antigos" do PT de implementar uma "nova" PNDH. E claro, isso também influencia e muito na comunidade/sociedade internacional. Espera-se de tudo de petista. Tudo mesmo.
Parabéns pelo blog, muito bom.
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parabéns
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