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Vaidade e realidade – Domingo de leitores

Essa semana três conversas com leitores me chamaram a atenção. A primeira foi um leitor que já respondi em ocasião anterior que voltou para pedir um auxílio em uma matéria de relações internacionais. Faço o destaque aqui por conta da raridade que é o feedback dos que eu pacientemente respondo.

A segunda conversa foi um comentário feito por uma leitora habitual que tenho como amiga (ainda que virtual) que expressava o mais comum sentimento dos graduandos em relações internacionais, o descontentamento com a falta de oportunidades de trabalho na área.

A terceira conversa foi um dos mais simpáticos e-mails que já recebi nesse canal de comunicação do blog com vocês que não contém nenhuma pergunta apenas tece elogios a esse site. E como minha vaidade hoje pede passagem tratarei primeiro desse e-mail. Aliás, não há nada a tratar a não ser dar vazão ao arroubo de vaidade que hora enfrento. Segue o texto como me chegou (acho que haverá quem creia que estou a inventar).

Perfeito o seu site...
Substituiu o RELNET.
Espero ver sempre matérias no seu site, fico sempre atento aqui do trabalho.
Vigoroso Amplexo,
e SUCESSO !!!

Passado esse momento de quase auto-congratulação vamos a assuntos mais sérios, ou seja, o desabafo que foi feito em comentário, ou como diz Paulo Roberto de Almeida: “darei destaque a uma nota de roda pé”.  Nesse caso a nota de roda pé é um sincero desabafo, que – infelizmente, diga-se de passagem – ilustra um ponto que sempre faço nessa seção de respostas aos leitores.

Hoje me deparei com um site que dizia que RI é o segundo curso mais concorrido da UFF!! Juro que to bastante frustrada com essa falta de mercado, pelo menos em Vitória... mas vejo os outros Estados e a grande maioria de vagas fica pro comércio exterior!! É ou nao desesperador??
Desculpa o desabafo, acho que to stressada hoje... 

Esse desabafo é um entre milhares de outros. Em meus tempos de graduação esse era o tema mais comum quando reunidos em conversas em congressos, ou pelos corredores da universidade a caminho da sala de aula.

Por sinal, certa feita li em uma comunidade virtual de uma moça que pretendia cursar relações internacionais algo como “se o curso é tão difícil de encontrar emprego por que não para de surgir novos cursos”. Lembro que minha resposta suscitou uma pequena celeuma, por que disse que o mercado que interessa as universidades é o mercado de alunos não o de trabalho, ou seja, os gestores universitários observam com muito carinho as demandas dos estudantes e o curso de relações internacionais tem se popularizado entre os postulantes ao ensino superior.

Não quero dizer que os gestores não se preocupem com a empregabilidade de seus egressos, mas sem dúvidas são os professores e coordenadores de curso que mais se preocupam com isso.

Isto se coaduna com o que minha leitora diz ao perceber que o curso é o segundo mais concorrido em uma prestigiosa universidade federal e ainda assim o mercado de trabalho é escasso. E a maior parte dos egressos acabará arrumando emprego em áreas correlatas, como o comércio exterior. E ao contrário de muitos colegas eu não vejo nisso nada que seja deletério. São muitas os textos em que falo disso e alguns deles aparecerão relacionadas ao final desse texto.

Tratarei de um aspecto em particular do comentário que é a pergunta “é o não desesperador?”. Eu compreendo que essa pergunta não é para ser respondida – pois se trata de um desabafo – mas, ainda assim respondo. Não. O desespero não é bom guia e carreira se planeja com serenidade.

E aproveitando a oportunidade me permito mais um conselho não solicitado: não se deixem limitar pela área de formação, por vezes um trabalho edificante e realizador nada tem a ver com o que estudamos sem que isso traga a sensação de arrependimento quanto ao curso.  

Ainda que eu seja esperançoso e que existam muitas histórias de sucesso e realização profissional em nosso campo é bom que essa real dificuldade de emprego seja um “cautionary tale”, para que ilusões utópicas não resultem em escolhas mal ajambradas que gerarão uma tensão por vezes insuportável.

Para que não reste dúvida eu amo o meu trabalho, ciência e diversão. Mas, as oportunidades de trabalho são escassas e é preciso quem quer optar por esse caminho saiba disso para tomar uma decisão informada.

Sucesso a todos e juízo nas urnas!

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