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Tradição de domingo. Atender aos leitores

Antes de responder as cartas dos leitores dessa semana, devo antes pedir desculpa a esses leitores, já que essas respostas estão deveras atrasadas. Não vou me alongar a explicar assuntos de natureza pessoal, mas quero que saibam que a demora foi por motivos de força maior. Espero contar com a compreensão de vocês.

Vamos as dúvidas. São três e todas versam de uma maneira ou de outro na categoria empregabilidade. Duas me chegaram por e-mail e uma terceira em forma de comentário que não é a maneira ordinária que recebo e trato dúvidas, mas é um meio de contato tão legitimo como qualquer outro, ainda que eu prefira por e-mail.

Dois rapazes e uma terceira leitora totalmente anônima, não que isso importe. Transcrevo aqui na ordem que me chegaram e da maneira como foi me enviado, omitindo como sempre o nome desses leitores, por questão de privacidade.

O primeiro leitor ainda não se decidiu completamente a respeito de cursar relações internacionais o e-mail:
 
“Além de analisar que poderei prestar concurso de Diplomacia, quais outros ramos ("leques" de profissão) possuirei com o curso de R.I?” continua o leitor: “Possuo fluência no inglês devido ao fato de que meu pai trabalha em uma multinacional efetuando negociações. Busco conhecimentos em Espanhol (nivel "portunhol") e Francês (engatinhando como um bebê).”

Primeiramente obrigado pelas palavras de carinho quanto ao blog, já disse um milhão de vezes e repetirei quantas for preciso que são os leitores que fazem dessa experiência de escrever algo tão prazeroso. Quanto a sua questão posso dizer de uma maneira rápida que o leque é amplo.

Há inúmeras possibilidades de empregabilidade, embora nenhuma seja mais fácil que a outra, sem querer desencorajá-lo ou algo assim é preciso que eu lhe diga que obstante as constantes manifestações de profissão do futuro, a realidade do mercado é difícil e bastante restrita, não que não existam histórias de sucesso. Por que obviamente existem, mas é preciso ter em mente que as dificuldades serão grandes.

Os empregos vão do setor público, que muito além da diplomacia oferece carreiras desafiadoras em vários organismos que podem ser satisfatórias, claro que vinculadas a aprovação em concurso ou a indicação a um cargo comissionado.

O setor privado oferece carreiras como as que seu pai tem, tendo na entrada por meio de trainee a melhor maneira de se inserir em cargos gerenciais e executivos, que a principio podem não parecer correlatos a carreira de relações internacionais, mas como defendo em vários textos, podem-se aplicar os conhecimentos aprendidos na universidade ainda que de maneira marginal.

Há o magistério e a pesquisa (que podem ser empregos públicos ou privados) que são campos excelentes pra quem tem a vocação, ainda que nem todos os professores a tenham infelizmente.
O terceiro-setor ou organizações não-governamentais oferecem muitas e excelentes vagas. É preciso ter em mente que câmaras comerciais bilaterais, como a Amcham (Câmara Americana de Comércio), associações empresariais e comerciais são organizações do terceiro setor além das ONG’s “tradicionais” como as ambientalistas.

Isso é um resumo ainda pode existir uma miríade de possibilidades é importante se ter algum planejamento de carreira, mas também está aberto as possibilidades que vão se apresentando ao longo da graduação. Recomendo como sempre a leitura de respostas dadas em oportunidades anteriores.

Segundo leitor é um graduando é pergunta basicamente a mesma coisa que o leitor que respondi acima, mas algumas partes de sua indagação clamam por uma resposta própria, eis os trechos que suscitam uma resposta:

“[...] Entrei na faculdade, e já fiz 2 dos 8 períodos (são 4 anos de curso).[...] Mesmo depois de 1 ano estudando, ainda tenho muita dúvida de qual carreira seguir. Alias, mesmo depois de um ano, conheço muito pouco as áreas de atuação de alguém que se forma em RI. A única fonte de informação que tenho sobre o curso é pela internet, e mesmo assim acredito que não é o necessário pra mim.”

Coincidentemente escrevi nessa semana um texto sobre uma parte dessa dúvida em que falo sobre a identidade profissional do bacharel em relações internacionais. O problema que aflige a esse aluno se abate sobre muitos e muitos graduando e egressos das escolas de relações internacionais, que se sentem despreparados ou sem saber o que fazer com o que aprende e pra quem oferecer esse conhecimento.

Uma dúvida que sei pode consumir a confiança de uma jovem adulto e tornar muito difícil a sua aprovação em entrevistas, mesmo não sendo psicólogo é fácil constatar isso. Parte do remédio é isso que esse estudante faz que é procurar conhecer histórias de empregabilidade e conhecer as suas alternativas.

Os exemplos que dei acima dão conta do que pode fazer um profissional de relações internacionais, mas sei que a dúvida desse leitor é sobre o dia a dia é quase sobre como fazer, sobre como trabalhar.

Com um ano de curso apenas é natural ainda não saber como e o que fazer. Eu recomendo que você estude por enquanto sem se pressionar quanto a emprego, aprenda o melhor e o máximo possível e converse com seus professores, eles podem ajudar muito nessa dúvida (os meus foram vitais), além disso, procure saber se sua IES (Instituição de Ensino Superior) conta com um programa de Empresa Jr. que é uma ótima forma de aprender a trabalhar e claro comece a procurar por estágios ainda que esses sejam mais comuns para quem já está pelo menos no quarto semestre.

Aqui já compartilhei como entrei na vida profissional, eu pessoalmente passei por exatamente o que você passa agora. A titulo de ilustração posso lhe falar que tenho amigos de turma que são empresários hoje do setor de consultoria em relações internacionais em área cultural e em comércio exterior, outros são funcionários do governo federal, trabalhando em agências governamentais e ministérios e adoram o que fazem, outros trabalham para empresas multinacionais, outros trocaram de área, e outros infelizmente não conseguiram se inserir no mercado usando o curso.

A terceira dúvida nos chegou via comentário no post “O que me levou as Relações Internacionais? Pergunta uma leitora, em mais uma carta da nossa seção de dúvidas de leitores” publicado no dia 23 de maio do ano passado. O texto como me chegou:

“hola queria tirar uma duvida porque sempre achei que fazer relaçoes internacionais seria como ter contato direto com o exterior ser tipo uma guia pra eles porque o meu interesse seria fazer um curso que eu pudesse viajar o mundo fazendo omo o trabalho de um guia pra os estrangeiros no brazil e no mundo... podem me tirar essas duvidas”

Pessoalmente não tenho notícia de alguém que desempenhe uma função como essa que o leitor descreve, alias esse tipo de serviço parece muito semelhante ao do chamado turismo receptivo, um bacharel em relações internacionais até pode desenvolver uma atividade parecida que é a de assessoria. Não sei se exatamente como você propõe haveria mercado.

Recomendo a todos a leitura de alguns textos antigos apesar de a mudança de layout ter deformado essas postagens mais antigas (com tempo vou corrigir todas, no meio tempo só posso pedir paciência e compreensão) e agradeço por terem lido e se comunicado comigo.

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