“Há, nos sistemas de Estados, uma tensão inevitável entre o desejo de ordem e o desejo de independência. A ordem promove a paz e a prosperidade, que são grandes dádivas. Há, entretanto, um preço. Toda ordem limita a liberdade de ação das comunidades e especialmente a de seus dirigentes. O desejo de ordem torna aceitáveis as limitações impostas por Hobbes e por outros. Na medida, todavia, em que a ordem é imposta pela força real ou potencial de uma autoridade hegemônica, esta pode ser sentida como opressiva. Isso ocorre especialmente no caso de autoridades imperiais e outras que intervêm nas políticas internas dos membros. O desejo de autonomia, e depois independência, é o desejo dos Estados de relaxar as limitações e os comprometimentos sobre eles impostos. A independência, entretanto, também tem seu preço, em termos de insegurança econômica e militar.
O termo Estados Independentes num sistema indica entidades políticas que mantêm a capacidade última de tomar decisões externas, assim como decisões de natureza doméstica. Na prática, contudo, a liberdade para a tomada de decisões externas é diminuída pelas limitações que o envolvimento em qualquer sistema impõe, e também pelos comprometimentos voluntários que os Estados assumem a fim de gerir suas relações externas de maneira eficaz. Quanto maiores forem as limitações e os comprometimentos, mais apertado será o sistema, e mais longe ele se situará no espectro.
Na extremidade do espectro onde se situam as independências múltiplas, quanto mais estreitamente os Estado soberanos estiverem envolvidos uns com os outros, menos se sentirão capazes de operar sozinhos. A rede impessoal de pressões estratégicas e econômicas que os mantém juntos num sistema os induz a fazer alianças. As alianças proporcionam uma forma de ordem ao que seria um sistema não coeso, ao coordenar, e assim modificar, o comportamento de seus membros. Esse é um aspecto do que o sistema europeu chamou raison d’état. A ordem é ainda promovida por acordos e regras gerais, que limitam e favorecem todos os membros do sistema e o tornam uma sociedade. Esse é um aspecto da raison de système, a crença em que vale a pena fazer com que o sistema funcione. Na medida em que tais acordos, inclusive compromissos para com a segurança coletiva, sejam voluntários, e não sejam impostos por uma potência ou um grupo de potências vitoriosas, eles caem na área de independências múltiplas do espectro.”
WATSON, Adam. A evolução da sociedade internacional: Uma análise histórica comparativa. Ed. UnB. Brasília, 2004. pp. 28-29.
Comentários