Poder-se-ia argumentar que a tensão entre Brasil e Paraguai, ou melhor, entre o Paraguai e o Brasil (como é nesse caso) teve origem na Maldita Guerra (sim em alusão a meu antigo professor Francisco Doratioto), mas esse tipo de análise mais extensa exigiria um estudo tão aprofundado quanto o referido livro.
Nos últimos anos a maior parte da tensão emana da construção de Itaipu e a compra de sua energia, do contrabando nas fronteiras, pela receptação de veículos roubados e pela instalação de fazendeiros brasileiros em território paraguaio (fazendeiros que por sinal elevaram os níveis de produtividade do país guarani). Todas essas rusgas são devidamente usadas pelas forças políticas desse país que usam do discurso nacionalista e transformam a negociação em torno de Itaipu como questão de honra nacional.
É ponto pacífico que quando assuntos diplomáticos são convertidos em questão de honra nacional, seus resultados se tornam importantes do ponto de vista eleitoral, dessa maneira qualquer acordo que seja visto como uma transigência é taxado de tal maneira que resta aos seus autores as pechas de vendidos e imperialistas.
Desde a ascensão do trânsfuga Lugo a presidência se têm colocado elevada pressão nele para que consiga revisar os termos do Acordo de Itaipu, promessa de campanha que se presumia ser facilmente factível vis-à-vis o exemplo do sucesso boliviano e da proximidade entre Lugo e Lula. Contudo, os escândalos de paternidade que marcaram os primeiros meses do ex-bispo (por isso trânsfuga) aceleraram o processo já que esse se viu impelido a agir firmemente no campo externo arrancando um sucesso de um ente visto como imperialista uma boa concessão.
Assim nesse estado de coisas se deu a primeira visita e conversa entre Lula e Lugo em Brasília, que não foram, todavia, proveitosos. Mais tarde Lula ofereceu ao Paraguai o acordo que triplica o valor pago pelo uso da energia paraguaia produzida pela bi-nacional. Dia 13 último (conhecido, também, como terça-feira passada) o diário paraguaio ABC Color publicou editorial duríssimo (com o título “Lula no cesa de burlarse del Paraguay”) sobre a questão com críticas a uma suposta política externa improvisada de Lugo e de um imperialismo brasileiro que se vale de promessas vazias e declarações, além de tecer duras críticas ao indicado do governo a diretoria da bi-nacional, clamando que o Congresso paraguaio não confirme a indicação de Gustavo Cotas (que já trabalhou no PT essa ligação com o partido brasileiro é má vista em setores da opinião pública paraguaia).
A declaração firmada pelos dois países que prevê a construção da linha de transmissão de energia entre Itaipu e Villa Reyes e o citado aumento no valor pago pelo Brasil está em tramitação no Congresso Nacional, enfrentando oposição que na prática, como sabemos, nada pode diante da maioria lulista. Mas, a demora mostra quão controversa e a mesmo tempo quão baixo está questão está do radar da política brasileira, afinal essa temática só vem a tona quando de reclamações paraguaia. É inegável que a questão é mais importante para o Paraguai do que para o Brasil basta saber que qualquer paraguaio que leia jornal ou discuta política sabe o nome e o histórico dos diretores de Itaipu.
Não é a primeira vez que escrevo sobre esse quase eterno entrevero entre Brasil e Paraguai. Creio que seria politicamente factível usar dessa necessidade do executivo paraguaio para obter desse a instalação de políticas que servem ao interesse nacional brasileiro, como políticas de combate ao tráfico de drogas e o contrabando mais incisivas, ou garantias de não-perseguição estatal aos chamados brasiguaios.
É preciso transformar por meio de negociações bem conduzidas essa situação que por pressão popular se desenha de uma maneira que poderia ser descrita como soma-zero em uma situação que possa ser benéfica aos dois participantes, alias a iniciativa brasileira de investir na infra-estrutura elétrica do Paraguai foi nesse sentido, mas encontrou resistência no Brasil por não apresentar algo que seja visto como benéfico por aqui, algo que seja benéfico ao consumidor e contribuinte brasileiro que é chamado a pagar essa conta.
Tudo isso é praticamente uma repetição de textos anteriores em que minhas análises levaram as mesmas conclusões, mesmo por que não houve alteração em nenhum dos fatores que pudessem alterar minhas posições. As eleições presidenciais aqui podem oxigenar a discussão, visto que segundo as reportagens e editoriais Lula tem sua imagem e principalmente credibilidade muito debilitadas. (Basta ler o que vai escrito no editorial acima citado e em outras matérias nos jornais linkados, para comprovar isso).
No entanto, o próximo desenlace dessa peleja diplomática deve ocorrer na próxima reunião de Cúpula do MERCOSUL, marcada para 2 e 3 de agosto, em San Juan , Argentina. A diplomacia guarani diz ter a promessa de Lula de que até lá o acordo entre os dois países terá sido ratificado pelo Congresso Nacional. Eu particularmente creio ser muito exíguo o prazo para que isso se concretize o que pode reforçar a imagem de pouca credibilidade do mandatário brasileiro. Fica claro o Paraguai quer mais ação a situação talvez clame por mais conversa de nossa parte.
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