Pular para o conteúdo principal

Corações e mentes. Ou sobre o Paquistão

A ação externa dos Estados é baseada no interesse, algo primordial, algo que se aprende no primeiro dia de aula em um curso de relações internacionais, chega a ser óbvio, mas muitas vezes isso é dito, principalmente por ativistas, em tom de denúncia. Bom, cada um age como bem entende (no limite da lei) o triste é que alguns voluntariamente abram mão de sua honestidade intelectual, mas isso é uma digressão.

Voltando ao assunto essa ação voltada para interesses, contudo, não excluí que se faça algumas ações com base em princípios, até mesmo ações de transferência de recursos unilateralmente. O que surpreende é quando não vemos uma ação mais vigorosa em um caso onde se coadunam interesses nacionais e princípios humanitários.

É o caso da atual tragédia no Paquistão que segundo algumas fontes pode ter afetado 14 milhões de pessoas, deixando de acordo com algumas estimativas cerca de 1.600 mortos em áreas complexas desse país, como o Vale do Swat (não confundir com a força policial de elite) e a província de Punjab. Locais que estão no centro da luta contra-terrorista empreendida por forças locais e da OTAN.

Mapa da Enchente. Produzido pela BBC - Todos os direitos reservados - usado aqui sob o princínpio do Fair Use.

Uma tragédia como essa necessita de resposta internacional, por isso mesmo a ONU tem clamado por um aumento de doações internacionais para a região, hoje mais cedo o governador da Província de Punjab tocou no ponto exato ao dizer que ajuda é necessária e seria uma maneira de minar a capacidade de atração de pessoal dos grupos radicais islamistas.

A resposta por parte do enfraquecido governo paquistanês tem sido alvo de críticas por parte dos atingidos isso fica evidenciado com o fato do presidente Asif Ali Zardari ter feito hoje, duas semanas após o inicio das enchentes provocadas pelas chuvas de monção, a enchente ainda não cedeu e deve continuar espalhando a tragédia nas próximas semanas. Até o momento os maiores doadores para o Paquistão com 10 milhões de dólares (USD) foram os EUA, U.E e Reino Unido.

Nesse cenário fica claro que é lógico e mister que os membros da OTAN mobilizem recursos financeiros e humanos para ajudar no socorro dos atingidos e na recuperação das áreas afetadas esse gesto de boa vontade pode ser decisivo para diminuir o grau de influência dos radicais.

Nesse sentido de batalha por corações e mentes como se costuma chamar temos os ataques dos radicais contra médicos estrangeiros. Ação que seria justificada na lógica perversa dos assassinos por que tais médicos teriam como missão a conversão religiosa dos atendidos. Mas, resta claro que a idéia por trás dos ataques além de espalhar medo e a sensação de que a guerra está a ser perdida é afastar a ajuda externa sem a qual se torna mais fácil o discurso de atração dos recrutadores radicais.

Cabe agora aguardar os desdobramentos dessa tragédia, principalmente as conseqüências políticas e econômicas que poderão influenciar sobremaneira o andamento dos esforços de contenção e derrota do terrorismo e do tráfico de drogas na região.

Comentários

Silent disse…
nem tem o que falar, é cada coisa que nossa...
Parabéns pelo blog, é ótimo.

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...