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Dunga, Globo, palavrões, oprimidos e política nacional e internacional

Ok, não irei exagerar aqui a importância do Dunga no grande esquema das coisas nacionais, afinal o treinador da seleção é apenas um treinador de futebol, não é nenhuma autoridade e suas decisões nos afetam por longos ou breves 90 minutos (a depender do resultado e do andamento da partida), mas não mudam a vida de ninguém, exceto os jogadores que são ou não por ele convocados e escalados. A postagem será longa, tenham coragem.

O Dunga jogador sempre desfrutou da minha simpatia, talvez por ter sido jogador de basquete, esporte em que uma boa marcação, uma defesa impenetrável compõe o que se poderia chamar em uma analogia de “basquetebol arte, basquetebol moleque”. Sempre tive apreço por “carregadores de piano”, gostava da determinação e da ética de trabalho que a férrea determinação de Dunga transparecia.

Quando este foi indicado para ser o treinador da seleção, como a maioria dos brasileiros, que acompanham o futebol fiquei estarrecido, com o fato de sua estréia nessa nova carreira fosse logo no posto mais visado, desejado de treinador da seleção nacional. Que não obstante sua relevância é também um moedor de pessoas. É fato notório e óbvio para qualquer um que o treinador da seleção, seja ele quem for, será exposto a várias pressões, de patrocinadores, de críticos, de torcedores, de jogadores, de outros treinadores de olho no seu cargo.

Desejar unanimidade em um cargo tão visado é tão improvável quanto um político desejar 100% de aprovação, que nem em regimes totalitários é alcançado. E nesse ponto o treinador parece ter dificuldades de lidar com as críticas, isso se deve em parte a índole do treinador, suas concepções do que seria o papel da imprensa e principalmente das críticas exageradas e cruéis que foi exposto na derrota de 1990. E, também de um sentimento que seu título mundial de 1994 é de alguma forma contestado, por ter sido alcançado de maneira aguerrida vivendo do brilho de uma dupla de ataque inspirada e de um senso tático e de doação na defesa sem paralelo nas seleções brasileiras anteriormente vitoriosas, que se aproveitavam mais do jogo envolvente.

O jogador Dunga foi sem dúvidas vitorioso e parecia se nutrir do desejo de mostrar a imprensa que estavam errados para obter um rendimento mais elevado para manter a concentração, parecia estar imbuído de tal desejo de calar os críticos que o faziam trabalhar mais duros nos treinos e ignorar as dores naturais da prática de esportes em alto rendimento, como diz a estrela do basquete brasileiro Oscar Schmidt “A dor faz parte do uniforme do atleta”.

Muito bem pode estar ai a raiz da eterna contenda de Dunga com a imprensa, que nasce de um sentimento até certo ponto justificável de mágoa com críticas passadas, duras e descabidas (claro Dunga poderia ter feito uma falta por trás em Maradona naquela fatidiga jogada que resulto no gol de Caniggia que eliminou o Brasil em 1990, mas como teria sido a reação a uma eventual expulsão do volante?)

Mas, o mundo mudou Dunga que fora contestado em 1990, foi um dos heróis de 1994, capitão do Tetra. Recebeu a Copa do Mundo FIFA das mãos do Vice-Presidente Al Gore, naquela tarde na Califórnia. Voltando ao treinador Dunga, este sofreu para aprender a comandar a seleção, principalmente na parte tática e nas convocações, em seus primeiros jogos marcou o que seria o estilo Dunga, ao não convocar os “medalhões” de 2006 e a colocar Kaká no banco. Foi vaiado e contestado pela torcida, com gritos de “Adeus Dunga” no Maracanã e outros estádios, contudo, conquistou a Copa América e com um time pragmático e preocupado com a defesa, conquistou, também a classificação antecipada para a Copa do Mundo, além da Copa das Confederações. Um currículo que dissipou as dúvidas quanto a sua capacidade como técnico, mas não dissiparam as críticas quanto ao estilo adotado pela seleção privilegiando a marcação e o jogo de contra-ataque e com dificuldades de armação dado a qualidade de passe dos volantes e pela convocação de jogadores muito criticados pela imprensa.

Isso gerou uma tensão que somou o histórico de vida de Dunga, construindo uma verdadeira guerra-fria entre o treinador da seleção e a imprensa esportiva, que degenerou para troca de farpas e ironias. É fato que muitos colunistas esportivos são críticos ferrenhos e até injustos do treinador, algumas redes a cabo como a ESPN, ESPN Brasil, conjuram suas posições críticas a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol – CBF a posições duras quanto ao estilo adotado por Dunga, o que leva a interpelações mais agudas em entrevistas ao que reage muito mal o treinador, sempre com respostas irritadiças e por vezes deselegantes, isso quando não diretamente não respostas, mas críticas as perguntas.

A relação é tensa, principalmente por que a imprensa insiste em se posicionar livremente e criticamente, por vezes não sendo patriota e torcedora, como parece querer o treinador, ao melhor estilo “Ame-o ou deixe-o”, parecido com o estilo do governo Lula e seus partidários que qualificam qualquer jornalismo que apresenta críticas ou denúncias como golpismo, a infame expressão PIG – Partido da Imprensa Golpista, é comum nas “flame wars” na internet. Nesse ponto Dunga representa zeitgeist político do Brasil, em que apesar da proliferação de meios de interação e comunicação, vivemos tempos em que a crítica se tornou sinônimo de traição ou de torcida contra.

Ora é dever da imprensa ser cética e crítica com aqueles que desejam o poder, que ocupam posições públicas, que devem ser sempre bem esmiuçadas e é resguardado em um regime democrático o direito de divergir. Nenhum político gosta de ser contestado. Todos eles se arrogam ter a solução certa para os problemas nacionais, afinal se não acreditassem ter melhor capacidade para governar ou legislar, por que se candidatariam (isso sem levar em conta os ladrões que buscam cargos públicos por motivos espúrios), mas independente disso, saber conviver com críticas e posições distintas é uma realidade da democracia e da vida social (quem de nós nunca assistiu a um filme no cinema por que a namorada queria? Ou há algum homem que realmente queria ver “sex in the city”? Creio que as moças também passam por cenários semelhantes).

Claro que não é preciso se calar e aceitar as críticas da imprensa é possível e até saudável (a depender da forma) que se rebata a imprensa e nisso eu até admirava a tenacidade em se defender do treinador Dunga, por vezes sendo, como disse acima descortês e irônico. Contudo, domingo na coletiva após o jogo o treinador perdeu a mão, depois de uma partida tensa graças a violência da equipe da Costa do Marfim e da conivência diante disso da arbitragem e a injusta expulsão do meio-campista Kaká, o treinador não se conteve ainda no campo proferiu palavrões contra a estrela adversária, o que é falta de espírito esportivo, mas perdoável. O exagero se deu nos palavrões e ofensas durante a coletiva de imprensa. Dunga projetou uma imagem rancorosa e pouco educada. O treinador que gosta tanto de falar diretamente ao torcedor deveria ter pensado nesse torcedor antes de proferir tais impropérios em público e numa entrevista coletiva.

Agora surge na internet com força uma corrente que se aproveita de uma brincadeira divertida que foi/é o “Cala Boca Galvão” no Twitter para criar um movimento de desagravo ao treinador que estaria sendo vitima de retaliação da Rede Globo ao impedir que esta tivesse acesso aos jogadores para exclusivas.

Fato é que o jornalista vítima dos impropérios de Dunga foi o Alex Escobar da rede globo que durante anos trabalhou no canal pago Sportv, pertencente ao conglomerado de mídia Globo. Um jornalista que por sinal sempre foi muito tranqüilo com relação ao treinador e que é notabilizado por suas matérias voltadas ao aspecto mais lúdico do jogo.

A Globo é claro reagiu as ofensas a seu jornalista, goste ou não da rede seria de uma covardia sem par se esta não procedesse dessa maneira, afinal quem trabalharia em uma empresa que permita que você seja ofendido no exercício de suas atribuições sem protestos?

A rede globo tem uma lista enorme de “inimigos” de pessoas que não gostam da rede, que a acusam de manipulação da opinião pública, uma manipulação tão denunciada que é no mínimo ineficaz se olharmos objetivamente a questão. Estes grupos de opinião, que tem o legitimo direito de ter essa visão estão agora usando o entrevero entre a rede e o treinador para catapultar suas teses anti-globo.

Nesse sentido há uma bela coerência (para usar uma palavra símbolo do Dunga) no meio de ver o mundo dessas pessoas é fato que a maior parte dos que se posicionam contra a rede são esquerdistas e tem nesse grupo de comunicação um inimigo comparável ao que têm nos EUA no plano internacional, e tal qual procedem no campo internacional alçam ao heroísmo qualquer um que se indisponha com seu inimigo e assim conseguiram de certo modo equiparar Dunga a Chávez. Não importa para muitos o teor da discussão, os porquês cada um se posiciona contra o outro. O que importa é que o episódio possa ser encaixado na retórica da luta do oprimido contra os poderosos. Nesse caso pouco importa a falta de educação e de espírito esportivo de Dunga, ou que a maior parte dos jornalistas da globo, em geral e do Sportv, em particular, sejam o que poderia se chamar de chapa branca em relação ao Dunga. Com crítica leves, quando comparadas as de outros programas esportivos, isso para manter apenas na esfera esportiva.

Essa campanha de desagravo ao treinador deve ser analisada com cuidado, não contem a espontaneidade e o bom humor da “Cala Boca Galvão” e aderir a ela pode ser servir a interesses que em nada tem a ver com que dizem que o movimento se pretende que é defender o treinador de uma campanha difamatória. Ao aderir a essa campanha pode-se involuntariamente estar a aderir a tese da limitação da liberdade de expressão e de imprensa, um caminho perigoso como nos ensina a história do Brasil no século XX.

Exagero pode estar a pensar alguns de vocês afinal é apenas futebol, mas repete o método aplicado na política e mostra bem, como a adesão a teses e correntes de opinião deve ser feita com a devida moderação. Eu creio que o direito de divergir é sagrado, tanto para imprensa, como para o Dunga, como para qualquer um de nós. E não podemos prescindir dele, mas há limites no debate público e as boas maneiras são um deles. E no caso em questão é uma questão de espírito esportivo.

Eu que já debati vigorosamente com amigos por conta de defender o estilo dunga e suas escolhas para a seleção, mas concordar com isso não é concordar com ofensas e chiliques, o treinador tem que perceber que não importa quão corneta (aquele que apenas fala mal na gíria do futebol) é o repórter, ele deve ser portar com a dignidade que sempre transpareceu. Dunga deve se portar a com o profissionalismo e deferência pela seleção brasileira tão preconizados pelo próprio Dunga. Afinal, meus caros, sem exagero, o futebol é um símbolo nacional, algo que projeta bastante a imagem do Brasil.

Na esfera do debate que se segue vemos que ele cai nas mesmas formas e táticas do debate político normal, sobretudo, na internet, onde a virulência é diretamente proporcional ao pouco cuidado com as fontes e a verdade das afirmações. Como já atrevidamente aconselhei em outro texto, sejam, meus amigos, criteriosos com o que lêem e com as teses que subscrevem. Seja qual for a posição que adotem que seja por convicção bem refletida, com argumentos racionais.

Para fechar esse texto devo dizer que estou a torcer com vigor pela vitória do Brasil e que Dunga tem o direito de se indispor com a imprensa, mas deve o fazer com moderação, como se adverte ao final do comercial guerreiro que ele mesmo estrela. Afinal guerreiro sabe escolher suas batalhas e suas armas, mesmo as armas retóricas. O resto é cortina de fumaça para que o treinador tenha mais uma vez seu inimigo unificador que parece gostar e para não ter que responder quanto a certas deficiências do jogo da seleção, deficiências dentro do estilo que ele mesmo delineou como sendo o seu.
______________________ 
PS: Dunga já se desentendeu com jornalistas da ESPN, do portal Terra e os oportunistas não criaram campanhas de desagravo. E já ofendeu outros repórteres anteriormente. Mas, não era Copa do Mundo. O palco máximo do futebol.
PPS: As ofensas do Dunga ao Drogba foram completamente sem propósito. É preciso é saber vencer Dunga, que tal aprender um pouco de ‘fair play’. Por sinal foi muito mais grave do ponto de vista esportivo ofender ao jogador marfinense, ofender o juiz já é cultura, então há uma permissividade a isso. Há quem ache o decoro uma “frescura” eu não. 

Comentários

Anônimo disse…
PARABÉNS DUNGA TU É O CARA NUNCA SE SUBMETA AOS CAPRICHOS DA rede globo de manipulação UM DIA ACREDITO QUE NOSSO PAÍS VAI PODER DIZER …ESTAMOS LIVRES DAQUELA emissora (globo) que nos escravizou e nos enganou tanto desde a sua fundação…A GRANDE MIDIA QUER BOTAR A MÃO NO DINHEIRO QUE HOJE VAI PARA INFRAESTRUTURA E NO COMBATE A DESIGUALDADE SOCIAL
REDE GLOBO USA CONCESSÃO PÚBLICA DE TELEVISÃO PARA FAZER PROPAGANDA SUBLIMINAR DE JOSÉ SERRA, CANDIDATO DO PSDB
A VITÓRIA DE DILMA NAS ELEIÇÕES DO FINAL DO ANO SERÁ A SEGUNDA DERROTA DA GRANDE MÍDIA E UMA CONQUISTA DA DEMOCRACIA BRASILEIRA …O POVO NÃO É BOBO ABAIXO rede globo!!!

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