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Egito: Mubarak has to go

A frase é cada vez mais comum nas entrevistas feitas com manifestantes nas ruas do Egito, não importa qual grande rede você esteja assistindo. A situação parece ser cada vez mais insustentável para o ditador. O Exército egípcio está nas ruas, mas já se manifestou que não intervirá se as manifestações forem pacíficas. E ainda qualificou como legitimas as aspirações do povo.

Nos últimos dias tenho dedicado – como todos os interessados e estudiosos das relações internacionais – muito tempo a me informar sobre os acontecimentos e a refletir nas implicações e desdobramentos desses acontecimentos.

Parece a essa altura uma questão de tempo antes que o regime caia e o cenário mais provável é que os militares sejam os vetores dessa queda, é claro que o Exército não é uma instituição monolítica e provavelmente devem estar a ocorrer animados debates entre oficiais leais a Mubarak, outros inclinados a uma mudança democrática, outros inclinados a eles mesmos assumirem o poder e trazer estabilidade e ordem e outros devem, provavelmente, advogar por um governo islamista.

Há a possibilidade de uma saída controlada para a crise, com convocação de eleições livres. Contudo, isso não implica no surgimento de uma democracia no Egito. E essa eleição pode bem ser apenas um estágio de fachada para que uma nova tomada de poder ocorra e que se instale um regime tão repressivo como o atual. Pessoalmente eu gostaria muito de acreditar que a simples retirada de Mubarak fosse suficiente para que uma democracia funcional se instale. Mas, acho que isso é na melhor das hipóteses wishful thinking. E não importa que governo se forme depois disso será com certeza um governo mais hostil aos EUA e a Israel que o atual, por que o povo da região demanda isso.

O “Ocidente” francamente desconfia da Irmandade Mulçumana, ainda que especialistas consagrados como Fawaz Gerges, asseverem que a Irmandade se tornou um grupo que renuncia a violência e ao terrorismo. Não é só essa a questão geopoliticamente analisando afinal quem controla o Egito, controla o Canal de Suez, portanto controla grande parte do trafego de navios petroleiros e um regime hostil ao ocidente pode proibir navios de passarem por lá, ou aumentar as taxas.

Não imagino que nem mesmo um virtual governo islamista radical teocrático vá repetir Nasser e se aventurar em uma guerra com Israel, mas pode muito bem facilitar ataques e contrabando pelas fronteiras. E na questão interna um governo desse tipo pode impor um tipo de sociedade que oprimirá ainda mais os jovens que se manifestam tão vigorosamente por liberdade (e não deixo de torcer para que consigam).

A situação da vida cotidiana está difícil para a população bancos continuam fechados e as pessoas começam a ficar sem veículo e muitas lojas não abrem e as que abrem estão racionando a venda de víveres. O que parece ser um teste para a determinação do povo em derrubar Mubarak, mas ao julgar pelas vozes da rua.Mubarak has to go

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