Hoje teve inicio mais uma reunião dos ministros da fazenda (ou economia) e presidentes de bancos centrais do G-20 financeiro em Paris, França. É preciso frisar que se trata do G-20 financeiro, ou seja, G7 mais economias emergentes principais. Isso por que pode haver alguma confusão com outro G-20 que existe no âmbito da OMC que reúne membros em comum – não todos – e tem objetivos completamente distintos.
O real escopo dessa reunião deve transparecer em comunicado final e mostrará o grau de consenso que pode ser alcançado dentro desse heterogêneo grupo de Estados. A agenda do encontro é ambiciosa e talvez a mais ambiciosa meta seja criar indicadores que sirvam de alerta para novas crises. Os indicadores propostos para formarem o tal índice de desequilíbrio incluem saldo da conta corrente, taxas de câmbio reais, reservas internacionais, dívida pública e poupança privada.
Há ainda a questão da inflação global que é mais sentida no delicado mercado de produtos alimentares. Forças poderosas que podem ser responsabilizadas por esse fenômeno como a demanda de uma crescente classe média nos países emergentes, a liquidez provocada pelas medidas de combate à crise nos EUA, fatores climáticos, protecionismo que além de distorcer os preços afeta a decisão dos agentes econômicos em alocar recursos na produção de alimentos.
É pouco provável que os esforços (ou apenas discurso) liderados pela França (aquela mesmo líder no protecionismo e subsídio agrícola) de combate a suposta especulação nos preços agrícolas encontre muito eco nessa reunião além do apoio retórico. E já provocaram até alguma polêmica entre o Brasil e a França que levaram Guido Mantega a se pronunciar muito acertadamente, devo acrescentar em favor do livre comércio de commodities.
Os desafios são grandes em várias frentes, como bem ilustra essa reportagem do portal português SAPO:
Os ministros das Finanças do G20 vão hoje e amanhã em Paris escolher uma ‘short-list' de indicadores de referência como primeiro passo para, de forma coordenada, poder responder aos grandes desequilíbrios macroeconómicos globais. É um passo modesto com boas perspectivas de êxito, mas a opção da ministra de finanças francesa, Christine Lagarde, para a reunião deste fim-de-semana com os seus congéneres mundiais, é adiar para os próximos meses os assuntos mais espinhosos, nomeadamente fixar metas quantificadas para reequilibrar a economia mundial.
“A China exporta e poupa, a Europa consome e os Estados Unidos imprimem dinheiro para consumir”, descreve Lagarde, no que considera um modelo condenado ao “colapso”. Este desequilíbrio global sofreu uma ligeira correcção no pico da crise mas agora que a retoma se consolida na economia mundial, o desajuste volta a produzir-se e “isto não pode continuar durante muito tempo”.
Há a proposta, também francesa, sobre regras e limites para reservas internacionais que com certeza encontrarão resistências no Brasil. Afinal o governo e o partido do governo muito se orgulham dessas reservas.
É bom que se tenha em mente que a França ocupa atualmente a presidência do G-20 por isso sua grande influência na formação da agenda do encontro.
O G-20 é visto por muitos como o embrião de uma ordem mundial mais multipolar e as dificuldades de concertação desse grupo dá mostras de como será difícil a tarefa de criar regimes internacionais que possam dar governança aos assuntos globais.
Claro que sem os documentos e os debates tudo que vai acima ganha um ar de elucubração ou mesmo especulação pura e simples, assim volto ao tema quando documentos estiverem disponíveis.
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