Há fenômenos curiosos na relação pessoal entre líderes mundiais. Ou alguém apenas olhando ideologias partidárias, história de vida e retórica em política interna seria capaz de antecipar a notória simpatia pessoal entre Lula e George W. Bush?
Os dois líderes não obstante lados opostos no espectro político tinham bom trato pessoal. Os mais maldosos poderiam dizer que isso advinha de serem os dois um tanto simplórios. Não compro essa tese ninguém chega ao cargo que eles ocuparam sem uma grande dose de habilidade e sabedoria política (no caso de jogar o jogo político).
Esse fato de certo deve ter sido bem capitalizado pelos responsáveis pela política externa dos dois países para limitar danos de conflitos de interesse naturais e alguns desnecessários.
Contudo, é quase consenso entre os analistas que as relações entre Brasil e EUA se deterioraram mais agudamente desde que Obama assumiu vis-à-vis Honduras e mais ainda Irã. A isso se soma o óbvio antiamericanismo de alguns dos mais proeminentes nomes da formulação de política externa do Brasil que foi relatado em comunicações diplomáticas vazadas pelo site wikileaks.
Pois bem a avaliação inicial é que a viagem de Obama ao Brasil é parte da política para a América Latina que visaria minimizar a influência bolivariana, reconhecer a liderança regional do Brasil e reforçar os laços com os países da região que são mais próximos a Washington. Nesse sentido reconhecer a liderança brasileira é também esperar que o Brasil tenha um engajamento maior na região e seja um ente estabilizador e isso se coaduna ao nosso interesse nacional, é bom destacar.
Da parte do novo governo do Brasil esse tenta – apesar de ter mantido algumas das figuras mais antiamericanas – se livrar da pecha de antiamericanismo e tenta reforçar a imagem de um bom relacionamento e talvez por isso tenha aquiescido ao pedido de Obama para discursar em público no Rio de Janeiro, o discurso foi cancelado e imagino que tenha sido pela situação internacional e pela dificuldade que seria fazer a segurança desse evento.
Muitos me acusam (esse é o tom que usam) de ser “americanófilo”, por que sempre critiquei o que chamo de política adolescente isto ser contra apenas para rebelar-se. A verdade é que eu considero que uma política externa executada pelo Brasil deve servir ao Brasil e não ser um passo que apenas sirva aos desígnios ideológicos do partido no poder momentaneamente.
E não posso deixar de pensar que a permissão dada para um discurso público de Obama tenha sido feita para provar que o novo governo não é antiamericano, ou seja, mais uma vez a política seria decidida com os EUA como fator de decisão e não o próprio interesse nacional.
Há é claro outra possibilidade que talvez seja mais benévola para o governo, ou seja, o discurso seria parte do plano para divulgar o Rio de Janeiro como a sede olímpica e dando a essa cidade veiculação positiva na imprensa mundial, como sendo o lócus de um dos sempre grandiloqüentes discursos de Obama.
Mesmo que os motivos tenham sido esses é muito estranho que um líder político estrangeiro faça um discurso público ao estilo de comício em solo brasileiro, entendam se a situação fosse extraordinária eu não teria esse estranhamento. Se o Brasil estivesse dependendo do apoio dos EUA e esse fosse um aliado vital numa situação perigosa seria muito bem vindo o ato público como símbolo dessa aliança – como foram os discursos de Kennedy e Reagan em Berlin, durante os anos da Guerra Fria. Em tempos normais como o que vivemos é mais apropriado que Obama em querendo falar ao povo brasileiro o fizesse como convidado no Congresso Nacional, por exemplo. Ou mesmo em uma Universidade, ou no teatro como decidiu fazer.
Não é uma questão de nacionalismo ou contra o fato de ser um presidente americano é uma questão de decoro – embora, depois de permitir que Zelaya fizesse política ‘hospedado’ em nossa Embaixada em Tegucigalpa como dizem os americanos this ship has sailed.
Muito mais interessante que tudo isso será ver como Dilma se sairá.
Comentários