Já há um bom tempo tenho pedido que os leitores leiam os textos que publico no marcador ‘Dúvidas de Leitores’. O objetivo expresso e real desse pedido é uma tentativa de maximizar o meu tempo e de evitar que esse blog fique repetitivo.
Essa semana (bom na verdade nessas ultimas semanas) recebi alguns e-mails sobre dúvidas bem básicas a respeito das relações internacionais e claro o onipresente tema da empregabilidade.
Não foram poucas as vezes que não recebi nenhum tipo de feedback dos que respondo aqui. Imagino que seja por que receberam a resposta nos moldes que imaginaram, ou não gostaram simplesmente do que eu disse. Não tenho nenhuma agenda de destruição dos sonhos alheios, como me chegaram a acusar certa vez em um debate virtual. Eu apresento a visão que tenho sobre o curso, as possibilidades de carreira e um pouco da minha trajetória e das trajetórias que conheço. Policio-me bastante para que certas frustrações de momento que o exercício profissional apresenta transpareçam. Mas, não seria justo que em nome de obter ‘aplausos’ dos meus leitores eu escondesse o que realmente penso. E se algumas advertências e impressões que tenho parecem severas, bom é por que a realidade assim pede que sejam.
Os dois e-mails que separei para hoje são uma boa amostra de muitos dos e-mails que respondo pessoalmente, mas não geram textos aqui. Como sempre transcrevo como me chegou (isto é sem correções) e mantenho os autores anônimos.
“Passei pelo site e o conteúdo realmente me interessou, gostaria de saber mais sobre Relações Internacionais até mesmo proque esse vai ser meu curso. Preciso saber sobre a atual posição sobre o Analista Internacional no mercado de trabalho!!!”
Essa primeira pergunta é um bom exemplo de uma pergunta que é aparentemente simples e direta. Contudo, é de difícil resposta. Vou partir da premissa que o que você quer saber sobre relações na primeira parte da pergunta seja sobre o curso de relações internacionais.
Mesmo com a variação curricular dos cursos de relações internacionais é possível dizer que é estruturado em alguns grandes pilares: Base em ciências sociais (ciência política, geografia, sociologia, economia, direito, história e para fins de simplificação metodologia cientifica); Teoria das relações internacionais e aspectos práticos (com disciplinas como Teoria das Relações Internacionais, Organizações Internacionais, Integração Regional, Análise das relações internacionais entre outras), Economia Internacional, Direito Internacional, História das Relações Internacionais e o pilar de disciplinas “práticas” como gestão internacional, marketing, comércio exterior e outras.
Como visto acima o curso tem uma amplitude interessante que acaba por exigir muito estudo e leitura. E isso reflete como analisar o mundo exige um caminho essencialmente multidisciplinar do analista. Pois bem, essa necessidade acaba por gerar um quadro em que não há condição de reserva de mercado. Ou seja, não há como se definir que cuidar das operações internacionais de uma empresa, órgão governamental ou ONG seja atribuição exclusiva de alguém que possui bacharelado em relações internacionais.
Essa abertura resulta em uma concorrência aberta com profissionais oriundos de outros campos mais consolidados como administradores, advogados, economistas, historiadores, sociólogos e cientistas políticos.
E ai temos outro problema que afeta a situação de emprego que é o pouco desconhecimento da profissão por parte dos que cuidam do RH das empresas. Eu particularmente defendo que esse problema complicado tem vários caminhos para ser superado, mas todos exigem esforço e dedicação pessoal. Tenho vários textos sobre isso em especial que aponto alguns caminhos.
“Meu nome e [...] e eu estou com algumas duvidas sobre R.I. . Bem... estava pensando em fazer relacoes internacionais porque gosto muito do assunto e tenho algumas caracteristicas do perfil de um profissional tal. Contudo algumas pessoas dizem que nao sirvo muito para isso ,pois nao sou uma pessoa muito comunicativa e alem do mais nao tenho afinidade com lingua portuguesa ,tambem nao sou de ler muito. Minha pergunta e que se sou desse jeito , poderia conseguir fazer R.I. e ser feliz.”
Esse segundo leitor já me despertou maiores preocupações. Ser comunicativo é algo que pode ser aprendido (eu mesmo já fui muito tímido para falar em público e isso foi superado com esforço e um tanto de coragem). Treinamento é importante para isso e nesse sentido a própria graduação nos impõe isso já que temos que apresentar seminários. Há também as simulações de negociação que podem ajudar a superar isso. Por que para qualquer profissão de nível superior é preciso saber se expressar em público com fluidez, confiança, conteúdo e fluência.
É preciso, portanto, ter domínio da língua portuguesa e das línguas estrangeiras que são exigidas no exercício profissional. E o exercício profissional e o curso de relações internacionais exigem muita leitura, muita leitura mesmo. E esse é um caso de matar dois coelhos com uma cajadada só já que lendo muito você adquire o gosto por essa atividade e ao mesmo tempo melhora a fluência e o conhecimento da língua portuguesa.
Não é preciso ser excelente em análise morfológica, mas é preciso escrever corretamente (ok, há certo tom de sujo falando do mal lavado aqui já que meus atentados contra a bela e inculta são pavorosos) e falar com fluência. Se você me permitir alguns conselhos nessa área eu começaria lendo bons livros, algo que você goste e que seja envolvente. Nem que seja alguma horrorosa história sobre escolas de magos ou vampiros que pegam sol e usam maquiagem.
Ser feliz ou não é uma pergunta deverás complexa. Imagino que você tenha perguntado que se com esse perfil você gostará ou não do curso. A priori não. Pelos motivos que elenquei acima, contudo não existe curso superior que não exija leitura e desenvoltura. Assim, é uma oportunidade de crescimento pessoal que se apresenta e no fim das contas esse é um dos objetivos de uma formação superior.
A leitura dos demais textos dessa seção pode sanar dúvidas adicionais e talvez apresentar mais informações sobre a carreira e o curso. Desejo aos dois todo o sucesso em suas escolhas. Voltem sempre.
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