Hoje em sua conta no Twiiter a famosa blogueira cubana (autora de um dos mais famosos e interessantes blogs do mundo – Genración Y) Yoani Sánchez lamentou mais uma viagem negada, mais um evento em que não pode participar, pelas restrições anacrônicas e despóticas de Cuba.
Essa não é a primeira vez que cito a filóloga e blogueira cubana, por vezes transcrevi trechos de suas crônicas que constroem um retrato distinto dissidente da realidade cubana, captando com raro talento literário (raríssimo na blogosfera) o espírito de sua amada ilha, seus textos demonstram claramente um clamor por liberdade, que quer queiram seus detratores quer não se mostra legitimo e pouco ideologizado. É um grito por liberdade simples, como viajar, navegar na internet, trabalhar, ser tratada como cidadã em seu próprio país, de ter seu filho educado sem ser transformado em “soldado” de uma revolução que há muito se consumiu.
Cuba ocupa um lugar especial nos corações e mentes da esquerda latina, que raramente admite qualquer censura ao regime castrista, e quando tolera alguma crítica essa sempre é seguida de menções respeitosas e triunfalistas do suposto avanço social por lá alcançado e sempre com a menção de que se não fora por Castro e outros comunistas tardios de Sierra Maestra Cuba “continuaria a ser um bordel dos EUA”. Uma afirmação que mostra que a maior parte do encanto da ilha não reside nos méritos de seu regime, mas sim no seu simbolismo de oposição ao império estadunidense, como gostam de escrever.
Nesse jogo ideológico e de propaganda o povo cubano permanece em segundo plano, afinal não se leva em conta seus clamores por liberdade (política, econômica, de culto e de associação, etc.) são lembrados apenas quando podem ser usados para validar as teses que a esquerda tanto cultiva. Por isso mesmo a esquerda não se conforma com a serena voz dissidente dos blogueiros cubanos, que também não é bem vista pela oposição ao regime de Cuba formada pelos refugiados abrigados em Miami.
A realidade cubana é complexa e incomoda e por vezes as visões reducionistas da luta de classes convertida em política internacional prevalecem, o que por si só mostra quão anacrônico é o debate, em que informações reais e, portanto criveis não são facilmente encontradas.
Nos últimos dias Cuba tem ocupado um espaço considerável no noticiário internacional seja pela mediação bem sucedida da Santa Sé e Espanha para libertação de prisioneiros políticos, aqueles mesmo que para nosso presidente eram prisioneiros comuns que haviam sido julgados pelo judiciário cubano. E ainda evocou a conveniente figura da não-intervenção. Outro fator que coloca Cuba nos noticiários são os infindáveis e grandiloqüentes discursos de Fidel Castro.
Retornando as breves mensagens publicadas no Twiiter. Yoani apela ao presidente Lula para que interceda por sua viagem, como antes dela apelaram os que pretendiam salvar a vida de Orlando Zapata. Ela agradece ao empenho do senador Suplicy (PT-SP) e do governador Jacques Wagner (PT-BA). Não deixa de ser curioso que nem um importante governador do partido do governo, nem um senador tenham conseguido que Lula e seus assessores tenham usado da importância e da popularidade do Presidente nem de seus laços de amizade com membros do regime comunista para conseguir a liberação de viagem.
Eu sei que as relações entre estados são maiores que pessoas, um país como o Brasil, contudo, que sofreu com um regime totalitário, não pode se omitir, não pode deixar de buscar pelos caminhos diplomáticos minorar os efeitos nocivos de um regime totalitário. Mas, a realidade não tem sido essa.
Comentários
Enfim, eu sou contra qualquer tipo de regime que tire nem que seja a mínima parcela da liberdade de um indivíduo, principalmente seu direito de ir e vir. E Cuba é tão "esquecida" em tantos setores internacionais....por vontade própria até. Bom, tem a medicina que é bem reconhecida....
Mas não sei em que a interferência de Lula poderia ajudá-la, acho melhor deixar o Brasil fora disso.
Abraços,
Pedro Sombra
http://coolercheio.blogspot.com/