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Uma breve nota sobre as eleições colombianas

Domingo ultimo (ontem, enquanto o Brasil vencia e apanhava da Costa do Marfim) foi levado a cabo o segundo turno das eleições presidenciais colombianas que opuseram o candidato governista que venceu o pleito segundo projeções da imprensa, ex-ministro da defesa do atual governo de Álvaro Uribe, Juan Manuel Santos (no link há um bom perfil do Presidente-Eleito da Colômbia feito pela BBC) e o candidato surpreendente e exótico (afinal em tempos anteriores chegou a mostrar as navegas em público em um comício) Antanas Mockus, do Partido Verde.

Não sou especialista em política interna colombiana, mas é fato comum que o candidato vencedor é identificado com as práticas que se chamam de Segurança Democrática, um conjunto de ações duras de enfrentamento as guerrilhas (FARC-EP, principalmente) e os grupos para-militares (AUC, principalmente). Essa política tem apresentado bons resultados e tem seu mais midiático sucesso no resgate da Senadora Ingrid Bittencourt, que fora por anos, como todos sabemos, mantida em cativeiro pelos homens das FARC.

Essa linha de enfrentamento levou a Colômbia a estreitar seus laços com Washington que ajuda a financiar parte das operações, bem como atividades de inteligência e o programa de extradição de grandes traficantes para os EUA, nada mais justo já que grande parte dos viciados que sustentam o narcotráfico estão nesse país. É claro que por motivos ideológicos e por questões de segurança o envolvimento dos EUA é tema controverso na região e causam tensão, embora, como já escrevi em outras oportunidades não se ofereça alternativas que ajudem a Colômbia a encontrar paz e unidade, os líderes regionais, claro discursam sempre, mas agem muito pouco.

Ainda assim, politicamente isolado na região, Álvaro Uribe conseguiu o que Bachelet não conseguiu no Chile, eleger seu sucessor, ainda que tenha sido decepcionante a sua tentativa “chavista” de mudar a constituição e se manter no poder por mais um termo.

Sem alongar-me demasiadamente no tema a vitória de Santos significa uma aceitação das políticas repressivas de Uribe quanto aos narcotraficantes, mas a ida ao segundo turno deixa claro, também o descontentamento da população com as denúncias de corrupção e de ligação com para-militares de congressistas e membros do governo Uribe. O analista Jeremy McDermott, enviado da BBC a Bogotá assim define a eleição de Santos:
Colombians have voted overwhelmingly for a continuation of the government's tough security policy with the election of the former defence minister.
While turnout was low, with less than 50% casting their votes, Mr Santos still has a strong mandate to govern.
He also has a healthy majority in Congress, putting him in a strong position to carry out his policies.
Antanas Mockus of the Green Party did manage to generate a great deal of enthusiasm early in the campaign. However, Colombians opted for a safe pair of hands.
They do not want to see the country return to the situation of eight years ago, when rebels were encamped on the outskirts of cities and kidnappings ran at eight a day.

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