A França hoje se tornou o primeiro país a reconhecer o Conselho Nacional Líbio (conselho que congrega os líderes da revolta Líbia) como o representante oficial daquela nação. E na imprensa se noticia inclusive a intenção de trocar embaixadores em breve. O reconhecimento foi tornado público em declaração conjunta com David Camerom que é o primeiro-ministro britânico.
Os últimos meses estão a ser difíceis para a diplomacia francesa os diplomatas profissionais, ou seja, aqueles oriundos dos quadros do Ministério das Relações Exteriores da França (conhecido como Quai d’Orsay) não escondem seu descontentamento com ao papel secundário dado ao ministério na formulação da política externa daquele país. De fato os descontentes chegaram a lançar um manifesto bastante crítico aos rumos franceses, esse grupo que se denominou “Grupo de Marly”.
Dias depois do lançamento desse embaraçoso manifesto publico eclodiu o escândalo que fez com que a ministra das relações exteriores Michèle Alliot-Marie pedisse demissão de seu cargo. O escândalo consiste nas ligações intimas que a ministra e sua família mantiveram com o regime do ditador deposto da Tunísia Ben Ali.
Outra acusação que paira sobre a política externa de Sarkosy é de que ele teria tomado uma guinada favorável aos EUA. E isso é interessante por que certa cepa de observador e “analistas” tendem a ver o bloco ocidental como um ente monolítico e submisso a Washington.
Esse gesto ousado de Sarkosy parece ser construído para no front interno acalmar e valorizar os diplomatas que não esconderam em seu manifesto críticas ao apoio a déspotas no Norte da África e buscar o protagonismo no âmbito europeu. Parece-me ser uma tentativa francesa de ficar a frente dos acontecimentos e marcar claramente uma posição. Evitando a postura vacilante que se viu no Egito e na Tunísia. Também é uma forma de pressionar os EUA diante de um Obama atônito com a situação e temeroso de envolver-se em um conflito.
O ato é arriscado por que a essa altura nada garante que haverá um desfecho favorável aos revoltosos, afinal Kadahfi possui uma base de apoio ainda considerável e as tropas leais parecem mais bem equipados e treinados que as forças rebeldes. O uso de condicionais nessa frase já deixa claro que é difícil conseguir informações precisas sobre a atual conjuntura e correlação de forças no Líbio. Nesse cenário é difícil tecer uma análise estratégica mais ampla sobre o gesto francês, que pode ser prematura e, portanto temerário. Nesse sentido o secretário alemão de Relações Exteriores, Werner Hoyer declarou: “Considero que a situação é ainda muito confusa para saber como proceder”.
Será interessante observar a reação líbia a esse ato de Sarkosy. Digo a reação real não às declarações de contrariedade e nem as ameaças de revelações bombásticas. Interessante também será observar a reação da diplomacia da UE chefiada por Cathy Ashton que está sem dúvidas a reboque dos acontecimentos, mas quem não está?
Tempos interessantes para um analista... Tempos interessantes. E por isso mesmo tempos atribulados.
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