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Domingo é dia de responder aos leitores desse blog

Antes de tratar diretamente das respostas devo registrar aqui a gentil resposta que a leitora que me perguntou sobre Portugal. A resposta é mais gentil se considerar que não a respondi diretamente, coisa que queria ter feito, mas não tive tempo de efetuar a pesquisa. Ainda assim ela deixou uma (infelizmente) rara mensagem de feedback. Por isso agradeço.

Essa semana recebi duas mensagens distintas a primeira de um leitor com experiência de vida, que decidiu mudar de carreira e optou por relações internacionais, ciente das dificuldades do mundo real ele me pergunta sobre atividades e cursos complementares que o ajudem a mitigar as dificuldades do mercado. Já o segundo me pede uma ajuda para confeccionar um trabalho acadêmico dos primeiros ciclos do curso, da famosa matéria Teoria das Relações Internacionais – I, a minha resposta talvez não seja como ele queria, mas é bem intencionada, isso se intenção realmente conta.

Começo por transcrever trechos do primeiro e-mail que recebi. Corto a parte introdutória por que pode revelar a identidade do leitor (como sempre transcrevo como chegou).

Como estou iniciando agora na [...] aqui no [...], tenho algumas dúvidas referentes a área.
 Falo inglês e espanhol fluente e estou começando agora a língua francesa e italiana. Não sei se é um equívoco meu, mas creio que quanto mais línguas e culturas diferentes sabemos,  nos tornamos um profissional melhor dentro desta área..
 Mas também acho que não só de línguas sobrevive um internacionalista, então este é o motivo do email...
 Gostaria de saber o que eu poderia fazer em relação a cursos extras, estágios ou qualquer tipo de extensão curricular para eu me tornar um bom profissional...
 Sei que só estou no primeiro período, mas como esta é minha segunda profissão na vida, quero agarrar qualquer oportunidade pra me tornar um ótimo profissional!

Como escrevi na resposta direta que dei a esse leitor ele está certo ao cursar o maior número possível de línguas estrangeiras (cultura e conhecimento sempre são bem-vindos) e está mais certo ainda ao afirmar “que não só de línguas sobrevive um internacionalista”, contudo não posso deixar de parabenizá-lo no esforço de aprimorar suas capacidades lingüísticas.

Eu recomendaria (com ênfase na palavra recomendação) que você buscasse cursos de extensão e cursos “profissionalizantes” que minimizem defeitos que você identifica na grade de seu curso e nas grades de relações internacionais em geral, buscando matérias que ensinem rotinas gerenciais, marketing, matemática financeira, operações financeiras, tópicos específicos que o ajudem a seguir seu plano de carreira, ou seja, que você busque cursos que realmente lhe agreguem conhecimento e façam a diferença em seu currículo, que pelo que li no e-mail é bem interessante, com experiências de trabalho muito proveitosas.

Essa escolha pode abranger cursos oferecidos por instituições como associações comerciais, consultorias (como os cursos da XP investimento, por exemplo), editoras (como os cursos da Aduaneiras)e entidades como SENAC, SEBRAE, etc. Além dos cursos de extensão em sua própria universidade e dos cursos de pós-graduação é claro. É importante que esse esforço extra não atrapalhe o principal e que se coadune com suas metas pessoais.

O segundo leitor me mandou a seguinte mensagem:

Na matéria de TRI (Teoria das Relações Internacionais) estou fazendo um trabalho comentado tendo como auxilio os livros de E.H. Carr (vinte anos de crise) e Norman Angell (A grande Ilusão). Queria saber se vc não possui alguma resenha, artigo ou algum escrito sobre os referentes livros. Estou desenvolvendo um trabalho comparando os dois autores. Agradeço a atenção

O leitor não me pede por cola, nem pela resposta do trabalho, como alguns pedem e por isso decidi colocar sua dúvida aqui.

Infelizmente eu não sou bom em fazer resenhas e resumos, sempre foi a coisa mais difícil para mim nos tempos de faculdade, não por que eu não entenda os livros, mas como vocês já sabem tendo a ser prolixo (o mais incrível é que me policio aqui para não me alongar demais). E ainda não fiz um artigo sobre esses livros. Meus textos mais acadêmicos até apresentam bibliografia, mas nunca fiz um artigo sobre tal obra como faz o Dr. Mauricio Santoro em seu excelente blog. Bons amigos meus já me sugeriram essa linha, contudo, creio que escrevo melhor quando o faço sobre assuntos que me apetecem.

Uma sugestão que faço ao leitor é ler os livros na íntegra é a melhor maneira de comparar as obras, não lembro se li esse livro de Normal Angell (não li tudo que quis, tragicamente), mas o de Carr dá para ler em dois dias a depender da sua velocidade de leitura. Uma boa tática para alcançar a comparação que o professor pediu é fazer um fichamento dos dois livros e comparar as hipóteses centrais, argumentos e com uma pesquisa rápida em sites de pesquisa acadêmica dá para ter uma estimativa do impacto de cada obra, a partir do número de citações das obras.

Gostaria de ter sido mais profundo e ter mesmo lhe dado uma chave precisa para decodificar, mas seria um desserviço a você, afinal o mérito está em descobrir essas coisas e ter o prazer de conseguir. Acho que uma busca nos sites que já indiquei nessa seção de domingo você poderá encontrar resumos e análises desses livros, mas recomendaria que você fizesse de próprio punho. O risco é maior e o beneficio também.

Desejo muita sorte aos dois nessa difícil, mas prazerosa carreira. Sei que a resposta pode não ter sido a que desejavam, mas foi honesta. 

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