Dia 15 de janeiro de 1929 nascia em Atlanta, Geórgia nos Estados Unidos Martin Luther King Jr. Um nome que em nossos dias imediatamente no leva a luta pela igualdade e por respeito. Ainda que eu nutra um ceticismo quanto a figuras históricas cultuadas não sou imune as simpatias eletivas e Dr. King é uma figura que me fascina. Ainda que eu tenha algumas divergências com o que pensava politicamente, sua luta pela igualdade era justa.
Martin Luther King Jr era além de líder comunitário e ativista político um homem de fé, um pastor protestante que mesmo sendo altamente pragmático em sua luta política nunca esqueceu a grandeza de seu chamado transcendente. É sem dúvidas um exemplo para todos os cristãos que é possível conciliar uma ação política firme com os preceitos da fé.
Uma coisa que sempre me chamou atenção na história dele foi sua extrema coragem e calma para não ceder ao ódio, mas não abrir mão de sua raiva. Sempre instigou a revolta, nunca a violência. E talvez essa tenha sido sua maior sabedoria política ao resistir pacificamente, mas não ser dócil. Arrisco dizer que essa visão pacífica deriva de sua responsabilidade como pastor.
É claro que havia outros que pregavam um caminho mais agressivo, que queriam muito mais que reformar uma sociedade ou transformá-la completamente queriam revolucionar. E dado o clima político global da época com a URSS e EUA instigando revoltas e revoluções por toda parte era natural que existissem os mais alterados. Afinal, o terrível e violento ato da discriminação marca profundamente discriminado e discriminador, sem com isso querer dizer que se deva transigir com o segundo.
Hoje é feriado em nome do Dr. King nos EUA e por isso aproveito para fazer essa já anual homenagem. Entre os muitos discursos do líder o meu favorito é seu último intitulado “Eu estive no topo da montanha”, proferido em Menphis, Tennessee, 3 de abril de 1968. Abaixo copio minha postagem de 15 de janeiro de 2010, dedicada – como essa – a Martin Luther King Jr. Que contém trechos traduzidos do discurso já que o vídeo abaixo está inglês.
Um dia após esse discurso Martin Luther King Jr, foi assassinado na varanda de um hotel o que reforçou o ar premonitório de suas palavras que dão mostra da coragem de um homem quando inspirado por sua fé e consciente de que trava uma luta justa.
Reproduzo abaixo trechos de meu discurso preferido desse líder, proferido em 3 de abril de 1968, um dia antes de seu assassinato no templo Bispo Charles Mason, em Memphis, Tennesse, o discurso é intitulado: "I've Been to the Mountaintop". Recomendo ouvir o original em inglês na voz do próprio. A versão que transcrevo foi retirada do livro: Os melhores discursos de Martin Luther King: Um apelo à consciência. Organizado por Clayborne Carson e Kris Shepard, com tradução de Sérgio Lopes. Jorge Zahar Ed.
“[...] E agradeço a Deus, mais uma vez, por me permitir estar aqui com vocês. Vocês sabem que há alguns anos eu estava na cidade de Nova York, autografando o primeiro livro que escrevi. E, quando autografava, apareceu uma mulher negra com problemas mentais. A única pergunta que ela me faz foi: “O senhor é Martin Luther King?”. Enquanto escrevia, de cabeça baixa, eu disse que sim.
No minuto seguinte, senti algo atingir o meu peito. Antes que eu pudesse perceber, havia sido esfaqueado por essa mulher desequilibrada. Fui levado às pressas para o Hospital Harlem. Era uma escura tarde de sábado. A lâmina penetrara fundo, e a radiografia revelara que sua extremidade quase tocara a aorta, a artéria principal. Se a lâmina a perfurasse, eu me afogaria em meu próprio sangue; seria o meu fim. Na manhã seguinte, deu no New York Times que, se eu tivesse espirado, teria morrido.
Bom, cerca de quatro dias depois, permitiram-me, depois da operação, depois que meu peito fora aberto e a lâmina fora retirada, circular pelo hospital em uma cadeira de rodas. Permitiram-me ler um pouco de correspondência enviada para mim. De todos os estados e todo o mundo chegavam cartas gentis. Li algumas, mas uma jamais esquecerei. Recebi uma do presidente e do vice-presidente, mas esqueci o que esses telegramas diziam. Recebi uma visita e uma carta do governador de Nova York, mas também esqueci o que dizia.
Mas, houve uma carta, enviada por uma menina, uma menina de 10 anos que estudava em White Plains High School. Li essa carta e jamais a esquecerei. Ela simplesmente dizia: “Querido Dr. King: Sou aluna de White Plains High School. Embora não devesse importar, queria mencionar que sou uma menina branca. Li no jornal sobre o seu infortúnio e o seu sofrimento. E li que, se o senhor tivesse espirrado, teria morrido. Escrevo simplesmente para lhe dizer que estou muito feliz que o senhor não tenha espirrado”.
E quero dizer nesta noite, quero dizer que estou feliz que eu não tenha espirrado. Pois, se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1960, quando os estudantes de todo o sul começaram os sit-ins nos balcões de lanchonetes. E sei que quando eles se sentavam, eles na realidade se punham de pé. Em nome do que há de melhor no sonho americano, e levavam toda a não de volta aos grandes poços da democracia que foram escavados profundamente pelos Pais Fundadores na Declaração da Independência e na Constituição.
Se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1961, quando decidimos viajar pela liberdade e pôr fim à segregação nos transportes interestaduais.
Se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1962, quando os negros de Albany, Geórgia, decidiram levantar a cabeça. E, sempre que homens e mulheres ficam de pé, eles vão a algum lugar, pois ninguém poderá montar-lhes as costas a menos que se curvem.
Se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1963, quando a população negra de Birminghan, Alabama, despertou a consciência desta nação e trouxe à luz a Lei dos Direitos Civis.
Se eu tivesse espirrado, não teria tido a chance de, em agosto do ano seguinte, tentar contar à América um sonho que eu tivera.
Se eu tivesse espirrado, não teria testemunhado o grandioso movimento de Selma, Alabama.
Se eu tivesse espirrado, não teria vindo a Memphis para ver a comunidade se mobilizar em nome de seus irmãos e irmãs que sofrem. Estou muito feliz de não ter espirrado.
E eles me diziam: agora não tem importância. Realmente agora não tem importância. Deixei Atlanta esta manhã, e, quando embarcamos no avião, o piloto disse no sistema de som: “Lamentamos o atraso, mas temos o senhor Martin Luther King a bordo. E para ter certeza que todas as malas fossem revistadas e para ter certeza de que nada sairia errado, checamos tudo com cuidado. E o avião esteve sob proteção policial toda a noite.”
Então cheguei a Memphis e começaram a me falar das ameaças ou comentar as ameaças que vieram à tona. O que poderiam me fazer alguns de nossos doentes irmãos brancos?
Bem, não sei o que acontecerá agora. Dias difíceis virão (Amém). Mas não me importo. Pois eu estive no topo da montanha (sim). E não me importo. Como qualquer pessoa, gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem o seu lugar. Mas não me preocupo com isso agora. Apenas desejo obedecer aos desígnios de Deus (sim). E ele me levou ao topo da montanha, olhei ao redor e contemplei a Terra Prometida. Posso não alcançá-la, mas quero que saibam, que nós, como povo, chegaremos à Terra Prometida. Estou tão feliz; não me importo com nada; não temo homem algum. Meus olhos viram a glória da presença do Senhor.” [Grifo meu]
Comentários
A vida dessas pessoas que não passaram em branco pela Terra fica de alerta e exemplo.
Abraços
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