O século XXI nasceu sob o signo do fogo, sob o impacto dos ataques terrorista aos símbolos do poderio norte-americano. Ataques terroristas são o que os especialistas chamam de guerra assimétrica, que numa definição simples consiste no uso das assimetrias para obtenção de vantagens em combate.
Terrorismo, por sua vez, pode ser compreendido como o uso sistemático de violência (primordialmente aleatoriamente e visando a população civil) com vistas a infligir medo em uma população-alvo e assim induzir a adoção de políticas desejadas pelos responsáveis pelo ato terrorista.
Naquele mês de julho terroristas atingiram Londres em seu sistema de transporte público nos dias 7 e novamente no dia 21, a escolha do sistema de transporte público parece obvia uma vez que o confinamento dos ônibus e metrôs aumenta a capacidade letal de seus atos e o pânico causado na população paralisaria a cidade que como toda grande cidade do mundo depende da mobilidade para funcionar.
Locais dos atentados de 7 de julho de 2005. |
Locais dos atentados de 21 de julho de 2005. |
Encontra-se na literatura especifica uma tipologia dos atos terroristas que podem ser [como demonstrei em minha postagem intitulada “Guerra Assimétrica – Terrorismo (Parte – I)]:
Demonstrativos: seriam ações que visam dar visibilidade a uma causa e implicam na ameaça e no uso de força, são ações como seqüestro de pessoas (autoridades em geral), seqüestros de aeronaves, uso de artefatos explosivos com aviso anterior.
Destrutivos: São ações agressivas, que implicam em fatalidades, seu objetivo é coagir opositores mesmo as custa de perda de apoio da opinião pública.
Suicida: São ações extremamente agressivas “tenta matar o maior número possível de pessoas, procurando coagir a população inimiga e seus governantes, mesmo que às expensas de perder o apoio de sua própria comunidade de origem. O ataque suicida pode ser definido de duas formas: a primeira é aquela em que o terrorista comete suicídio durante a operação (um homem-bomba, por exemplo), a outra é aquela em que o terrorista espera ser morto por outros durante a operação (algum militante armado cuja missão seja atirar indiscriminadamente sobre a população-alvo, sem contar com um plano pré-determinado de fuga).” (COSTA, p. 4)
A lógica estratégica dos ataques fica clara, contudo a racionalidade dos agentes e o pensamento estratégico orientando as ações não escondem a crueldade do ataque orientado para usar de violência aleatória contra civis.
Um dos objetivos clássicos de uma confrontação bélica é como coloca Clausewitz de “compelir o inimigo a fazer a sua vontade” e nesse ponto o ataque foi bem sucedido por que a paranóia que tomou conta dos agentes de segurança acabou por causar uma nova tragédia que envolveu a execução sumária do migrante brasileiro Jean Charles. Hoje dia 22 de julho (dia do aniversário da morte de Jean Charles) os meios de comunicação dão ênfase a morte desse brasileiro, uma vítima inocente de uma seqüência de erros grosseiros que contrariando a tradição de accountability britânica ficaram impunes.
Além do natural choque com a execução de um inocente em um vagão lotado do metrô que chama atenção para o discernimento dos oficiais da New Scotland Yard envolvidos, que segundo relatos era membros de uma divisão de elite que pelo seu treinamento em táticas especiais deveriam ser menos suscetíveis a pressão que recaia sobre a polícia londrina. Há um choque adicional quando constatamos a diferença de dimensão de um erro crasso da polícia no Reino Unido e no Brasil.
Sem fazer estardalhaço com um perda de vida é impossível não demonstrar quão banalizada está a perda de vidas por aqui. Os recentes episódios em que supostamente Policiais Militares torturaram e mataram um jovem motoboy em São Paulo , não teve a mesma dimensão na sociedade que teve o caso Jean Charles na Inglaterra.
Ainda que os agentes tenham tido suas identidades preservadas e não tenham sofrido sanções a instituição policial foi escrutinada de maneira a dar uma resposta e ainda pagou uma indenização de 100.000,00 Libras . Quantos são os casos que ficam sem nenhum tipo de punição ou admissão de culpa no Brasil?
Uma coisa se pode concluir de toda essa tragédia que vitimou nos atentados 52 mortos e 760 feridos, além de serem parte da equação macabra que retirou a vida de Jean é que naquele mês de julho a insanidade venceu. O medo venceu. E para quem acredita (como eu) em forças metafísicas, o mal venceu.
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PS: A rede Globo News apresenta hoje uma programação com uma série de analises sobre o acontecimento, ouvindo os parentes de Jean Charles, também há o filme biográfico que leva o nome do brasileiro morto e reportagens em vários jornais e sites, por isso não entro em detalhes biográficos, nem pormenores dos atentados.
2. Para referências bibliográficas visitem minhas postagens “Guerra assimétrica muito além do David versus Golias” e “Guerra assimétrica – Terrorismo (Parte I)”.
Comentários
Tipo do blog que passa informação útil.
Gosto do tipo do blog.
Quantas pessoas morrem diariamente sem chegar à nosso conhecimento... A população é feita de gato e sapato pela mídia, que de vez em quando oferece uma novela jornalística em relação a crimes 'de classe média' pro povo se entreter. Lamentável.
Ótimo texto, bem elaborado, assunto muito bem trabalhado ... ganhou uma seguidora haha.
mto bom
parabéns ^^
Pensamento crítico sobre as condições mundiais é algo que há tempos é exceção!
;D
mto bom