Novamente abro espaço nesse blog para responder dúvidas sobre relações internacionais que me chegam via e-mail. Como sempre transcreverei trechos dos e-mails resguardando a identidade de meus correspondentes. Essa semana o tema da consulta é a clássica questão sobre empregabilidade em sua encarnação sobre campos de atuação.
Abaixo transcrevo o e-mail da forma como me chegou, claro omitindo informações pessoais:
Bom ano que vem começo meu curso de RI [...] e depois de muito tempo pesquisando, conversando com gente da area, e aliando o meu gosto em facilidade de aprendizado em Historia, Geopolitica, Politica, Idiomas, e outras areas relacionadas, surgiram umas duvidas agora depois de dar uma olhada a esse topico..primeiro se refere as linguas, tenho fluencia no ingles, e um espanhol de nivel intermediario graças a um curso internsivo em Madrid durante as ferias, e a 3 lingua como vi aqui é algo inevitavel, entao minha duvida seria se eu curso a 3 lingua que no caso seria o frances ou o italiano, junto do espanhol, ou espero terminar o espanhol para nao confundir muito ou algo do tipo..
Realmente línguas são importantes eu falo apenas três incluindo a bela e inculta (a língua portuguesa para quem não for conhecedor da poesia). Assim, não falo uma terceira língua estrangeira e por mais que seja doloroso admitir não falo essa terceira por absoluta preguiça de iniciar um novo curso de línguas, mas quem sabe ano que vem?
Eu repito o que digo em fóruns e aqui mesmo quanto mais línguas, melhor. Agora qual será essa língua é algo que você e apenas você terá que resolver, contudo dado a segunda parte de sua pergunta (que transcrevo abaixo) eu recomendaria que você pensasse em estudar Árabe.
e a outra duvida se diz referente a area de atuacao apos a faculdade, minha maior vontade no momento seria uma area de gestao de conflitos, seguranca internacional e essas coisas relacionadas, o que seria necessario para um estudo pos a faculdade para se chegar nessas areas? um mba muito bom, ou algo do tipo? ou tambem me veria intermediando negociacoes entre empresas, coisas do tipo voltado ao marketing [...].
Bom, primeiro eu tenho que lhe dizer e sem nenhum intento de roubar-lhe um sonho, mas essa opção de carreira em gestão de conflitos (que imagino seja mediação o que você tenha querido dizer) é algo muito difícil. Isto por que é algo que necessita de muito preparo e geralmente é uma atividade feita por diplomatas ou funcionários de Organizações Intergovernamentais Internacionais (ONU, OEA, UE, UA, etc.) e em menor escala por Organizações Não-Governamentais. Mas, independe do que for será preciso ter um avançado domínio das relações internacionais e experiência negociadora. Creio não ser necessário explicar que essa experiência é cumulativa e terá que ser construída ao longo de uma carreira, afinal quem confiaria a vida de soldados e inocentes nas mãos de um novato? Assim, você deve procurar se for esse mesmo seu objetivo ter uma sólida formação intelectual com mestrados, doutorados, Ph.D, essa formação facilitará que você encontre emprego em organizações internacionais, ou se torne um diplomata.
De todo jeito é certo que não será uma jornada fácil e você chegará a esse ponto bem mais na frente o que pode ser um suplicio para a geração Y, que é o termo que os especialistas de RH usam para definir a nossa (?) geração.
Segurança Internacional é outro caso, contudo não menos difícil. Há firmas de segurança (algumas de mercenários) que atuam em zonas de conflito e avaliando riscos para altos executivos e celebridades em viagens, coisas desse tipo, além de lidar com problemas de segurança para grandes empresas. Há espaço nessas empresas para pessoas de relações internacionais, ainda que seja notório que eles prefiram pessoas com experiência militar ou policial. Segurança é também um campo de estudo, que por sinal é fascinante como atividade acadêmica e se a tendência de valorização da defesa se mantiver no Brasil pode crescer muito no futuro próximo. Também exige alto grau de especialização.
A área empresarial é fascinante, eu pelo menos acho fascinante e negociar é uma das principais características de um bom profissional de relações internacionais. Tenho um texto muito conhecido intitulado “Por que contratar um bacharel em relações internacionais?” que trata bem disso, e por isso recomendo a leitura desse texto. Não só esse como todos que estão nas tags “Dúvidas de leitores” e “empregabilidade”. Não é uma leitura muito puxada ainda mais quando contraposta a quantidade de leitura de um estudante de relações internacionais e/ou de um profissional.
Farei aqui uma recomendação que vez ou outra me vejo compelido a fazer quanto ao uso da linguagem. No campo das relações internacionais é preciso se comunicar muito e muito bem. Claro que a desenvoltura nas comunicações escritas é melhorada nos anos universitários afinal de contas entramos na universidade para aprender. Eu entendo que o texto foi feito de maneira descontraída e coloquial, contudo é chegada a hora de praticar uma escrita mais madura o que não significa formalismos exagerados e rebuscamento fora de lugar.
Deixo aqui meus sinceros desejos de sucesso em suas metas e que em alguns anos sejamos colegas de profissão.
Comentários
Eu o aconselharia levar o curso de RI como pós se ele quiser o mercado. Ou ser diplomata.
Sinceramente, no mundo o Inglês é a língua que funciona. Conheço muito bem 9 países. Inglês é a língua mais importante. Todos falam inglês. Saber Francês é mais importante que Espanhol também. O Mercosul só existe no papel e no passaporte. Claro, estou exagerando!
O Itamaraty tem status, mas profissionalmente é frustrante para boa parte dos profissionais. Conheço pessoas mais felizes em outras áreas.