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It’s time for... New Brazil

O conceituado jornal britânico Financial Times publicou nessa terça-feira dia 29 de junho de 2010, um “Special Report” sobre o Brasil. Não é a primeira vez que a publicação se dedica a isso. Os 15 artigos, incluindo um assinado pelo presidente Lula e um interessante perfil sobre cinco homens de negócio líderes na região que aparecem nas listas de homens mais ricos do mundo, traçam um retrato interessante sobre o Brasil, sua diplomacia, sua economia, os gargalos, a política interna, macroeconomia e contas nacionais e sistema bancário nacional.

Muito destaque está a ser dado pela imprensa brasileira e agências de noticias ao aspecto de aviso de uma dessas reportagens que urge o Brasil a se esforçar mais para alcançar o nível de crescimento, desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida e do ambiente de negócios de Índia e China. Um dos textos até recomenda que o governo dê mais atenção a resolver esses problemas e menos a querer ter um peso internacional protagônico que rivalize com os IC’s como o jornal chama Índia e China.

O jornal traça a história da economia brasileira nos últimos 20 anos lembrando a inflação anual de 2.950% ao ano, em 1990. Num quadro de moratória, faz até uma alegoria sobre o Brasil como o menino pequeno que apanha dos maiores no pátio da escola sendo a inflação um desses valentões. Nesse ponto, creio que para a tristeza ou inconformismo dos que crêem que o Brasil começou em 2003, reconhece que todos os avanços se devem aos esforços de estabilização econômica capitaneados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e levanta como uma das grandes conquistas de Lula a manutenção da ortodoxia econômica e relembra que sem a Carta aos brasileiros, não se teria superado as desconfianças que cercavam o governo petista e nisso também enfatizam a escolha de Palocci (que ressaltam foi sacado por corrupção) e do então membro do PSDB, Henrique Meireles para o BACEN.

Interessante é o artigo que reconhece a profissionalização crescente nas fazendas brasileiras que aplicam tecnologia e conhecimento em sua produção e boas regras de governança em sua administração, saindo do clichê, que ataca os produtores rurais como escravistas e destruidores da natureza, ainda que lembrem que ainda existem essas fazendas, mas argumentam e eu concordo que a há tendência é pela profissionalização e pelo uso intensivo da tecnologia, com respeito ao meio-ambiente. Contudo, é um setor que é um tanto discriminado em certos círculos, o que não é tema para o debate agora.

O jornal aborda o setor bancário nacional analisando os pontos fortes do sistema que derivam da regulação e das práxis que o tempo da hiper-inflação incutiu nas organizações, lembrou ainda as razões das altas taxas de spread e do alto retorno sobre o capital que esses bancos oferecem aos seus acionistas com pouco risco por conta das altas taxas de juros dos títulos do governo e do mercado interbancário. Por isso mesmo o IPO da filial brasileira do espanhol Satander foi a maior oferta pública de 2009 e seu valor de mercado fechou acima de bancos europeus conceituados. E um trouxe um interessante dado de que no âmbito da BM&F Bovespa se negocia mais “equity options” que qualquer outro mercado de derivativos do mundo.

Contudo, os juros para o consumidor são elevados e a taxa de poupança é baixa o que pode afetar o crescimento continuado, nenhuma novidade ai na descrição do cenário de afluxo de capitais e valorização do real.
O jornal em quase todas as reportagens aborda a evolução política e social do presidente e trata de seu carisma e popularidade elevada que faz com que suas escolhas duvidosas sejam pouco contestadas, critica o presidente que não teria pulso firme para combater a corrupção. E a isso soma críticas a política externa do Brasil, todas na mesma linha do que costumo apontar aqui, não que eu precise desse tipo de validação. Afinal vocês sabem não gosto de me esconder por trás de medalhões e opiniões de terceiros.

Ao examinar as virtudes e os sucessos do governo Lula os repórteres fatoram considerações sobre o cenário externo, que por vezes o proselitismo local impede que sejam colocados em discussão, afinal grande parte do sucesso econômico do Brasil deriva da manutenção de políticas econômicas ortodoxas (neoliberais?), da demanda asiática por commodities, em especial a demanda chinesa e do fluxo de capitais que as políticas de juros quase zero do FED permitiram, dotando assim o Brasil de recursos e de um cenário externo favorável, ainda que na comparação tenhamos aproveitado pouco desse período de expansão, mas aproveitamos o suficiente para sair cedo da crise (sem duvidas uma vitória do presidente que apostou nisso), interessante que parte da crise dos loiros de olhos azuis, financiou o tão propalado desenvolvimento do Brasil.

Creio não ser necessário que eu aborde o artigo do presidente Lula e suas ambições e planos pós-mandato que afinal receberam ampla cobertura da imprensa.  

Não gosto de copiar textos de terceiro, já disse uma vez e repito quando assim o faço sinto-me preguiçoso. Mas, desta feita o farei com mais tranqüilidade ao saber que o trecho que considerei sintético do caderno extra, também foi selecionado por Paulo Roberto de Almeida, como percebi ao ler o seu blog terça-feira ultima (também conhecida como ontem). O Trecho em questão é do texto do repórter Jonathan Wheatley. Intitulado: “Who will lead Brazil?”:
One of Luiz Inácio Lula da Silva’s great merits as president was to deepen and defend at home the orthodox economic policies launched by Fernando Henrique Cardoso, his predecessor, even though such policies might well have differed from the ideological positions he held while in opposition. Even so, Lula da Silva led his party to adopt measures whose results are now celebrated around the world, and with good reason. Roughly 10m of Brazil’s 192m people joined the ranks of the middle class between 2004 and 2008, and since 1990, poverty levels have halved. 
Yet that has not been the case in the near abroad. In meetings with regional leaders, such as Venezuela’s Hugo Chávez or Fidel and Raul Castro in Cuba, Lula da Silva has often enthusiastically praised the merits of socialism – even though such ideas are notably absent back at home.
Moisés Naím, editor of Foreign Policy magazine, makes a trenchant point. “Mr Lula da Silva has been very good to Brazilians, but very bad for millions of his neighbours,” he says. “Those despots who have the luck to count themselves among the Brazilian president’s friends, even as they ruin their own countries while Brazil progresses, know they can count on his help or, at least, complicit silence.” 
Either way, the country’s clout in international affairs is now an acknowledged fact. Still, it will be interesting to see whether Brazil continues its rainbow approach, which embraces Iran, among others, when Lula da Silva’s presidency ends this year and the country loses the shelter of his charisma, charm and prestige.
Yet despite the important successes of the “new Brazil”, many of the failings of the “old Brazil” remain. Most of them will be on view when the world comes to Brazil during the 2014 World Cup and the Olympic Games two years later.
The state remains remarkably inefficient and its bureaucracy a barrier to business: Brazil ranked 129th out of 183 countries in the World Bank’s latest Doing Business report, worse than Nigeria. The need to boost productivity is especially important given the currency’s recent strength, which threatens to bury local companies with cheap imports. “If the real continues to strengthen as it has, by the 2016 Olympics, Brazil won’t have any domestic companies,” one economist joked cruelly. 
Poor infrastructure – less than 10 per cent of roads are paved – remains a significant bottleneck. Ambitious plans are afoot, including a high-speed train link joining sober São Paulo to its historic rival, Rio de Janeiro. But this infrastructure project, at least, is unlikely to be completed in time for the World Cup as originally planned.
Brazil also remains among the world’s most unequal societies. Politicians still think little of stealing public money – fighting corruption was not one of Lula da Silva’s highest priorities. The drug trade is a growing problem not just in Brazilian cities, but also among the outer provinces that serve as transshipment points. As for violence, the death tallies notched up by Brazil’s thuggish police force can make paramilitary groups elsewhere look almost benign.
And yet the shadows are always darkest where the sun shines brightest. What lends the new Brazil its excitement and promise is that the political and economic stability the country has recently won make such problems seem manageable and solvable. 
Nowhere will that be more apparent than in the upcoming presidential elections. On current form, no matter which of the two main candidates wins, it looks as though Brazil will transfer power from one democratically elected president to another for the first time without a financial or economic hiccup.  

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