Antes de qualquer coisa tenho que expressar como é bom voltar a escrever já estava com síndrome de abstinência com falta desse meu vício que é dialogar com vocês meus leitores. O ritmo ainda não será normal, mas esse triste cenário de “abandono” do blog deixará de existir.
Mais uma vez nosso tema é a novela/concorrência F-X2 (que é o processo de compra dos novos aviões de caça da FAB) e novamente é uma controvérsia que chama a atenção sobre o assunto.
Ano passado quando o presidente Lula se manifestou sobre a opção francesa, dando-a como favas contadas, aventei aqui a possibilidade (e creio que todos que lidaram com o tema também o fizeram) de que o relatório técnico poderia criar embaraços ao presidente, caso apontassem outra aeronave como melhor compra.
A repórter da Folha de São Paulo Eliane Cantanhede hoje, como a maioria deve saber, adiantou com exclusividade a opção da FAB pelo caça sueco Gripen NG da fabricante SAAB.
A decisão final é de alçada do presidente, contudo, o relatório demonstra que a FAB tem uma preferência e pode gerar uma estranheza ou mesmo uma crise se não for levada em conta, além de que o relatório pode munir a oposição (tímida é verdade) ao governo e servir de parâmetro para que órgão de auditoria e controle externo intervenha no processo.
É importante se ter em mente que esse processe de licitação não é uma simples ação de compra governamental, mas sim a manifestação mais visível de uma doutrina de defesa nacional, uma vez que a compra de ‘hardwares’ de ciclo de vida longa, como um avião, vincula vários governos já que o referido ciclo de vida é nesse caso especifico de 30 anos.
Além do óbvio peso que esse tipo de compra exerce sobre o tesouro, uma vez que sempre ocorrerá de uma parcela da opinião pública se opor radicalmente a compra defendendo que o valor poderia ser melhor empregado em hospitais, escolas e todo tipo de políticas públicas.
Por isso mesmo que o atual governo tem usado um temos bem difundido nas várias correntes de opinião de que uma potencia estrangeira cobiçaria recursos naturais que por isso precisariam desse equipamento para que se defenda os interesse nacionais, ao inicio do projeto F-X2 se falava exclusivamente de defesa amazônica, agora temos o pré-sal, também, no rol de justificativas. Não que eu pessoalmente descarte essas hipóteses de emprego, mas não posso descartar que há manipulação desse medo.
Há outros fatores militares de emprego, de doutrina de uso, combinação de forças, tipo de conflito esperado e para isso há blogs, portais e livros específicos que tratam do assunto de maneira muito mais competente de que eu faria nesse momento.
Para nosso blog de relações internacionais o viés mais interessante de observarmos os desenvolvimentos é o viés da política internacional, ou seja, como essa compra será usada ou não para construir alianças e projetar a propalada liderança regional brasileira. E, claro, se essa compra desencadeará uma corrida armamentista na região ou será conduzida de tal maneira que não gere desconfianças nos países vizinhos.
Tenho algum conhecimento de como se dão processos licitatórios internacionais e de grande porte e posso muito bem dizer que o nível de pressão sobre todos os militares e funcionários civis que estão à frente desse processo é incrivelmente grande. Por que há interesses comerciais, políticos, industriais, ideológicos, estratégicos e até diplomáticos em jogo.
Há uma convergência entre os analistas e me incluo nessa linha de pensamento de que um dos resultados prováveis desse relatório pode ser o ‘congelamento’ do processo licitatório já que novamente temos um presidente em final de mandato, um impasse entre o político e o estratégico. Os analistas mais ligados temem que esse congelamento mantenha a FAB tecnologicamente antiquada.
Outro fator que complica a trama da ‘novela dos caças’ é atual crise entre a cúpula das forças armadas e o governo por conta da instauração da Comissão da Verdade.
Espero pelo desenlace da novela, mas uma coisa é clara se a opção francesa se mantiver será preciso uma melhora da proposta francesa ou um trabalho de convencimento para que a parceira não gere mal-estar.
Contudo, como dito acima é uma decisão política que envolve não só a política e doutrina de defesa nacional, mas também a política externa e política de alianças, portanto não faltam complicadores nessa trama complexas.
Continua nos próximos capítulos.
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