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Ataques em Uganda. Tangenciando o assunto

Explico o título, a questão específica sobre a atuação do Al Shabab, movimento islamista responsável pelos ataques em Uganda que vitimaram 74 pessoas que assistiam a final da Copa do Mundo (que trato de maneira inicial no post abaixo) ainda carece de mais estudo (coisa que ainda não tive infelizmente tempo para fazer) e a trágica história de extermínios em Uganda é amplamente conhecida, entre os sempre muito bem informados leitores desse blog. Contudo, uma parte da argumentação que serve de justificação para os ataques injustificáveis contra civis diz respeito a participação do país vítima na força multinacional de paz da União Africana no Sudão.

Nesse fim de semana travei um dialogo interessante com o escritor, diplomata e professor universitário Paulo Roberto de Almeida em seu blog Diplomatizzando, no qual o autor transformou uma pergunta que fiz e a excelente resposta por ele dada em um adendo a sua postagem “Política Externa do Brasil: respostas a uma pesquisa jamais publicada”. Essa conversa foi sobre o tema da comunicação dos riscos e benefícios da participação do Brasil em operações de paz. Portanto uma das tangentes a ser consideradas na análise desse vil ataque. Transcrevo abaixo a postagem que foi feita em forma de questionário e a questão 30a motivou meu comentário, por isso transcrevo a questão e abaixo o adendo, volto logo depois:
“30. O Brasil deve enviar tropas para missões de paz das Nações Unidas
Concordo inteiramente.

30a. Por quê?
A participação na solução dos problemas de segurança internacional e conflitos regionais sempre interessa ao Brasil, país comprometido com a solução pacífica das controvérsias e cultor do direito internacional como base das relações internacionais. Trata-se, também, de demonstração de solidariedade e interesse por povos mais infelizes do que o nosso.”
Addendum:
Permito-me destacar, com o realce que merece, o comentário do leitor sempre atento Mario Machado, seguindo de minha própria resposta a ele, e que levanta a possibilidade de um trabalho a respeito do tema:
Mário Machado disse...
Professor,
Sobre a questão 30a tenho uma avaliação pessoal que os custos dessas operações são mal comunicados ao povo brasileiro, principalmente os custos humanos, afinal qualquer operação militar incorre no risco de perda de vidas. E um aumento do chamado "protagonismo" aumentaria bastante a chance de termos que assistir a chegada sempre muito triste dos heróis caídos com bandeiras em seus caixões.
Eu concordo com a participação do Brasil nessas missões, mas o processo deveria ser mais debatido.
Não sei se o senhor concorda com isso e caso não creio que sua visão enriqueceria a minha.
Abraços,
Sábado, Julho 10, 2010 3:06:00 PM

 
Blogger Paulo R. de Almeida disse...
Meu caro Mario,
Concordo inteiramente com você, e discordo, portanto, de mim mesmo.
Sim, parece contraditório, mas me explico.
Não sei bem por que razão, no momento de responder a esse questionário, dois anos atrás, coloquei "concordo inteiramente", e dei as razões para isso, quando, na verdade, eu não concordo inteiramente, e até discordo ligeiramente. Deve ter sido a pressa em responder, ou, provavelmente, um certo prurido de parecer "politicamente incorreto", ou "nacionalmente egoista", ou "mesquinho", ao responder pela negativa.
Hoje, eu responderia claramente pela negativa parcial, mas o tema é por demais complexo para receber uma resposta sempre favorável ou sempre negativa.
Provavelmente, cada caso deve ser considerado em sua dimensão própria, medirmos nossos interesses no caso, nossas possibilidades e limites materiais, nosso engajamento político e moral, nossas responsabilidades multilaterais. Não podemos nos isolar do mundo, mas também temos de ter consciência de que nosso primeiro dever é com o nosso povo e em seguida com a região na qual vivemos.

Por outro lado, concordo inteiramente com você em que o assunto deveria ser amplamente debatido pela sociedade brasileira, que não tem tido a oportunidade de se pronunciar, por exemplo, em relação ao Haiti.
Mesmo durante a ditadura militar, nossa participação nas chamadas "Forças de Paz" que intervieram na República Dominicana foi amplamente debatida no Parlamento e você pode ver esses debates nas páginas da RBPI, em 1965.
Está faltando debate sobre as missões da ONU e sobre o próprio ingresso no CSNU.
Portanto, me redimo de minha resposta, agradeço a você a correção e a oportunidade de tecer mais algumas considerações sobre o assunto, o que indica que eu poderia, eventualmente, pensar em algum trabalho de reflexão sobre essa importante questão da participação do Brasil nas operações da ONU e sobre nossa política geral de segurança no contexto multilateral.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 11 de julho de 2010) 
Fica claro que é uma tangente, mas é algo a ser pensado e analisado. Sei que há na literatura muitos e muitos livros e textos sobre as operações de paz, a história da participação brasileira e sobre suas vantagens estratégicas, mas o assunto carece de um debate público mais aprofundado que vá além do “Lula fora do Haiti” de certos grupos.

Quando do aceite do Brasil para liderar a MINUSTAH assisti diversas palestras com os comandantes das Forças Armadas, principalmente do Exercito, mas eram palestras para demonstrar as virtudes estratégicas de uma decisão já tomada. E algo tão importante e grave quanto enviar nossos soldados para caminhos perigosos (ainda que por uma causa nobre) mesmo sendo eles voluntários é preciso que a sociedade participe da decisão de enviá-los. 

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