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D Day for Obamacare

Ok. O apelido Obamacare é a maneira pejorativa que a oposição republicana (e não republicana) chama o plano de reforma de saúde proposto pelo presidente Obama. Proposta que nesse domingo será analisada na House of Representatives (Câmara de Deputados dos EUA). Obama usou todo o peso do seu cargo nos últimos dias para evitar que sua maioria democrata se preocupe mais com a re-eleição e fez hoje um discurso emotivo em que lembrou a todos que entraram para política para ajudar as pessoas (numa ilação de quem não vota com ele não quer ajudar as pessoas, diga-se de passagem).  

A imprensa internacional (incluindo os brasileiros) tem analisado a questão de maneira superficial seguindo o maniqueísmo dos discursos políticos que tenta pintar as forças contrárias a reforma nos moldes propostos por Obama, como forças retrógradas, reacionárias e até mesmo racistas e xenófobas. Um grupo que chama especial atenção é o descentralizado Tea Party Patriots. Um movimento social (sim nem todos os movimentos sociais são esquerdistas e o Tea Party está encaixado na definição) que tem suas bases no movimento conservador grassroots que é como o próprio nome denuncia extremamente ligado ao ideário dos “Founding Fathers”.

Os princípios que guiam esse grupo são: responsabilidade fiscal, governo constitucionalmente limitado e mercado livre. Que seguem a seguinte filosofia retirada de seu site oficial.
“Tea Party Patriots, Inc. as an organization believes in the Fiscal Responsibility, Constitutionally Limited Government, and Free Markets. Tea Party Patriots, Inc. is a non-partisan grassroots organization of individuals united by our core values derived from the Declaration of Independence, the Constitution of the United States of America, the Bill Of Rights as explained in the Federalist Papers. We recognize and support the strength of grassroots organization powered by activism and civic responsibility at a local level. We hold that the United States is a republic conceived by its architects as a nation whose people were granted "unalienable rights" by our Creator. Chiefly among these are the rights to "life, liberty and the pursuit of happiness." The Tea Party Patriots stand with our founders, as heirs to the republic, to claim our rights and duties which preserve their legacy and our own. We hold, as did the founders, that there exists an inherent benefit to our country when private property and prosperity are secured by natural law and the rights of the individual.”
Esse grupo tem crescido em importância entre os eleitores e políticos do partido republicano e é em parte responsável pela rápida reanimação da base republicana depois da derrota nas eleições. Claro que temos as estrelas “liberals” ou “progressive” (como Michael Moore) ocupando a mídia, contudo, os números de rejeição a lei militar estão em torno de 55%.

Claro que para nós que temos um sistema de saúde, em tese, universal a resistência da população americana em ter um SUS é algo bastante exótico, mas a questão gira em torno da obsessão por liberdade que vê em qualquer aumento do poder governamental uma ameaça aos seus direitos. Em geral pessoas com essa visão de mundo são alinhadas as políticas conservadoras, são pessoas que vêem os valores individualistas como responsáveis pelo poderio de seu país.

Esses ideais têm grande influência em parte da população americana a outra parte da população acredita que o caminho para país passa pelo papel do governo como interventor na sociedade protegendo grupos desprivilegiados e de alguma maneira promovendo legislações que alcancem a justiça social. Ou seja, na essência a disputa sobre a reforma da saúde se dá entre aqueles que apostam em responsabilidade individual e os que crêem que é responsabilidade do estado prover saúde.

No contexto da disputa que cerca a reforma de saúde alguns movimentos do governo Obama ajudaram a aumentar a influência da oposição como o notório episódio que ficou conhecido “Louisiana purchase” manobra pela qual a senadora pelo referido estado Mary Landrieu aumentou os gastos do governo federal em seu estado em troca do voto. Sim essa prática antiética é constantemente usada por aqui sem nenhuma contestação, mas por lá enfureceu a opinião pública que via a coisa como um suborno.

Parece-me claro que a lei tem alta possibilidade de ser aprovada na sessão de hoje do congresso americano (você meu leitor consegue imaginar o congresso brasileiro votando algo importante em um domingo?), mas a disputa continuará por um tempo já que vários estados parecem dispostos a recorrer da aprovação da lei. Para os que analisam a política internacional a questão tem a relevância de saber qual o poder de liderança o presidente Obama tem no Congresso e se a aprovação dele significará uma maior atenção do presidente no front externo, notadamente as guerras do Iraque e do Afeganistão e as relações com a China, que estão um tanto estremecidas com pressões de Washington pela desvalorização da moeda chinesa.

A essa altura já transpareceu que não sou otimista quanto ao plano de reforma de saúde de Obama, mas vendo a desenvoltura do SUS fica difícil acreditar em intervenção governamental no atendimento médico. De qualquer maneira a saúde da popularidade do governo Obama está em jogo (perdoem pelo sempre infame trocadilho).  

Comentários

Macaco Pipi disse…
NOSSA
QUE TEXTO!
VOU ESPALHAR!

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