Hoje o mundo está a comentar a prisão de dez supostos agentes de inteligência russos nos EUA, uma cena digna dos tempos da Guerra Fria. Operações de inteligência e espionagem são corriqueiras entre as nações, embora sejam graves, são parte do jogo. É claro que é embaraçoso para a agência que tem seus espiões capturados e alguma retaliação é necessária para acalmar o ultraje público.
Começo esse texto com essa digressão por conta que é esse tipo de operação de infiltração e coleta de informações uma das facetas mais importantes para que se consiga conter em um primeiro momento e diminuir essa verdadeira praga que devasta instituições e escraviza milhares espalhando violência e dor para que alguns possam ter momentos de um suposto prazer que nada mais é que se alienar da realidade.
Os viciados devem receber assistência para conseguir se livrar da escravidão química que convertem suas vidas e de seus amigos e familiares. Parece duro e desumano o que escrevo, mas viciados não são a meu ver vítimas inocentes por que as informações estão por ai e todos sabem dos perigos que se associam ao uso recreativo de drogas, mas uma vez escravizados, sim com ênfase na situação de servidão, tornam-se “zumbis” que financiam a máquina criminosa dos narcotraficantes. Isso além dos custos humanos e de saúde. Esses seres estão expostos a doenças e por vezes ainda trazem crianças ao mundo, inocentes que nascem em lares desfeitos e com a saúde debilitada.
Acredito, vou reiterar, que os viciados devem receber tratamento e apoio para se libertarem dos vícios (pareceu com proselitismo evangélico). Todo analista de relações internacionais tem alguns fetiches (os acadêmicos chamariam de área de concentração) é preciso saber disso, afinal conhecimento de suas escolhas arbitrárias de seu próprio eixo axiológico. Digo isso por que me repito aqui na necessidade do combate ao narcotráfico que de fato ameaça as instituições e a democracia no continente. É uma ameaça real, maior que qualquer outra que os especialistas em segurança, na mídia, gostam de alardear. A situação na América Central e do Norte exige concertação internacional para que se possa combater o tráfico e consumo de drogas de maneira eficiente já que as redes do tráfico são transnacionais e lucrativas, como os embates entre grupos de traficantes não nos deixa esquecer.
Os cartéis no México são eixos logísticos na distribuição de drogas na América do Norte, nos Estados Unidos em espacial, e estão cada vez mais sofisticados em seus meios de lavagem de dinheiro, contrabando de armas e seres-humanos há cartéis como os Zetas (ligados ao cartel do golfo, que travam uma guerra sangrenta com o cartel de Sinaloa) que são forças especiais que agem protegendo as rotas de tráfico e são capazes de impor uma resistência muito forte as forças do governo mexicano, que não pode ser deixado para lutar sozinho. (já escrevi sobre isso algumas vezes admito, por isso tratei como fetiche).
É preciso que o governo dos Estados Unidos e sua unidade subnacionais combatam a venda das drogas, desestimulem o seu uso, ofereçam meios de recuperação dos viciados (o politicamente correto seria dizer dependentes, não é?) e que limitassem a movimentação dos recursos espúrios desse comércio se movesse alimentando o sistema. Não quero dizer que as forças policiais e que o departamento do tesouro não agem, mas está obvio que a ação não é suficiente.
O assunto é sempre abordado com discursos vibrantes e emocionais, em geral, quando alguma das muitas quadrilhas de narcotraficantes ataca de maneira mais veemente as forças de segurança dos Estados, contudo carece de follow up de ações internacionais de coordenação. Semana passada a ONU liberou uma série de documentos que fazem um levantamento do tamanho do poder econômico do trafico, recomendo que busquem e leiam (se minha conexão estivesse melhor colocaria os links, alguns deles estão disponíveis no blog do diplomata, escritor e professor Paulo Roberto Almeida – Diplomatizzando).
Nessa segunda-feira, dia 28 de junho, um candidato mexicano (Rodolfo Torre Cantu) foi morto por narcotraficantes, mais uma baixa e mais uma clara demonstração inequívoca do tamanho da ameaça que essas quadrilhas são as instituições democráticas e isso sem contar as vítimas inocentes nas ruas, as pessoas que são obrigadas a viver em um ambiente de medo e de terror sendo vítimas de traficantes, policiais corruptos, policias deturpados pela exposição prolongada aos enfrentamentos e com pouca cultura de respeito aos direitos humanos e liberdades civis e a maior parte dos que vivem essa dura e desumana realidade são os mais pobres, uma injustiça extra que recaí sobre eles. Mas, na América Latina a insegurança alimentada pelos recursos do narcotráfico estão a transformar as cidades em espaços de mínima interação social, onde todos vivem em verdadeiros castelos medievos buscando meios de mitigar o medo de ser uma vitima dessa violência que no “varejo” é bastante aleatória.
Essa dura realidade precisa de coordenação, mas iniciativas nesse campo sempre são controversas basta ver as reações extremadas a planos como Plan Mérida e o Plano Colômbia. Embora, muitos dos que acusam esses planos nunca ou quase nunca apresentem planos alternativos. Uma coisa, contudo, reside clara para mim, é preciso um plano de enfrentamento, de redução de danos e de prevenção ao uso. Nisso está incluso, é óbvio, planos para oferecer alternativas para os que plantam drogas e aos “soldados” dessas organizações, em outras palavras é preciso coordenação internacional e planos abrangentes em suas estratégias, com táticas locais e isso é factível, embora, não seja algo em curto prazo.
No caso do México não faltam críticas a política de enfrentamento de Calderón e principalmente denúncias de violações de direitos humanos por parte das forças de segurança do Estado, principalmente pelo uso extensivo das Forças Armadas no combate o que é rebatido pelos partidários do governo com a tese que o recrudescimento do combate deriva do aperto que os cartéis estão sujeitos devido ao plano. Aqui mesmo nesse blog essas questões são abordadas vale uma pequena pesquisa nos textos já escritos. Não posso por princípios pessoais transigir na aplicação dos direitos humanos e das liberdade e garantias democráticas, mas o abuso não tolhe o uso, isto é, não são os caso de excessos que inviabilizam a ações do governo. Pelo menos desde que esses abusos sejam condenados, investigados e não seja parte de uma política deliberada declarada ou velada do Estado.
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