Pelo terceiro dia seguido manifestantes desafiaram a repressão do governo egípcio liderado há 30 anos por Hosni Mubarak. Nem mesmo a escalada da violência da repressão e a tentativa de bloqueio das redes sociais arrefecem os ânimos dos manifestantes. Contudo, diferentemente da Tunísia o Egito é um parceiro estratégico importante dos EUA e peça fundamental no equilíbrio do Norte da África e do Oriente Médio.
O peso do Egito na estratégia americana na região pode ser percebido pelo fato de ser o quarto maior receptor de ajuda militar dos EUA, não por menos o “histórico” discurso de Barack Obama buscando uma melhora da imagem dos EUA entre os mulçumanos foi proferido no Cairo. Por conta desse fator o Egito não é sacrificável como a Tunísia.
Contudo, esse imperativo estratégico de manter um regime favorável se choca com o muito alardeado desejo de promoção da democracia no mundo e no Oriente Médio. O que cria um difícil cenário em que o silêncio, que tão bem serviu o Departamento de Estado durante a queda do regime tunisiano não é uma opção viável. Como bem colocou Shadi Hamid, em seu artigo “After Tunisia: Obama's Impossible Dilemma in Egypt”, na prestigiada revista The Atlantic:
The U.S. can opt for relative silence, as it did in Tunisia. In Egypt, however, deep support of the Mubarak regime means that silence will be interpreted as complicity. On the other hand, if the U.S. offers moral support to embattled protestors, it will be actively undermining a government it considers critical to its security interests. Tunisia, as far as U.S. interests are concerned, was expendable. The revolt was spontaneous and leaderless. Islamists - mostly in prison or in London - were nowhere to be seen on the streets of Tunis or Sidi Bouzid. But if Egypt is lost, it will be lost to an uprising that includes some of the most anti-American opposition groups in the region, including the Muslim Brotherhood - by far the largest opposition force in the country.
The U.S. is - at least in the short term - stuck.
No momento o regime de Mubarak permanece estável e conta com o suporte dos militares (bem pagos, por sinal), mas essa situação pode mudar caso as manifestações se intensificarem e caso a oposição consiga angariar um apoio mais amplo na sociedade. E é nesse ponto que estão os fatores que podem desequilibra o balanço estratégico da região. Isso por que a no seio da sociedade egípcia uma ala bastante radical representada pela Irmandade Mulçumana. Ou seja, caso Mubarak caia há uma possibilidade real de que o país se torne essencialmente anti-ocidental. O que obviamente complica a ação americana e aumenta a insegurança de Israel.
Capitalizando os protestos retornou hoje ao Egito o líder oposicionista, prêmio Nobel da paz e ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, Mohamend ElBaradei. ElBaradei ficou conhecido por suas ações a frente da AIEA durante os meses anteriores da invasão dos EUA no Iraque.
Há dúvidas se ElBaradei possuí suficiente influência para se tornar um nome forte e viável numa eventual mudança de regime, ainda assim, ele se torna uma nome interessante do ponto de vista ocidental.
Protestos massivos são convocados para essa sexta-feira (28/01) e a tensão na região é palpável, como as imagens mostram. Relatos da rede CNN dão conta de que não há conectividade via Internet e SMS.
Sem dúvidas há muito em jogo e os próximos passos serão decisivos não só por parte do regime egípcio e dos manifestantes, mas como também nas potências que possuem interesses estratégicos na região. Essa crise pode ser o maior teste de política externa para Obama e Clinton.
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