Pular para o conteúdo principal

Tráfico de Drogas. Segurança Pública e Segurança Nacional

Quando da posse de Brack Obama fiz um levantamento dos problemas regionais do mundo que de certa maneira estariam na agenda do Departamento de Estado, na América Central a maior fonte de instabilidade é sem sombra de dúvidas a ação das quadrilhas armadas conhecidas como “Maras” (sim, sou repetitivo nesse assunto) essa gangues de rua, contam com elementos que participaram dos sangrentos confrontos que assolaram a região nas décadas de 1980, com movimentos revolucionários, contra-revolucionários, grupos de extermínio, que imigraram para os EUA e lá passaram a controlar o tráfico de drogas e prostituição junto a suas comunidades étnicas e gradativamente foram se tornando entidades criminosas, ligadas em redes transnacionais sofisticadas, que fornecem mão-de-obra na rua, além das atividades de crime organizado mais tradicionais, digamos assim.

O consumo de drogas é responsável por alimentar a essas redes criminosas que se alinham a cartéis, autoridades estatais corrompidas, guerrilheiros. Criando uma assim uma situação delicada para os estados centro-americanos, que são frágeis em instituições e se vêem obrigados a lidar com criminosos bem armados, bem articulados, que se infiltram nas regiões mais pobres das cidades e das regiões de agricultura precária, usando essas comunidades pobres como escudo para suas atividades e como campo de recrutamento de soldados para essas gangues, que são soldados leais as suas regras da “rua” e seus códigos de conduta.

Ou seja, há por todo o continente um contingente de jovens viciados, criminosos, inescrupulosos, que possuem laços afetivos e de lealdade absurdos com suas gangues. Esses verdadeiros exércitos de criminosos impõem sérias dificuldades a vida das pessoas comuns que querem ir e vir com garantias que terão seu patrimônio e suas vidas preservadas. Basta olhar a situação do México, da Jamaica, de Honduras, El Salvador, Guatemala e mesmo cidades nos Estados Unidos (por exemplo, Los Angeles, Austin, El Paso e por ai vai) para perceber que essa situação pode minar a estabilidade de governos, criando possibilidades de que ocorra a falência de estados na América Latina, ou mesmo de guerras-civis.

Na América do Sul a situação não é diferente a Colômbia é assolada por uma insurreição de inspiração comunista das FARC-EP que instigou a criação de grupos paramilitares que se enfrentam com as forças estatais gerando conflitos sangrentos que prejudicam severamente a população e que usam o tráfico de drogas, seqüestro e tráfico de armas para financiarem suas operações. A situação do plantio e processamento de drogas não se confina a Colômbia, sendo ativa no Paraguai, Venezuela, Equador, Bolívia e Brasil.

Nossas cidades estão infestadas de viciados, escravizados pelas drogas, cometendo crimes para sustentarem seu vicio nefasto. São dignos de pena, essas almas viciadas, que de certo devem ser atendidas por programas governamentais que possam livrá-los da escravidão química. Cada um daqueles zumbis nas “crackolandias” da América Latina, em geral, e do Brasil, em especial, representa uma família destruída, vidas e possibilidades cerceadas. Além dos riscos de saúde pública, já que esses viciados são mais propensos a toda sorte de doenças.

Além, desses efeitos extremos e públicos há muitos outros exemplos de famílias destruídas por outras drogas ilícitas, que são glorificadas na cultura jovem, entre endinheirados, artistas e até “intelectuais”.

Muito se fala em segurança nacional, aventam a possibilidade da ganância estrangeira sobre nossos recursos naturais e preparam doutrinas e planos de defesa para essa eventualidade. Sou adepto do “si vis pacem para bellum”, contudo, não podemos ficar cegos a maior ameaça as nossas instituições, a saúde de nossos jovens, a paz em nossas comunidades e a saudável unidade de nossas famílias (não necessariamente a família tradicional) que é o tráfico de drogas e seu consumo.

Se for séria a idéia de termos um Conselho de Defesa Sul-Americano, este não pode só se ocupar de tratados militares entre países da região com potências externas (seja Rússia, China ou EUA) e sim tratar desse problema sério que ameaça desestabilizar estados, corromper forças militares, e jogar nossas cidades numa espiral sangrenta de violência. Não é uma questão de ideologias, ou de preservação do plantio tradicional de coca e sim uma questão pragmática de sobrevivência e de racionalidade econômica. Afinal, os custos da insegurança pública são astronômicos e causam prejuízos em todas as áreas da economia do transporte ao turismo.

É muito fácil criticar o Plano Colômbia, ou Plan Mérida, mas o que é preciso é apresentar alternativas, planos de enfrentamento dessa situação que atenuem violações dos direitos humanos e baixas civis, mas passou da hora da América Latina, ou pelo menos a do Sul, enfrentar o tráfico de drogas de frente, com uma estratégia ampla que a meu ver deve conter confrontação dos traficantes, redução de danos (efetiva), prevenção ao consumo e lavagem de dinheiro. Tudo isso feito em cooperação, é possível, embora as diferenças políticas, falta de recursos e ideologias que prevalecem no continente, fazem essa proposta parecer utópica. Mas, algum nível de cooperação é factível, afinal as sociedades sofrem do mesmo problema, a mãe de um drogado sofre do mesmo jeito seja no Rio de Janeiro, Caracas, Buenos Aires, Kingston, Tegucigalpa, Nova Iorque, La Paz, Ciudad Juarez, etc.

Um sofrimento parecido, se não igual, afinal fazer hierarquia de sofrimento é algo que se for factível deve ser feito por profissionais de saúde mental, ao sofrimento de quem perde um ente querido em atos violentos ligados a criminalidade. Nesse caso das drogas, como no tráfico de armas a segurança pública é uma questão de segurança nacional. Pode ser uma visão simplista da segurança nacional, mas o debate é saudável, então deixo essas questões para vocês refletirem.

P.S: Pretendia incluir links para consubstanciar algumas de minhas afirmações, contudo, como ainda opero no infame plano B, a pesquisa fica muito dificultada, mesmo com os endereços “favoritados”, assim sugiro que busquem as informações que julgarem necessárias ou me escrevam ou coloquem nos comentários. Sobre as Maras, há um bom documentário do Discovery Channel, “Maras: uma ameaça regional” além de artigos que já listei aqui no blog, que podem ser úteis a quem não conhece o assunto. Sobre a Jamaica os noticiários de hoje dão conta de quão real é a ameaça desses grupos de traficantes. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise no Equador

Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul. Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições . Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas. Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise

Meus leitores fiéis, pacientes e por vezes benevolentes e caridosos

Detesto falar da minha vida pessoal, ainda mais na exposição quase obscena que é a internet, mas creio que vocês merecem uma explicação sobre a falta de manutenção e atualização desse site, morar no interior tem vantagens e desvantagens, e nesse período as desvantagens têm prevalecido, seja na dificuldade na prestação de serviços básicos para esse mundo atual que é uma boa infra-estrutura de internet (que por sinal é frágil em todo o país) e serviço de suporte ao cliente (que também é estupidamente oferecido pelas empresas brasileiras), dificuldades do sub-desenvolvimento diria o menos politicamente correto entre nós. São nessas horas que vemos, sentimos e vivenciamos toda a fragilidade de uma sociedade na qual a inovação e a educação não são valores difundidos. Já não bastasse dificuldades crônicas de acesso à internet, ainda fritei um ‘pen drive’ antes de poder fazer o back up e perdi muitos textos, que já havia preparado para esse blog, incluso os textos que enviaria para o portal M

Extremismo ou ainda sobre a Noruega. Uma reflexão exploratória

O lugar comum seria começar esse texto conceituando extremismo como doutrina política que preconiza ações radicais e revolucionárias como meio de mudança política, em especial com o uso da violência. Mas, a essa altura até o mais alheio leitor sabe bem o que é o extremismo em todas as suas encarnações seja na direita tresloucada e racista como os neonazistas, seja na esquerda radical dos guerrilheiros da FARC e revolucionários comunistas, seja a de caráter religioso dos grupos mulçumanos, dos cristãos, em geral milenaristas, que assassinam médicos abortistas. Em resumo, todos esses que odeiam a liberdade individual e a democracia. Todos esses radicais extremistas tem algo em comum. Todos eles estão absolutamente convencidos que suas culturas, sociedades estão sob cerco do outro, um cerco insidioso e conspiratório e que a única maneira de se resgatarem dessa conspiração contra eles é buscar a pureza (racial, religiosa, ideológica e por ai vai) e agir com firmeza contra o inimigo. Ness