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12 meses em 12 textos: Mês de Fevereiro

Continuando nossa série retrospectiva “12 meses em 12 textos”. Fevereiro foi um mês atípico de poucas postagens no blog Coisas Internacionais. Sem dúvida o mês foi marcado pelo desastroso terremoto no Chile ao fim do mês, mas também foi o mês dos jogos olímpicos de inverno, que tiveram como sede a bela Vancouver, no Canadá. O texto que selecionei fala sobre algumas polêmicas que marcaram o evento. O texto foi publicado no dia 27 de fevereiro, aqui.

Ice cold polemic

Creio que vocês vão me permitir um pequeno off-topic nesse sábado. Como a maioria deve saber na quinta-feira ultima passada a equipe de hóquei feminino do Canadá venceu suas arquiinimigas da equipe dos EUA garantindo a medalha de ouro, uma obrigação para os torcedores canadenses, afinal foi em seu país que nasceu esse dinâmico esporte.

Não tenho, infelizmente, capacidade que me permitam ser cronista esportivo, mesmo que amador, portanto não vou me ater à partida, que foi a meu ver bastante tensa, disputada e emocionante. A cerimônia de premiação que se seguiu, foi condizente com a imagem que o Comitê Olímpico Internacional pretende incentivar para os jogos olímpicos e para-olímpicos.

Afinal a frase de posicionamento usada pelo COI em suas campanhas publicitárias sempre envolveu a celebração da humanidade. O que envolve toda a imagem positiva associada ao esporte e belas histórias de superação, de conduta esportiva, de esportividade tudo num ar de “vença o melhor”.

Após o cerimonial das medalhas a equipe canadense foi ao seu vestiário para a sua comemoração, afinal uma medalha olímpica corresponde a um esforço que pode ser calculado em ciclos olímpicos (4 anos) ou todo uma vida desde os primeiros passos no esporte. A justa e por que não necessária comemoração, contudo, deixou o recanto do vestiário e voltou ao gelo do rinque agora já vazio, onde sejamos honestos as atletas fizeram o que é de se imaginar que se faça numa comemoração como essa: beberam champanhe e cerveja e acenderam charutos.



Mas, essa comemoração que ao primeiro olhar parece natural causou comoção nos meios de todo mundo e desencadeou uma reação do COI bastante ranzinza, e os dirigentes da federação de Hóquei se apressaram para tornar público um pedido de desculpas pela comemoração no gelo, ainda que seja segundo Steve Keough porta-voz do Comitê Olímpico Canadense a comemoração tenha sido perfeitamente condizente com a tradição de celebração esportiva do país.

Algo semelhante já havia acontecido com o snowborder norte-americano Scotty Lago que foi fotografado em uma pose provocante com a medalha (como mostra o site de fofocas de celebridades TMZ aqui, por sinal nunca me imaginei linkando o TMZ) e por conta disso foi convidado a se retirar da Vila Olímpica.

Ok. Eu entendo que é preciso defender decoro nos jogos e que do ponto de vista mercadológico é preciso defender uma marca, mas acho que o COI está perdendo o bom humor e um pouco da dimensão humana desses atletas, afinal se o lema dos jogos é celebrar a humanidade. Há de se contemplar todo o espectro dessa humanidade e isso inclui a celebração e o exagero que a alegria de cumprir uma meta como essa provoca esses atletas sacrificam muito para atingir a excelência, sem o verdadeiramente imoral doping ou trapaças.

Argumenta-se que essas moças (belas por sinal) são exemplos e por isso, pelas crianças que as admiram não deveriam ter feito uso de álcool e tabaco de maneira tão pública e ostensiva. Argumento válido, mas não é papel dos pais educarem seus próprios filhos? E mais essa oportunidade é ótima para se ensinar aos filhos que a verdadeira alegria vem do cumprimento de metas, que vale a pena se sacrificar em nome de uma meta de longo prazo e que não se deve por que se gosta de alguém imitar tudo o que faz. Que tal ensinarmos um pouco de pensamento crítico a nossas crianças.

Um comentarista do canal por assinatura Sportv disse que foi uma “falta de classe” e no intervalo do mesmo programa foi veiculado um comercial da cerveja de guerreiros. Um sinal do óbvio de que a prática de esportes em alto rendimento (por motivos claros) não está associada com o consumo de álcool, mas a assistência desses eventos está.

Uma ressalva deve ser feita havia uma atleta entre as que aparecem bebendo que não possui a idade legal para beber e isso deve ser alvo de algum legitimo debate, por que não importa a alegria que se sinta isso não isenta do cumprimento da lei.

Como bem disse Rick Broadbent em seu blog na página do jornal Times:

“I hope nothing comes of any investigation. Indeed, what is there to investigate? They were drinking. Full stop. A team, who have toiled for each other, won Olympic gold and come to the end of a journey celebrated in a way that many other non-Olympic sports encourage - football, rugby, golf, Formula One etc. The IOC needs to get things in perspective and give these woman a break. And a Bacardi chaser.”


Acho que é chegada a hora do COI celebrar a humanidade como um todo e não só uma versão ideal que cabe mais a pregação religiosa do que a condução de eventos esportivos. Mesmo por que o que atentou contra o espírito olímpico foi a morte do atleta georgeano do luge Nodar Kumaritashvili que morreu na pista do parque olímpico de Whistle ou os escândalos como o de suborno na escolha de Salt Lake City. O que é beber cerveja ou champanhe ou fumar um charuto perto disso? Por isso acho que é hora do COI relaxar um pouco. 

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