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Colômbia – Venezuela: Santos toma posse

Juan Manuel Santos agora é oficialmente presidente da Colômbia e tem como missão avançar o processo de Segurança Democrática que tem como pilar o combate extensivo as guerrilhas “narco-terrorista” e para igualmente perigosos grupos para-militares. No front interno também está na agenda do dia do novo mandatário enfrentar as acusações de corrupção e questões de desenvolvimento econômico e social. Além de relações republicanas de poder principalmente no que diz respeito às relações executivo-legislativo.

No front externo há a questão das relações com a Venezuela e com grande parte da América Latina por conta das bases militares cedidas ao uso dos EUA (que quer queiram os líderes latinos, quer não foram os únicos a oferecer substancial ajuda a Colômbia, isto é, foram além de manifestações e declarações sem follow up) e dos constantes embates com o grupo bolivariano que tinha na pessoa do agora ex-presidente Álvaro Uribe a personificação de tudo que dizem combater.

Ainda que muitos se esforcem para diminuir as tensões entre Colômbia e Venezuela a atos isolados e tresloucados de Uribe ou de Chávez. Conseqüências duradouras serão vistas ainda nos próximos meses ou anos (ainda que futurologia seja uma rota perigosa). Santos tem a dura missão de corresponder a expectativas justas e injustas sobre ele, por que muitos que se querem analistas projetam ele como alguém que vem mudar as linhas gerais da política colombiana, em especial a externa. Quando é fácil de perceber que embora possa ter diferenças táticas a linhas estratégicas gerais tendem a se manter.

Já sobre a atual crise com a Venezuela já escrevi sobre isso e vou resgatar minha visão um tanto solitária (mas, fazer análises é assim por vezes é preciso se arriscar, se estiver errado, paciência o processo me fará aprender) e para esse resgate copio parte da minha postagem de 26 de julho, intitulada “Colômbia – Venezuela: O timing de Uribe”:

O problema então que desperta minha postagem é saber as possíveis razões políticas que poderiam ter levado a decisão da diplomacia colombiana de interpelar a Venezuela sob seu suposto (e muito verossímil) apoio e conivência aos grupos guerrilheiros colombianos que se escondem em território venezuelano.

A acusação é grave e mereceria um escrutínio severo da comunidade internacional, afinal é um ato que atento contra a legislação internacional e própria legislação interna da Venezuela. Portanto, é um processo que uma vez desencadeado não é facilmente revertido, isto é, não são apenas palavras vazias de um discurso de líderes políticos. É razoável crer que a decisão de levar a público essas acusações foi feita com o conhecimento, senão consentimento de Santos (presidente-eleito).

E parece ser provável que tenha sido assim já que o anúncio foi feito em um momento que Santos estava fora da Colômbia, em viagem de apresentação pela América Latina, estava ele no México quando Chávez rompeu reações com a Colômbia, essa decisão como escrevi anteriormente esta a ser ensaiada pelo líder bolivariano e assim é provável que os diplomatas e políticos colombianos tenham antecipado esse passo de Chávez.

E dado a gravidade da conseqüência tangível fica ainda mais complexa a decisão de fazer isso ao apagar das luzes de seu mandato. Por que afinal de contas estaria legando ao próximo governo uma grave crise com um vizinho, que é grande consumidor de suas exportações e com quem é vital ter laços de cooperação inclusive no combate às guerrilhas que precipitaram a atual crise.

Surge-me a hipótese de que esse movimento arriscado de política externa serviria para limitar as possibilidades retóricas e de ação do governo venezuelano que vem declarando que espera que Santos inaugure uma nova fase nas relações entre os dois países, já que Uribe é figura detestada visceralmente por Chávez.

Essa limitação se daria por que a Chávez não há como radicalizar mais sua oposição a Colômbia sem recorrer a uma agressão – o que sinceramente considero improvável –, além disso um efeito já pode ser visto no discurso chavista conclamando as FARC para que deixem a luta armada, isso simboliza que por ter o mundo olhando mais de perto Chávez terá que suspender seu apoio aos guerrilheiros (por que só assim ele poderá provar que nada tem a ver com eles). Além disso, a postura moderada de Santos o coloca como interlocutor, descaracterizando o discurso de que a Colômbia seria beligerante ante a Venezuela que sustenta as posições de Chávez.

Elementos que me fazem pensar assim são dadas pela postura de Santos que se mantém em silêncio, e escolheu uma chanceler que é vista como dissidente dentro do núcleo duro do Governo Uribe. A isso se soma o silêncio colombiano que tratou o assunto em fórum multilateral e não escalou a retórica, nem para rebater a retórica dura venezuelana (pelo menos até a hora que escrevi esse texto), importante para não aumentar a fervura da crise e mais ainda cria uma imagem transparente ao dar tratamento multilateral.

Ainda é uma hipótese em formação e careço de elementos para aprofundar essa linha de análise, contudo, me parece razoável defender que na postura atual de Uribe não há a componente vaidade, ou em outras palavras um movimento tão grande não parece ter sido construído para consumo interno.

Resta-nos agora, como sempre, avaliar os desdobramentos e ir ajustando as conclusões a medida que mais e melhores informações se tornam disponíveis. A fim de que nossas análises sejam fiéis a lógica. Contudo, admito que posso estar a me colocar sozinho nesse caminho analítico. Mas, toda hipótese existe para serem testadas e existe a possibilidade de que sua hipótese seja provada errônea e mesmo assim se aprende. O que não se pode fazer nunca é falsear a lógica e as provas para que sua hipótese seja verdadeira. 

Uma opinião contra a maré é fato, mas feita a partir de uma curiosidade cientifica e calcada numa lógica interna, mas é uma hipótese que precisa ser testada. Até que isso ocorra é só uma conjectura dessas que um blog nos permite.

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