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Sakineh Mohammadi Ashtiani entre a pedra e a forca

O governo da República Islâmica do Irã está sob uma forte enxurrada de críticas, como todos sabemos, por conta da condenação da viúva Sakineh Mohammadi Ashtiani que é supostamente uma adultera o que é passível de pena de morte no sistema legal iraniano, ela já recebeu uma punição de 99 chibatadas. Não será a primeira vítima da cruel ditadura Iraniana lembram-se da jovem Neda?

O interessante é que nesse caso as organizações internacionais não-governamentais dedicadas aos Direitos Humanos (que por aqui gozam de uma reputação dúbia no mínimo) conseguiram arregimentar tal massa de apoio que a causa dessa mulher tornou-se um símbolo que transcende a esfera feminista.

Esse movimento angariou até o apoio de Salman Rushdie (escritor), que por sua vez também já sofreu e sofre com a perseguição de radicais islâmicos, disse ele a AFP: “Ficaria feliz se qualquer nação pudesse ajudar neste caso. Porque isso tem que ser resolvido sem que esta pobre mulher seja executada. Se o governo brasileiro for capaz de ajudar, isso seria uma coisa excelente” em seguida afirmou “É errado considerar que seja um problema religioso. Nós vemos hoje um problema político que toma a forma de uma questão religiosa”.

O advogado de Sakineh que recebeu asilo político na Noruega depois de ser preso da Turquia por problemas em sua documentação. Sim o advogado teve que deixar o Irã onde é procurado e onde sua família foi detida para aumentar a pressão sobre ele.

Enquanto tudo isso ocorre Sakineh declara que o Irã estaria tentando a matar em segredo conforme pode ser visto em entrevista concedida por meios de intermediários ao jornal britânico “Guardian” ela afirma também que a impressão que tem é que está a ser apedrejada todo os dias.

Teerã tenta reagir a pressão internacional mudando a acusação para assassinato nesse sentido a Folha de São Paulo publicou uma boa entrevista com o diplomata iraniano Mohammad Hosseini lotado na embaixada iraniana na Noruega. (aqui, não sei se é só para assinantes)

Folha - O governo iraniano confirma uma mudança na sentença de Sakineh Mohammadi Ashtiani, que agora não será mais apedrejada, mas pode ser morta por enforcamento?

Mohammad Hosseini - Com base no julgamento desde o início, a sentença de apedrejamento não seria levada até o final. Este foi um veredicto, mas já foi cancelado. A morte por apedrejamento já não acontece com frequência no Irã. Foi mais um símbolo para mostrar a gravidade deste tipo de crime. mas o fato é que ela foi acusada por dois crimes. Um foi o de adultério e outro foi o de homicídio, ela é acusada de ter matado o marido com a ajuda de outras pessoas. Ela está aguardando o veredito pelo segundo crime.

De onde partiu a decisão de cancelar a sentença de apedrejamento?

Pelo que sabemos do governo em Teerã a Suprema Corte decidiu cancelar a sentença de apedrejamento pelo crime de adultério, mas ainda está pendente o julgamento por homicídio. Na verdade neste segundo caso a família do marido ainda pode perdoá-la. Agora a Justiça iraniana aguarda esta decisão da família. Caso ela seja perdoada, após um período na prisão poderá ser liberada, mas se a família não der seu perdão, uma provável sentença dos tribunais iranianos pode ser, sim, o enforcamento.

O Brasil, também, pressionado uma vez que adotou um relacionamento de alto nível com o Irã oficializou sua postura (até certo ponto louvável) de tentar salvar a vida de Sakineh. Acredito que por motivos sinuosos (que abordarei a seu tempo) é bem provável que o Brasil consiga essa vitória.

Ainda continuo enfrentando alguns problemas para criar as postagens analíticas que são a proposta desse blog, mas consigo ao menos compartilhar um pouco dos elementos que levo em conta para construir análises. Em breve devo produzir uma análise mais inspirada. 

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