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E o Egito continua tenso

A multidão continua a se reunir solenemente ignorando o toque de recolher anunciado (mas não imposto aparentemente) pelo regime de Mubarak. Nesse momento que escrevo se estima que 200.000 pessoas estão reunidas na bela praça Tahrir. E acabaram de ouvir as palavras de um dos que querem despontar como liderança, falo é claro do ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, Mohammed ElBaradei, laureado com o prêmio Nobel da Paz em 2005.

A Coalizão Nacional pela Mudança nomeou ElBaradei para negociar com o governo termos para uma saída ordenada, como reporta o portal G1:
Após a confirmação, ElBaradei disse que o presidente Hosni Mubarak deve deixar o cargo neste domingo para abrir caminho para um governo de unidade nacional em uma eleição "livre" e "justa". ElBaradei disse também que a política dos Estado Unidos no Egito está perdendo a credibilidade.
A fuga de milhares de prisioneiros, a ausência da presença ostensiva da polícia nas ruas, elementos exaltados, criminosos oportunistas e agentes do regime se juntam para criar uma situação de muita insegurança para a população das cidades egípcias. E muitos relatos de pessoas se organizando para defender suas famílias e propriedades não param de surgir na imprensa.


Há claro muito boato e muita informação desencontrada, mas é certo que muitos estejam feridos e muitos tenham sido mortos pelas forças de segurança. A meu ver boa parte desse caos provocado pelo vácuo de poder deixado pelo desaparecimento repentino da política é deliberado para mostrar a necessidade do regime como força estabilizadora da vida cotidiana. Afinal, Estados Policiais costumam não só oprimir as liberdades individuais, mas também são duros com a criminalidade comum.

Uma evidência disso é o fato do Exercito que está nas ruas não esteja se empenhando em patrulhar as ruas, até mesmo o Museu do Cairo foi atacado. E há grande possibilidade de vários desses atos terem sido efetuados por agentes policiais a paisana, que ainda atuam nas ruas.

Por outro lado os militares têm atuado para conter policiais exaltados o que reforça a sua imagem como força estabilizadora e patriótica, o que aumenta o prestigio dessa força e deixa a opção de uma tomada de poder pelo militares aberta e não só aberta como de certo modo não seria muito contestada por conta do prestigio.

O papel dos militares será importante para evitar que o país caia no caos completo em caso de queda brusca do regime. E talvez possam também contrabalançar a influência que elementos mais radicais possam ganhar no desenrolar dos acontecimentos. O que parece cada vez mais claro é que será muito difícil, se não impossível para Mubarak, manter o seu poder.

Contudo, como eu já disse antes analisar relações internacionais no calor dos eventos é problemático e difícil de ler corretamente a situação, por conta da dificuldade de acesso a informações. 

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