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Mun-rá o ser eterno. Ou sobre o líder cubano

No clássico da animação da década de 1980, um grupo de felinos bípedes, com traços humanos deixa seu planeta natal em meio a uma cataclísmica destruição dele, esse grupo de soldados de elite, membros de algo análogo a nobreza (nos períodos da idade média) devem proteger o maior bem cultural de seu povo e sua fonte de poder o “Olho de Thundera” jóia mística que está incrustada na “Espada Justiceira”. Em meio a fuga de seu planeta são atacados por uma espécie inimiga que destrói a naves em fugas menos a capitanea que carrega a Espada Justiceira e o herdeiro da liderança de Thundera a criança Lion-O.

O ataque acaba por danificar a nave que precisa ser pilotada manualmente o mentor de Lion-O, Jaga assume o comando da nave enquanto o resto fica em animação suspensa já que mesmo com a tecnologia avançada dessa espécie a viagem duraria algumas décadas até que chegassem a um planeta habitável por eles o terceiro planeta de um sistema solar, com uma única estrela amarela de tamanho pequeno (um indicativo que a nave de fato se dirige para a terra). Ao chegar nesse planeta os sobreviventes do planeta felino fazem amizade com habitantes locais, mas descobrem que esse planeta é controlado por um ser amargo obcecado com o poder, receoso quanto a estrangeiros. Um ser que já fora humano um dia, mas agora é uma sombra do que era, envelhecido e de alguma forma vivo muito além de seu tempo natural.

Não é preciso ser muito esperto para perceber qual é minha mal ajambrada metáfora, não é preciso muito para perceber que como disse Yoani Sanchez: “El deterioro mayor no esta en su estado fisico sino en su retorica: tipica del siglo pasado”. Sim, Fidel Castro é o Mun-rá da América Latina, mesmo quando novo em sua amada Sierra Maestra ele já era o velho deteriorado Mun-rá, e como o fantasmagórico vilão da série de animação ele tem uma fonte de juventude temporária que é sua retórica explosiva que o faz se sentir grande e poderoso capaz de tudo, mas o tempo e a realidade funcionam sobre essa retórica como os espelhos funcionam para o vilão, ou seja, elas mostram a realidade da opressão, do apego ao poder.

Contudo, os líderes latinos de esquerda pagam pedágio ao velho líder, agem no campo das idéias de maneira servil e covarde, seriam como os mutantes que servem ao velho dono do terceiro-planeta. E nesse bolo dos servis se juntam muitos que não podem permitir que a evidência da opressão os dissuada de sua ilusões utópicas da construção de um outro mundo e de um novo homem entre esses temos vacas sagradas de vários campos como a música, a arquitetura, literatura, cinema, cientistas sociais, intelectuais, jornalistas e professores universitários.

O velho mago dos desenhos se esconde em sua pirâmide maldita donde fica bisbilhotando a vida dos seres do planeta que controla tiranicamente, esse déspota não precisa de aparato de segurança, esse tem a conjuração de seu caldeirão. Seu congênere usa de meios mais convencionais que de tal maneira controlam a sua ilha que muitos escapam para respirar ares mais livres, para poderem seguir de suas vidas sem a obrigação de coletivismos centralizados.

Não deixa de ser revoltante a repercussão que as declarações do velho comandante têm ao redor do mundo dando um peso de sabedoria a suas palavras, mais uma vez o famoso encanto se repete e os antigos espíritos do mal transformam a forma decadente em Mun-rá o ser eterno.

Imagino os comentários que atrairei com esse texto, mas sou livre para criticar ou elogiar quem quer que seja, uma liberdade que dou valor, por que sei quantos não podem expressar sem medo de represálias simples descontentamentos com a qualidade dos serviços públicos ou simplesmente reclamar do estado de coisas em voz alta, afinal mesmo sem ter o caldeirão mágico os déspotas conseguem usar aqueles “true believers” ou idiotas úteis para delatarem seus amigos, parentes e vizinhos. Portanto, não posso temes meia dúzia de comentários raivosos, por que nada são.

Muito mais importante que visões sobre que forma de organização econômica é melhor ou elucubrar sobre a não liberdade dentro de um sistema como o capitalista é entender que não obstante a forma de organização social e política, ou mesmo tradições culturais, algumas coisas são verdadeiros direitos universais do homem e liberdade está indubitavelmente entre os principais.

Chegará uma hora que a verdadeira jóia, a verdadeira Espada Justiceira será devolvida ao povo cubano ainda chegará a hora que Cuba será livre para seguir seu destino sem déspotas, sem monopólio de um partido único, sem a necessidade de se matar ou chegar perto disso, com greves de fome, para ser ouvido no processo político e decisório. Essa espada que é liberdade irá com certeza despedaçar a distopia caribenha.

PS: O velho líder saiu de sua pirâmide para bater os tambores de guerra no Oriente Médio e no Extremo Oriente e se omitiu da política interna cubana, não tocou no assunto da libertação de presos políticos em negociação entre irmão, a Igreja Católica e a Espanha. Essa negociação segundo o Assessor da Presidência caiu nos pés da Espanha e eles chutaram para dentro. A pergunta que resiste é alguém racional se importa com o que Fidel tem para dizer? E mais depois de anos discursando por horas a fio, ainda restou algo a falar?

Comentários

Anônimo disse…
excelente texto e trocadilho genial
parabens pela originalidade
a blogosfera precisa de coisas novas

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