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Uma nota sobre o vazamento de correspondências ente Obama e Lula

Em síntese poderia dizer apenas: “mas, o Brasil não era um país protagonista e Amorim, Garcia e Pinheiros os pais da nova PEI?”

Não iria escrever hoje, afinal fim de semana é um tempo para descansar, mas aqui estou eu na madrugada esperando a minha internet ter condições de enviar um texto, ainda trabalho no plano B, isto é, minha conexão ainda não está normal. Mas, o vazamento da carta de Obama, me fez querer escrever.

Não entendi bem, primeiro a Declaração de Teerã era prova de uma nova era de ação independente e uma prova cabal da ascensão dos emergentes, do Brasil, em especial, agora uma carta do Presidente Obama ao Presidente Lula, na qual se deixa entender pelo teor dos trechos tornados público, que o Brasil agiu como “Proxy” de Washington no Oriente Médio, e mais a ilação natural que se faz é de que a reação rápida do sexteto seria uma “traição” ou uma volta atrás de palavra dada.

Desde o inicio eu venho sustentando que muitos elementos nos faltam para criar uma opinião abrangente do tema, tenho como norma ser cauteloso e sempre evitar reações ufanistas, ou o contrário disso também.

Nesse caso a própria carta “vazada” trás elementos que mostram a disposição de Obama por sansões, ainda mais por que ainda que tenha dito que a troca tenha sido tratada como algo que “geraria confiança e diminuiria as tensões regionais” fica claro que não só a troca seria suficiente, mas sim a questão das inspeções da AIEA e do jogo duplo do Irã, que é flexível em diálogos com alguns interlocutores, mas não oficializa essa posição.

Enfim, nada de verdadeiramente novo surge apenas uma clara tentativa de apelar aos sentimentos patrióticos de alguns que com certeza se indignarão com a “traição” americana e com aqueles que criticam o presidente Lula, o vírus da paz.

Quanto ao vazamento em si, é lamentável que ocorra (não para nós estudiosos das relações internacionais, historiadores e jornalistas), mas lamentável do ponto de vista da manutenção do sigilo profissional que devem ter aqueles que tiverem acesso a essa carta, e o próprio Estado que deveria manter a confidencialidade de cartas com esse caráter, a meu ver Noblesse Oblige, (mas isso é um tanto utópico, né?), então fico com o argumento do sigilo profissional.

E como sempre fico no aguardo de novos desdobramentos que possam nos ajudar a elucidar esse quebra-cabeça (daí meu logo) sem fim das relações internacionais, mas que é muito estranha essa tese de que o Brasil teria agido sob os auspícios de Washington. A menos não é condizente com o discurso que dá tom a Política Externa do Brasil. 

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