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Depois de tanta celeuma veio a eliminação

A seleção brasileira acaba de ser eliminada em uma partida contra a Holanda que parecia ter sido resolvido no primeiro tempo, embora já nos advirta a velha máxima dos esportes “o jogo só acaba quando o juiz apita” ou numa versão irreverentemente paradoxal “o jogo só acaba quando termina”, embora na crônica esportiva existam partidas que acabam, mas nunca terminam na medida em que são debatidas perpetuamente como a final de 1966.

Uma eliminação é parte do esporte, afinal não se pode ganhar todas, como diria qualquer estatístico. Foi uma triste derrota, contudo ao contrário de 2006 não foi uma derrota melancólica, não ficou, pelo menos em mim, nenhum sentimento de que os jogadores não fizeram o que podiam. Creio que deram seu melhor, jogaram o que podiam e nesse sentido apesar do fel da derrota há uma sensação de que não houve displicência.

O treinador Dunga figura que polarizou e atacou sempre a imprensa deverá sofrer um escrutínio duro nos próximos dias, embora no primeiro momento os jornalistas tenham sido até clementes evitando tripudiar com aquele que se mostrava tão abatido, tão desnudado de agressividade, derrotado e triste. Embora seu destempero tenha permeado o comportamento da seleção. Por um lado é uma derrota que pode sepultar a idéia de que para se ter resultado tenha que se ser taciturno para vencer. Pode-se jogar com talento, alegria e pragmatismo. Uma coisa resta clara inteligência emocional é fundamental para que se possa obter bons resultados seja em uma disputa esportiva seja numa negociação comercial ou diplomática.

Pois bem por hora o país está consternado alguns decepcionados outros mais tristes. Ninguém fica impune a uma derrota em um país que gosta de se descrever como país do futebol. Resta-nos esperar pela próxima Copa do Mundo que aqui será, temos muito trabalho a frente para completar nossos equipamentos esportivos, estradas, aeroportos, transporte público, criminalidade e principalmente nos resta zelar por cada centavo de dinheiro particular apropriado pelo governo empregado nesse evento.

Algumas perguntas ficam: Valeu a pena criar tanto factóide brigando com a imprensa? Valeu ter a mentalidade de que só o resultado importa (por quem assim estabelece o parâmetro por ele será avaliado)? Valeu a pena criar “correntinhas” tolas na internet por conta de uma seleção de futebol? O que deve estar a pensar agora o anônimo do outro dia? Confirmou-se a “tradição” de azar esportivo de todos que visitam o presidente Lula antes de competir?

Há algo de lamentável por que os torcedores esses seres tão passionais que há algumas horas idolatravam o “professor” Dunga, agora lhe hostilizam com palavrões em profusão. Como já diz um velho adágio do futebol que uma derrota passa alguém de bestial a besta.

Mais uma copa que se acaba, mais uma decepção, agora é hora de acusar o golpe e ficar triste, mas amanhã será hora de levantar a cabeça, pois a vida continua. E novamente digo patriotismo não é torcer pela camisa amarela da CBF, o patriotismo verdadeiro é o que move as pessoas a cuidar de seus concidadãos. Honestamente falando o que é mais importante um jogo de futebol ou ajudar as vítimas das enchentes?

Muitas teorias serão aventadas para explicar a derrota, algumas embasadas outras conspiratórias. Vilões serão criados e dramas pessoais virão a tona, mas não se pode perder a perspectiva de que apenas um jogo, apenas um esporte. E como em todo jogo a derrota é uma possibilidade. A tristeza logo passa afinal esse é um ano movimentado e daqui a pouco começa um jogo que terá lances muitos mais feios e bruscos do que as entradas desproporcionais de Felipe Melo. Temos eleições a frente. A emoção ainda não acabou. E de volta ao trabalho moçada, acabaram as desculpas. 

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