Essa semana recebi três consultas de leitoras secundaristas (hoje é ensino médio) que fazem as já tradicionais perguntas sobre empregabilidade, práticas e rotinas da profissão e pré-requisitos lingüísticos. Como está disposto aqui sempre me proponho a responder esses questionamentos de bom grado com base no princípio que não custa nada ajudar. Devo, contudo, salientar que essa minha disposição de ajudar não deve substituir a pesquisa, inclusive a pesquisa em posts anteriores.
Isso deve estar soando como uma reprimenda não é de maneira alguma é um incentivo a leitura, que é pré-requisito de ocupações de nível superior, em geral e relações internacionais, especificamente. Eu gosto muito do contato com os leitores e gosto de ajudar, mas não há uma certa fadiga em responder sempre as mesmas coisas.
Isso posto, vamos as dúvidas das três jovens, na ordem em que chegaram e da maneira como foram enviadas, com a ressalva costumeira de que seus nomes foram omitidos. A primeira leitora tece elogios (que tornaram difícil para eu escrever o que vai nas linhas anteriores) e faz algumas perguntas.
“[...] Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo blog,poucas pessoas tem a paciência de responder e-mails assim como você faz em seu blog, acho isso muito legal de sua parte pois ajuda e muito pessoas que estão ''perdidas'' ou precisando de uma ''luz'', é dificil achar alguém dessa área que nos ajude, e como é sempre bom ter a opinião de uma pessoa esclarecida da área, vamos as minhas ''dúvidas existenciais''. rsQuais são as REAIS expectativas para quem está nessa área? E a minha maior dúvida, uma vez dentro de uma empresa, com qual frequência ocorrem viagens, para onde? As viagens já não estão sendo aos poucos substítuidas por vídeo-conferências? Pois quero muito seguir essa área, mas fico com receio de ser aquelas pessoas que não vivem em casa sabe? Quero muito formar uma família também, e acho que isso pode interferir um pouco. Mas que fique claro que não tenho medo de viajar se for preciso, inclusive eu AMO viajar, mas dependendo da frequência pode atrapalhar.[...] E gostaria de pedir também, se já não for pedir demais, alguma indicação de um livro para eu ler.”
A segunda leitora faz perguntas mais genéricas que de certa maneira estão contidas na pergunta acima
“[...] Já faz um tempo que optei por cursar Direito, mas há alguns dias me deparei com a possibilidade das Relações Internacionais. Bom, meu medo é realmente o campo de trabalho. Não sei muito bem como um profissional dessa área pode trabalhar, em que lugares, média de salário, grau de dificuldade. Gostaria de saber um pouco do que envolve o universo dessa profissão, e mais uma coisinha, quais as boas faculdades em RI aqui no Rio de Janeiro? Já me disseram que a melhor em Humanas é a Uerj, outros discordam, queria saber a opinião de um profissional da área.”
A terceira leitora nos oferece uma pergunta simples, que, contudo é recorrente nesse blog.
“[...] Descobri seu blog no orkut, e então resolvi lhe perguntar uma dúvida que ainda tenho.Esse ano presto vestibular para RI. Eu tenho curso de inglês avançado, mas ainda nao falo fluente, você acha que isso poderá me prejudicar muito ao entrar na universidade?”.
O campo de trabalho é complicado, difícil e depende muito de sua própria capacidade de trabalhar, de se articular em redes de contatos, de capacidade de estudar e obter aprovação em concurso (se for esse o caminho que deseja). Faço essa advertência em todas as vezes que sou chamado a opinar, não com vistas a desanimar alguém, como já me acusaram em fóruns, mas para que se esteja preparado para uma realidade que não dá mostras de mudança em curto e médio prazo.
Não tenho como mensurar a freqüência com que se viaja dentro de uma empresa, por que convenhamos isso vai depender das responsabilidades que você tem na hierarquia da empresa, do setor, do tamanho. Tenho amigos que trabalham em grandes multinacionais que tem rotinas completamente distintas, um que trabalho no setor de papel e celulose viaja com constância e “vive da mala”. Outra trabalha em uma gigante do setor de entretenimento que não viaja tanto. Tenho amigos no setor público que viajam o país todo em bases quase semanais e outros que deixam o país com intervalos curtos de distância. Outros que como eu são empreendedores e viajam a negócios por todo canto e eu que faço um trabalho mais fixo geograficamente falando (ainda que tenha que sair do país e da minha cidade de tempos e tempos).
É claro que as empresas têm um imperativo microeconômico de diminuir custos e aumentar produtividade, nesse particular, meios eletrônicos de comunicação são sobremaneira utilizados, mas há situações e clientes que não abrem mão do contato “olho no olho”. Formar família é possível mesmo constantemente mudando de cidade e país como bem sabem os filhos de militares e diplomatas, ainda que seja preciso cuidados especiais com a educação e integração dos filhos. Mas, viajar muito não é impeditivo, embora dificulte.
Quanto as perguntas da segunda leitora devo dizer que quase todos (se não todos os textos) que produzi nessa seção do blog tratam do assunto, e ai recomendo fortemente a leitura deles, onde inclusive dou detalhes de campos de trabalho, e de como é o dia-a-dia do trabalho. Pelo menos na minha experiência, pretendo criar uma série com entrevistas com outros profissionais, mas isso tem algumas dificuldades operacionais que espero superar em breve. Não falo de salário nem em média, não creio ser a internet um lugar para se falar em dinheiro.
As universidades públicas têm uma vantagem óbvia de serem gratuitas o que ajuda muito a família na hora de bancar um estudante universitário. No Rio de Janeiro, contudo, nenhuma das públicas tem boa cotação em relações internacionais são cursos novos. A PUC-RIO, contudo, é tradicional sendo lar das primeiras pós-graduações em relações internacionais no Brasil, e foi a primeira particular a oferecer o curso. Tenho colegas formadas na tão maltratada Estácio de Sá que são muito capazes e inteligentes e mais estão empregadas na área (o que é não fácil), portanto não posso endossar a tese que denegri essa Instituição de Ensino Superior – IES, embora não conheça pessoalmente detalhes então não endosso nem o contrário. Uma pesquisa pormenorizada com indicadores que já indiquei em outros textos pode ajudar a decidir por qual tentar.
Eu, contudo, defendo veementemente que por melhor ou pior que seja a universidade é o aluno, sua inteligência, interesse, curiosidade acadêmica, que fazem mesmo a diferença em sua formação.
A terceira eu respondi diretamente por e-mail, uma resposta bem parecida com a que dou aqui.
Quanto a sugestão de leitura, faço uma simples leia os livros que constam na lista do vestibular, leia muita coisa, de preferência boa literatura, inclusive em língua estrangeira. Não gosto muito de queimar etapas e começar a ler agora livros que serão discutidos e lidos na universidade. Se mesmo assim você queira ler livros de relações internacionais, recomendo os que carregam a expressão “introdução ao estudo das relações internacionais” em seu título. São facilmente encontrados em livrarias virtuais e reais.
Desejo a todas sorte nessa difícil etapa da vida que é escolher uma carreira, sugiro muita leitura e espero que sejamos em alguns anos colegas de profissão. Pode não ter sido a resposta que esperavam, mas foi dada de boa fé.
Conto com a visita constante por aqui.
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