Pular para o conteúdo principal

One year already

Exatamente há um ano Barack Hussein Obama 44° (eles gostam de numerar os presidentes) presidente dos Estados Unidos da América tomou posse. Eleito como queridinho dos comentaristas políticos do mundo e com uma agenda que era bastante indefinida com uma clara diretriz a mudança.

Em maio publiquei aqui e no portal Mundo Post um artigo em duas partes intitulado ‘Welcome to the real world Mr. Obama’ em que eu fazia um breve levantamento dos principais desafios de política externa que enfrentaria seu governo. Nesse texto revisitarei essa metodologia e buscarei novamente analisar o que foi feito por região do global, é óbvio que as relações bilaterais dos EUA com as nações citadas é objeto em si para livros e mais livros, textos e mais textos, por isso essa análise não se pretende ser exaustiva.

América Central


Em meu artigo supracitado tratava que a maior ameaça a estabilidade nessa região eram a ‘maras’ (quadrilhas criminosas derivadas dos esquadrões da morte em Honduras e do fluxo de criminosos deportados pelos EUA) que se espalharam pela região dominando o trafico de drogas, de pessoas e de armas. E de fato continua sendo uma ameaça a ordem pública e inclusive a política por que não é difícil de imaginar que há uma gradual infiltração desses criminosos nas instituições. A crise desencadeada pela deposição de Manuel Zelaya expôs que ainda há fragilidade nas democracias e governos da região.

Nesse sentido o governo Obama foi forçado a agir especificamente na região e indubitável que a saída razoavelmente satisfatória dessa crise se deve ao peso do Departamento de Estado. Essa ação colocou em rota de colisão EUA e Grandes atores regionais e extra-regionais, como a Venezuela, Brasil, Argentina entre outros.  

Cuba continua um ponto intricado de interesses para ser administrado pelo governo Obama, isso por que a questão é altamente ideologizada por conseqüente qualquer ação é polêmica e do lado cubano a idéia de resistir ao império (tanto é que gerações de cubanos foram e são preparados pra sobreviver ao ataque americano) é ponto fundamental da vida política da ilha que ao longo desses anos de embargo desenvolveu seu discurso e sua justificação em torno dessa relação. Assim a atuação de Obama até o momento mimetizou as dificuldades internas para lidar com Cuba.

A questão haitiana vem sendo analisada em separado e creio que mesmo cronologicamente pertencendo ao primeiro ano de Obama é uma questão que ainda necessita de tempo para se criar um mapa correto da situação.

América do Sul


Há graduações diferentes nas relações com essa parte do continente, temos, por exemplo, relações bilaterais desse país com o Peru, Chile e Colômbia. Esse ultimo um tanto cercado na região, tendo na parceria estratégica com os EUA um importante suporte e apoio.

A percepção do Brasil como interlocutor moderado e privilegiado na região continua como anedoticamente é enfatizado pelas manifestações de apreço de Obama para com Lula em uma reunião do G-20. Contudo os dois países tiveram entreveros importantes no campo comercial e regional, tendo Honduras como exemplo maior.

O governo Obama se esforçou para capitalizar com a imagem carismática desse líder, contudo, a política internacional e os naturais desgastes impediram essa estratégia e os sentimentos antiamericanos continuam a ser bastante difundidos na região, mostrando que não há superação fácil de desconfianças arragaidas.

África


Cresce a influência chinesa na região no vácuo deixado por EUA e Europa. O discurso em prol dos direitos humanos não foi corroborado por ações práticas e o crescimento do recrutamento de terroristas na região se torna um desafio para o governo Obama. A questão somali tem sido apontada como a mais crítica a segurança para a região, contudo, potências regionais assumiram a liderança na repressão da pirataria.

Ásia – Oriente Médio


A situação das duas guerras (Iraque e Afeganistão) merece um apanhado mais completo, de maneira, o governo Obama manteve o enfrentamento ao terrorismo, ainda que com uma redução da retórica. Tem aumentado a pressão para que a o governo iraquiano assuma maior responsabilidade na segurança, garantindo que se cumpra a estratégia de aumentar o numero de combatentes no teatro de operações do Afeganistão.

Há um crescente descontentamento e desconforto por parte de Israel, que mesmo com o vice-presidente sendo um histórico defensor das relações entre Israel e EUA, consegue diminuir, há na região como transparece em entrevistas e declarações de altos funcionários do governo israelense. Os esforços de ‘esticar a mão’ para o Irã não tem sido retribuídos, de fato há uma escalada da retórica por parte da liderança iraniana, o que pode ser motivado pelo crescimento da oposição interna no país persa. De maneira geral o primeiro ano do governo Obama não trouxe nenhuma novidade nos esforços para pacificar e estabilizar a região. Economicamente Dubai chama a atenção para problemas derivados da crise mundial na região.

Ásia – Extremo Oriente


A característica protecionista dos democratas (por serem ligados aos sindicatos) tem tencionado as relações entre EUA e China, com a questão cambial sendo a principal reclamação já que segundo Washington o câmbio artificialmente baixo da China prejudica o comércio e o próprio dólar. Há uma tensão comercial no que tange aos marcos regulatório em negociação em Doha. Uma relativa aproximação foi vista na ultima cúpula do pacifico, contudo, a conturbada relação entre os dois estados é apontada com uma das causas que inviabilizou o acordo da COP-15. Não verifiquei uma inflexão ou grandes correções de curso nas relações de Obama com a Ásia.

Europa


Clara tensão por conta da questão climática, mas uma boa coordenação na resposta a crise financeira e uma percepção positiva a Obama tem sido a marca da política desse líder com o velho mundo, rusgas pontuais existiram. Mas sem dúvida o maior avanço de Barack, foi a distensão das relações com a Rússia, que vinham de um período de mútua desconfiança no final do governo Bush, amplificada pela invasão da Geórgia.

Dessa maneira termino essa análise transcrevendo o fecho do meu artigo de maio: “Assim, welcome to real world Mr. Obama, be careful”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa

Ler, Refletir e Pensar: Libya's Terrorism Option

Mais um texto que visa nos oferecer visões e opiniões sobre a questão da Líbia que é sem sombra de duvida o assunto mais instigante do momento no panorama das relações internacionais. Libya's Terrorism Option By Scott Stewart On March 19, military forces from the United States, France and Great Britain began to enforce U.N. Security Council Resolution 1973 , which called for the establishment of a no-fly zone over Libya and authorized the countries involved in enforcing the zone to “take all necessary measures” to protect civilians and “civilian-populated areas under threat of attack.” Obviously, such military operations cannot be imposed against the will of a hostile nation without first removing the country’s ability to interfere with the no-fly zone — and removing this ability to resist requires strikes against military command-and-control centers, surface-to-air missile installations and military airfields. This means that the no-fly zone not only was a defensive measure