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A crise grega. Ou “me dê sua força Pégaso!”

Ok, o assunto é sério, aliás, é muito grave, mas não resisti a colocar no título a famosa frase de Seiya, cavaleiro de pégaso (da série de animes e mangás Cavaleiros do Zodíaco), na trama da animação os cavaleiros usavam suas armaduras e poderes sobrenaturais para proteger e servir a deusa Atena, ou melhor, sua re-encarnação a jovem Saori. Portanto, pareceu-me pertinente evocar a imagem desses cavaleiros multiétnicos que se juntavam para salvar e proteger a Atena, uma metáfora perfeita para esse momento em que a UE e o FMI se juntam para salvar a Grécia.

Não sou especialista em finanças internacionais, embora conheça algo sobre o assunto, tampouco a União Européia e os meandros de sua política são minhas áreas de expertise e como ainda opero no plano B, não tenho conseguido baixar papers e artigos que me ajudem a criar uma análise consistente da situação grega, indo além do noticiário.

Até agora sei sobre essa crise o básico, ou seja, que o governo grego expandiu sobremaneira seu endividamento para dar conta das benesses concedidas ao seu enorme funcionalismo público, além de outras medidas de welfare. Esse endividamento elevado agora ameaça vários de seus credores que podem ter enormes prejuízos com um default grego. A maioria dos analistas e políticos demonizam insistentemente, mas devem receber seu de volta dinheiro, mesmo por que os fundos que os bancos alocam, são de seus correntistas, são daqueles que investem para ter fundos de aposentadoria, ou para acumular capital para grandes compras (casa, universidade dos filhos, viagens e por ai vai). Eu sei é muito fácil odiar os especuladores, colocar toda a culpa neles, assim os políticos e sindicalistas se eximem de suas culpas.

A reestruturação da divida grega, por que em algum momento terá que ser reestruturada, resultará em dificuldades para economia grega, mas será um preço que terá que ser pago por anos de administração pública perdulária e benesses para a população, como a tenra idade de aposentadoria dos gregos, ou pensão vitalícia para filhas solteiras de militares e policiais. Essas medidas são vistas pelos sindicatos e por populares como “direitos” a serem preservados, daí o clamor das ruas e o uso político da crise como faz o partido comunista grego (sim, ainda existem comunistas, interessante foram as faixas comunistas nas ruínas gregas, pareceu apropriado, se é que me entendem [O link que coloquei é impressionante, sem querer ofender a quem compra essa forma de ver o mundo, principalmente as noticias relacionadas]). Muito sofrimento aguarda os gregos, que podem ter uma década como foi à década de 1980 na América Latina, quando estourou a crise das dívidas externas, com diversas moratórias pela região.

Outros blogs que acompanho fizeram boas análises e bons clippings de artigos sobre o assunto, do Dr. Maurício Santoro, em seu “Todos os fogos o fogo”, falou em “A Europa na encruzilhada”, já meu amigo e parceiro Vinicius Takacs, fez um levantamento da crise e da fúria nas ruas gregas no “Caos-RI”.

O diplomata e escritor profícuo Paulo Roberto de Almeida, em seu “Diplomatizzando”, tratou de crise em uma visão pessimista em que diz “Devo dizer que concordo inteiramente com ele e vou além: a Grécia NÃO devia ser ajudada. Deveria quebrar, ser obrigada a renegociar a sua dívida (com perdas para os financiadores e não para os contribuintes) e assim aprender a viver com seus próprios meios, não com dinheiro emprestado irresponsavelmente.” E, também, critica uma “vaca sagrada” do jornalismo esquerdista (quem for grande fã desse jornalista vá reclamar com o PRA e não comigo, ok?) com certa veemência, no texto “Noticias do jornalismo ordinário: o caso grego”.

Não gosto de fazer clipping ou apanhado de idéias de outros blogueiros, não por orgulho, mas por linha editorial, e por considerar que há quem faça isso melhor que eu, contudo, nesses dias de pane operacional na minha internet, tenho que apelar para isso, assim não os deixo na mão.

Não sei se serve de consolo, mas estou a preparar textos mais profundos para os próximos dias, basta que minha agenda permita a pesquisa e o tempo para escrever, como vocês já devem ter percebido pela enormidade de erros de digitação e de português que estão a escapar nos últimos dias.

Quanto ao assunto agora em voga, creio que nem a venda das armaduras de ouro, prata e bronze dos cavaleiros de Atena, não conseguiriam aplacar a enorme divida grega alimentada por um governo perdulário, como os outros em crise. É preciso separar essa crise da crise financeira que teve origem no setor privado. Parece lógico que pregar qualquer solução keynesiana não seria muito aplicável no atual ambiente. Afinal, aumentar gastos públicos seria suicídio econômico para a Grécia e uma ferida quase mortal no Euro.

E numa análise ainda insipiente, de minha parte, de nada adianta disponibilizar mais dinheiro para quem está endividado, a saída passa pela redução drástica de gastos, que são impopulares e que alimentarão ainda mais a revolta nas ruas, contudo, não sei se esse programa será implementado a contento. Parece-me que a palavra de ordem é austeridade e responsabilidade fiscal.

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P.S: Claro, que o tema nuclear é o tema da hora, mas prefiro o desenrolar completo, que de toda maneira como disse em outros textos, só teremos certeza da eficácia e eficiência da participação brasileira, com o tempo. E tudo indica que o envolvimento dos “seculares” turcos, foi fundamental. Muita calma na hora de celebrar um acordo ou lamentar um fracasso. É sintomático que o acordo que está em voga na mesa é o que fora proposto pelas potências ocidentais, mudando o país que receberia o material nuclear, contudo, esse acordo já foi comemorado anteriormente. E ainda resta a hipótese de ser um sucesso à la “Chamberlain” (que foi capa da Time, só estou dizendo!). Agora que os ufanistas “estão que tão”, isso é inegável. Tanto os que são partidários do presidente, quanto os meramente nacionalistas. Fora os que “amam” o Irã, por que esse usa uma retórica dura e inflamatória contra Israel. Mas, ai já é tema para uma análise da viagem, que será feita em tempo oportuno, essa é apenas uma nota, já que o plano B, não me deixa saber quando vou poder atualizar o blog.

PPS: Já que o título desse texto foi uma incursão pela “Memory Lane”, devo dizer que meu cavaleiro favorito era o Ikki de Fênix. Meu e de muita gente, devo salientar. 

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