Pular para o conteúdo principal

65 anos desde os cogumelos nos céus

Hoje, dia 9 de agosto de 2010 é o sexagésimo quinto aniversário do bombardeio nuclear a cidade de Nagasaki  o segundo (e até o momento último) ataque usando artefatos nucleares. O primeiro ocorreu, como é público e notório, em 6 de agosto de 1945 na cidade de Hiroshima. A estimativa de mortos nos dois bombardeios flutua entre 100 e 200 mil mortos. Um número considerável de baixas é fato.

Não são poucos os que se revoltam a lembrar desse número de mortos e do horror nuclear isso os compelem a se manifestar contra os EUA e contra as armas em si, ou seja, contra qualquer governo que possua esses mecanismos de destruição em massa. Há também aqueles que por afinidades ideológicas condenam os EUA e usam esses ataques como uma prova cabal da natureza “assassina e genocida do império” (SIC) ou usam o ataque as cidades japonesas para classificar qualquer esforço de não-proliferação como hipócrita. Mas, essas questões marginais não vêem ao caso agora.

O diplomata Paulo Roberto de Almeida produziu dois excelentes post sobre o assunto (aqui e aqui) dos quais transcrevo um trecho do segundo e deixo aqui minha recomendação de que leiam a íntegra dos textos.

“Estou, neste mesmo momento, lendo um dos capítulos do livro More What If? (London: Pan Books, 2003), coordenado pelo historiador militar Robert Cowley (que já tinha editado um primeiro What If?, alguns anos antes). Como o nome indica, se trata de história virtual.

Esse capítulo, assinado por Richard B. Frank, "No Bomb: No End" (p. 366-381) confirma o que já se sabia por "especulações" de outros historiadores e especialistas em guerras.

Se a bomba não existisse, ou se os EUA tivessem decidido não lançar as bombas sobre o Japão e tivessem continuado, nesse caso, com a guerra por meios convencionais, o número de vítimas, japonesas e americanas, seria incomensuravelmente maior, muitas vezes maior.

Calcula-se que entre 100 e 200 mil vítimas resultaram das duas bombas atômicas, sobre Hiroshima e Nagasaki. Pois bem, os bombardeios com bombas incendiárias sobre Tóquio e outras cidades japonesas -- assim como os bombardeios sobre cidades alemãs, antes -- fizeram e fariam um número de vítimas bem mais amplo.
A conquista progressiva das ilhas japonesas custaria provavelmente meio milhão de mortos, entre japoneses e americanos, soldados e civis, provavelmente durante seis meses ou mais.

Richard Frank acha que a guerra inclusive poderia continuar por 2 ou 5 anos mais, sendo imprevisivel o seu final ou o número definitivo de mortos, a partir do momento em que as bombas foram lançadas.

Cabe recordar que o Japão recebeu um ultimatum logo depois de Potsdam, e que os militaristas japoneses se recusaram a aceitar a rendição. Quando, depois da bomba sobre Hiroshima, o Imperador sinalizou sua vontade de aceitar a rendição, ele quase foi assassinado pelos militaristas extremados. Mesmo depois da segunda bomba, os ultras recusavam a rendição, o que sinaliza como seria terrível um cenário de combates convencionais (com milhares de pilotos kamikazes prontos para se sacrificar pelo Japão e pelo imperador).

Ou seja, não querendo ser ou parecer cínico, a bomba atômica, ao fim e ao cabo, salvou vidas, japonesas e americanas.
[...]

Paulo Roberto de Almeida”

Espero retomar meu ritmo normal de postagens ainda essa semana se assim permitirem minha saúde e meus afazeres profissionais e pessoais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise no Equador

Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul. Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições . Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas. Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise

Meus leitores fiéis, pacientes e por vezes benevolentes e caridosos

Detesto falar da minha vida pessoal, ainda mais na exposição quase obscena que é a internet, mas creio que vocês merecem uma explicação sobre a falta de manutenção e atualização desse site, morar no interior tem vantagens e desvantagens, e nesse período as desvantagens têm prevalecido, seja na dificuldade na prestação de serviços básicos para esse mundo atual que é uma boa infra-estrutura de internet (que por sinal é frágil em todo o país) e serviço de suporte ao cliente (que também é estupidamente oferecido pelas empresas brasileiras), dificuldades do sub-desenvolvimento diria o menos politicamente correto entre nós. São nessas horas que vemos, sentimos e vivenciamos toda a fragilidade de uma sociedade na qual a inovação e a educação não são valores difundidos. Já não bastasse dificuldades crônicas de acesso à internet, ainda fritei um ‘pen drive’ antes de poder fazer o back up e perdi muitos textos, que já havia preparado para esse blog, incluso os textos que enviaria para o portal M

Extremismo ou ainda sobre a Noruega. Uma reflexão exploratória

O lugar comum seria começar esse texto conceituando extremismo como doutrina política que preconiza ações radicais e revolucionárias como meio de mudança política, em especial com o uso da violência. Mas, a essa altura até o mais alheio leitor sabe bem o que é o extremismo em todas as suas encarnações seja na direita tresloucada e racista como os neonazistas, seja na esquerda radical dos guerrilheiros da FARC e revolucionários comunistas, seja a de caráter religioso dos grupos mulçumanos, dos cristãos, em geral milenaristas, que assassinam médicos abortistas. Em resumo, todos esses que odeiam a liberdade individual e a democracia. Todos esses radicais extremistas tem algo em comum. Todos eles estão absolutamente convencidos que suas culturas, sociedades estão sob cerco do outro, um cerco insidioso e conspiratório e que a única maneira de se resgatarem dessa conspiração contra eles é buscar a pureza (racial, religiosa, ideológica e por ai vai) e agir com firmeza contra o inimigo. Ness