As eleições que renovarão o Congresso dos EUA se aproximam e com isso a atenção da imprensa nacional é atraída para o fenômeno. A disputa compreende todas as cadeiras da Câmara dos Representantes (equivalente as Câmara dos Deputados no Brasil) e para um terço do Senado. A queda da popularidade do atual presidente Barack Obama é um fator de preocupação para seu partido (Partido Democrata). Pelo lado do GOP (como é conhecido o Partido Republicano) a questão é ascensão de um grupo conservador conhecido como Tea Party cujos candidatos têm vencido rivais republicanos tradicionais nas primarias do partido.
Acabo de assistir ao programa “Sem Fronteiras” da rede Globo News. Sinto-me compelido a dizer de antemão que não sou apreciador dos caminhos usados por esse programa para abordar os assuntos. Ainda que eu reconheça que há boa-fé e esforço jornalístico, mas há também um claro viés. Aliás, tão claro que não pode ser definido como manipulação.
Voltando ao assunto nesse programa os jornalistas buscam entender e apresentar as razões para a queda da popularidade de Obama que ameaça a maioria de seu partido no Congresso, maioria que é fundamental para a agenda democrata. E nesse particular há um segmento bastante crítico as principais políticas de Obama, mormente a reforma do sistema de saúde e a política de expansão da participação do governo na economia e aumento de impostos. Esse grupo é o Tea Party, movimento conservador que busca suas origens no famoso episódio da Festa do Chá de Boston, onde por conta de aumentos de impostos iniciou-se a rebelião que desencadeou na guerra de independência dos EUA, que por lá chamam de Revolução Americana.
É nesse ponto que o programa falha ao apresentar esse movimento apenas pelo ponto de vista daqueles que são adversários engajados do Tea Party e ao captar impressões de populares e transeuntes apenas em Nova Iorque que é uma cidade de maioria democrata, ou liberal do ponto de vista social. Assim, o retrato que fica do movimento é reduzido e parcial. O assistente desse programa fica com a certeza de que é um movimento radical, perigoso e sem propostas. Chegando um dos entrevistados a considerar o grupo como sendo “nazista” fora o termo bastante comum nos círculos liberais que é o “White Male” sempre se referem a esse grupo assim.
É preciso se ter em conta ao se analisar a política americana é que esse país tem uma imprensa altamente engajada e alinhada aos partidos, costuma-se dar muita atenção da preferência editorial da Fox News pelos republicanos, o que se diz pouco é que redes como MSNBC e CNN são igualmente alinhadas ao partido democrata. E essa polarização é repetida na academia. Por isso se torna mister analisar as notícias e versões sobre a política interna desse país com o devido cuidado. Para que não se tome uma interpretação parcial como sendo isenta. Isto acaba por exigir um pouco de trabalho mental, mas nada que seja hercúleo evidentemente.
O programa, contudo, mostra algo bastante interessante de se notar na polarização que toma conta desse país. Esse aspecto é a constante acusação de que o outro lado seja movido pelo ódio e pela raiva, assim o seu lado é calmo e sereno e alternativa ideal. Isto é motivado por que ambos os partidos para vencer precisam dos independentes. Um grupo de eleitores que não alinha automaticamente a nenhum dos dois grandes partidos e que desempata a disputa, já que temos uma situação de que mais ou menos 30% do eleitorado são fieis a cada um dos partidos.
Nada ilustra isso melhor que a controversa ex-governadora do Alaska Sarah Palin que se tornou um dos principais expoentes do Tea Party. O nome dessa política conservadora é capaz de suscitar respostas viscerais que não poupam ofensas em direção a ela. Interessante que os que a acusam de fazer política com base em ódio, agem da maneira que pretendem criticar.
A meu ver mais uma vez essa eleição será definida pela economia ecoando as palavras do ex-assessor de Bill Clinton “It’s economy, stupid” e as projeções não são muito positivas ao mandatário, principalmente quanto a criação de empregos. Desta forma os esforços do presidente Obama em contra-atacar pesadamente os candidatos do GOP podem ser uma estratégia temerária caso se configure a perda da maioria democrata, por que podem lhe deixar sem espaço para manobrar com os republicanos moderados de modo a manter o seu programa de mudança.
Contudo não são só os problemas econômicos que afetam a popularidade de Obama. Os problemas no Oriente Médio também são fatores ligados a perda de popularidade uma vez que são fontes de agudas críticas a Obama, por conta de seu modo de conduzir as relações com aliados tradicionais como Israel e principalmente sua condução das guerras que renderam o “bombardeio amigo” do General McChrystal, o runway general e as duras críticas de Woodward em seu novo livro “Obama’s Wars” e mais recentemente a mudança no Conselho de Segurança Nacional com a saída do General Jones.
Contribuem, também, o pacote de estímulo a economia que foi visto como uma fiança a Wall Street e a polêmica entorno da reforma de saúde, a formação do gabinete com elementos tradicionais ao contrário das promessas de campanha, além é claro de sua ampla e vaga plataforma de mudança que criou expectativas irreais e muito elevadas (como já escrevi aqui em algumas oportunidades), que impossíveis de serem alcançadas geram o descontentamento e o sentimento de desilusão em parte importante de sua base. E servem para alimentar a argumentação da oposição mais ferrenha encarnada no Tea Party, (que também demonstram um enorme descontentamento com os políticos tradicionais, algo comum em tempos de crise). Ainda assim Obama mantém uma base de suporte que ele tem conseguido energizar nessa campanha.
O resultado dessa eleição é difícil de antever e suas conseqüências e ramificações podem alterar o ritmo de implementação da agenda do presidente e até mesmo afetar suas opções de política externa. Uma coisa, entretanto, fica clara Obama continua muito popular na imprensa internacional (e por conseqüente na brasileira).
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