Essa seção publicada aos sábados tem como intenção destacar textos que considero serem importantes por que induzem a reflexão. Por vezes seleciono escritos literários, contudo essa semana decidi expor um texto que trata das escolhas que teremos que fazer dia 31 de outubro diante das máquinas de votação.
A campanha esquentou nesse segundo turno e como sempre se tornou bem mais adjetiva que objetiva. Os militantes estão a solta nas redes sociais e em nossas caixas de e-mail, com argumentos leves e reducionismos esdrúxulos. E velhas ilusões com ideologia vêem a tona. E claro esse clima degenera nas ofensas e qualificações rasteiras a quem não concorda com esses militantes. Sei que muitos que lêem aqui, como eu já respiraram e contaram até 10 para não brigarem com amigos quando esses usam argumentos rudimentares e limitados.
Um assunto eclodiu nessa última fase de campanha a questão do aborto. Não se iludam com quem acha que isso é não-tema ou uma intromissão indesejável da religiosidade de alguns no cenário político. Essa é uma questão importante que é naturalmente polêmica, embora eu tenha para mim, que somente quando alguém puder provar de maneira irrefutável que um feto não é um ser humano seria aceitável essa prática de assassinato seletivo. (ok, sei que agora atraí uma polêmica para essa página, mas tenho convicções e não as esconderei por medo de qualquer represália).
A importância da questão vai além do próprio aborto e penetra na esfera da ética dos candidatos. E a questão não é a mudança de posição e sim a tentativa da candidata oficialista de se apresentar como o que ela não é. É claro que ela não é cristã católica (por que não é possível teologicamente se ser socialista-comunista e católico, ainda que apostadas como “frei” Betto queiram dizer que isto é possível, para comprovar basta o interessado estudar a doutrina católica). Fingir ser o que não se é grave, é um falha de caráter que mostra que se está disposto a tudo para alcançar o poder.
Outro fator importante é que ao centrar o debate nessa posição sobre aborto ambos candidatos acabam por esconder a falta de projetos e respostas para as verdadeiras crises que afligem ao Brasil. Sendo a mais grave o descontrole do setor público onde a corrupção cresce em meio a um sistema de indicações políticas abjetas e de um congresso que foge de suas atribuições. E a franca onda de populismo e ufanismo usado para “tapar o sol com a peneira”. O Brasil tem sérios problemas e nenhum dos dois partidos (e coligações) tem propostas reais e profundas para responder a isso, por isso resta a dura escolha de Sofia para os eleitores. Nesse sentido transcrevo um texto de (quem diria que o citaria?!) Rodrigo Constantino que retiro do blog do diplomata Paulo Roberto de Almeida.
É uma surpresa concordar com o autor, contudo ele acerta no ponto de como essa escolha entre dois esquerdistas é dolorosa e exige reflexão, que confesso foi facilitada pela patacoada da candidata oficialista em Aparecida do Norte, justo no dia da Padroeira. Quanto ao texto concordo, em especial, com últimos três parágrafos. Arrisco perder alguns leitores, mas por honestidade devo declarar esses princípios. (Sejam cordatos nas críticas e na concórdia e serão publicados, caso contrário não vou tolerar argumentos rasteiros, mentiras e ofensas)
Serra ou Dilma? A Escolha de SofiaRodrigo Constantino
Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façamEdmund Burke
Agora, praticamente é oficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximas eleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter que escrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo.
Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado é melhor do que não assumir nenhum?
Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta das liberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa postura idealista e de longo prazo não seja razoável.
Será que não valeria a pena ter fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional - Socialista, em 1933, na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso.
Voltando à realidade brasileira, temos um verdadeiro monopólio da esquerda na política nacional. PT e PSDB cada vez mais se parecem. Mas também existem algumas diferenças importantes.
O PT tem mais ranço ideológico, mais sede pelo poder absoluto, mais disposição para adotar quaisquer meios, os mais abjetos, para tal meta.
O PSDB parece ter mais limites éticos quanto a isso.
O PT associou-se aos mais nefastos ditadores, defende abertamente grupos terroristas, carrega em seu âmago o DNA socialista.
O PSDB não chega a tanto.
Além disso, há um fator relevante de curto prazo: o governo Lula aparelhou a máquina estatal toda, desde os três poderes, passando pelo Itamaraty, STF, Polícia Federal, ONGs, estatais, agências reguladoras, tudo!
O projeto de poder do PT é aquele seguido por Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; Rafael Correa, no Equador. Enfim, todos os comparsas do Foro de São Paulo.
Se o avanço rumo ao socialismo não foi maior no Brasil, isso se deve aos freios institucionais, mais sólidos aqui, e não ao desejo do próprio governo. A simbiose entre Estado e governo na gestão Lula foi enorme. O estrago será duradouro. Mas quanto antes for abortado, melhor será: haverá menos sofrimento no processo de ajuste.
Justamente por isso acredito que os liberais devem olhar para este aspecto fundamental, e ignorar um pouco as semelhanças entre Serra e Dilma. Uma continuação da gestão petista através de Dilma, é um tiro certo rumo ao pior.
Dilma é tão autoritária ou mais que Serra, com o agravante de ter sido uma terrorista na juventude comunista, lutando não contra a ditadura, mas sim por outra ainda pior, aquela existente em Cuba ainda hoje.
Ela nunca se arrependeu de seu passado vergonhoso; pelo contrário, sente orgulho. Seu grupo Colina planejou diversos assaltos.
Como anular o voto sabendo que esta senhora poderá ser nossa próxima presidente?! Como virar a cara sabendo que isso pode significar passos mais acelerados em direção ao socialismo bolivariano?
Entendo que para os defensores da liberdade individual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia. Mas anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo do mal. Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro na nuca.
Dito isso, assumo que votareiem Serra. Meu voto é anti-PT acima de qualquer coisa. Meu voto é contra o Lula, contra o Chávez, que já declarou abertamente apoio Dilma. Meu voto não é a favor de Serra.
No dia seguinte da eleição, já serei um crítico tão duro do governo Serra, como sou hoje do governo Lula. Mas, antes é preciso retirar a corja que está no poder. Antes é preciso desarmar a quadrilha que tomou conta de Brasília.
Só o desaparelhamento de petistas do Estado já seria um ganho para a liberdade, ainda que momentâneo. Respeito meus colegas liberais, que discordam de mim e pretendem anular o voto. Mas espero ter sido convincente de que o momento pede um pacto temporário com a barbárie, como única chance de salvar o que resta da civilização - o que não é muito, mas é o que hoje devemos e podemos fazer!
Comentários
O PSDB parece ter mais limites éticos quanto a isso." O PSDB tem mais limetes éticos?Não é o que a campanha eleitoral deles nos mostra.