Continuando a série retrospectiva “12 meses em 12 textos”. Setembro Foi o mês da crise no Equador que muitos apressadamente classificaram como golpe. A situação institucional foi grave afinal se tratou de uma insurreição da polícia que chegou a por a vida do presidente Correa em risco.
Não pude deixar de selecionar um texto sobre essa crise, que foi originalmente publicado em 30 de setembro, aqui.
Crise no Equador – III (golpe?)
A gravíssima crise equatoriana desencadeada pela reação da polícia de alguns militares a “Ley de Servicio Civil y Carrera Administrativa” continua a assolar a população desse país. Aumentam os relatos sobre a violência e a desordem por parte daqueles que deveriam ser os guardiões da sociedade. A situação é de fato grave, mas ainda não há indícios de que se trate de um golpe.
De acordo com entrevista do presidente da Associação Equatoriana de Rádio não se trata de um golpe como ele explícita em entrevista ao portal UOL em que diz: “A declaração do presidente afirmando que a oposição quer dar um golpe de Estado não é correta. Na minha visão isso não é um golpe de Estado, pelo menos, não articulado pela oposição política. É uma reclamação da polícia, que pela importância de sua função, colocou todo o país em perigo”.
O governo parece apostar que classificar o incidente como tentativa de golpe pode galvanizar apoios internos e externos que pressionem os grupos em greve para que recuem de sua posição, que no momento é bastante radicalizada. O movimento tem uma base bastante real de reclamação que é a alteração proposta no plano de carreira dos policiais e militares.
É claro que os cálculos políticos do governo levavam em conta que a natureza da matéria geraria desconforto e reação por parte dos militares e policiais, contudo a veemência e violência da reação pode ter sido surpreendente.
Enquanto os líderes políticos reagem a insurreição desses policiais grevistas, a população civil sofre os impactos da falta de segurança. Como pode ser lido no relato feito pelo colega internacionalista Luís Felipe Kitamura em seu texto: “Post Especial: Quando a estupidez tenta vencer a sensatez”. Nesse relato o autor dá conta das impressões que teve nesse dia tumultuado em Quito. Narra a baderna em muitas das vias da cidade e na belíssima Praça Grande (onde se localiza o palácio presidencial, em suas cercanias há uma belíssima catedral, mas creio que isso não vem ao caso) bem como a movimentação da população civil.
Aliás, o previsível confronto entre grevistas e civis resultou em violência com uma morte já confirmada. E apesar dos pedidos de calma que a imprensa local está a transmitir a declaração de Correa que está “seqüestrado” no hospital é tanto grave do ponto de vista institucional, quanto social. Isso por que esse fato pode inflamar os apoiadores de Correa o que geraria mais violência. Ou então desencadear um confronto entre os grevistas e tropas leais.
Ainda não há, como já escrevi nos demais posts dessa série, elementos para afirmar categoricamente que houve uma tentativa de golpe, também não há elementos para provar que não houve. Resta-nos avaliar a situação com calma e serenidade a situação. Até aqui todos os elementos parecem apontar para uma greve das forças de segurança o que enfraquece as historicamente combalidas instituições equatorianas.
Reitero aqui que é preciso discernimento na análise de assunto “quente” as primeiras impressões que se tem podem não ser corroboradas pelos fatos, daí a dificuldade de forma posição. A não ser as mais genéricas de apoio a democracia e de repreensão aos supostos golpistas.
Os riscos são grandes para o Equador primeiro por que mesmo a greve não tendo a intenção de mudança de regime e sim de manutenção de interesses corporativos ela tem potencial para gerar tamanho caos que pode resultar num rompimento institucional. E por que mesmo sendo superada essa crise suas conseqüências podem colocar o Equador numa rota de polarização extrema. Ainda há a possibilidade (um pouco mais remota) de que grupos radicais aproveitem o clima para lançar possíveis agendas golpistas. Isso se não levarmos em conta avanços externos tanto do chavismo como do “império” que caso existam seriam deletérios para o povo equatoriano. Por sinal os bolivarianos como previsto já começaram a acusar os EUA (é realmente previsível).
Termino exprimindo meus desejos que essa “rebelião” não termine em um banho de sangue e que meus amigos no Equador estejam em paz, junto aos seus familiares e sem correr riscos. Contudo, a situação continua tensa, deverás tensa. Que Deus espalhe a parcimônia e bom senso nas terras latinas e em todo mundo.
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