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Sobre análises e análises. Ou sobre por que eu “blogo”

Analisar as relações internacionais é um exercício fascinante que pode ser conduzido de várias maneiras das mais instintivas as mais elaboradas e embasadas tecnicamente e mesmo essas ultimas se diferenciam pelo enfoque, pela formação de quem analisa, não só por força de variação teórica, mas também por que múltiplas ciências sociais se dedicam a esse esforço.

Não tenho um espírito corporativista que imputa somente aos bacharéis e/ou pós-graduados em relações internacionais a competência de analisar esses fenômenos. Há um grande rol de outras formações que podem se dedicar a esse intento com capacidade e embasamento, ainda assim como analista internacional reconheço que a multidisciplinaridade inerente ao estudo dos fenômenos internacionais é mais bem abarcado por quem tem formação em relações internacionais.

Os elementos indispensáveis para uma análise racional e cientifica das relações internacionais é se valer da teoria e do método científico para construir uma interpretação dos fenômenos internacionais que seja calcada em fatos, justificada de maneira lógica e consistente, dessa maneira os argumentos são compatíveis com o fenômeno observado e a conclusão é logicamente construída a partir do tratamento sistemático dos fatos.

Ou seja, esse tipo de análise se distingue de simplesmente opinar (como faço tantas vezes aqui, sempre ressaltando que são opiniões evitando transfigurar opiniões livres em conclusões cientificamente calcadas) e, por conseguinte esse tipo de análise é mais longa sendo seu veiculo mais comum de publicidade meios como as revistas científicas, os trabalhos apresentados em congressos e toda miríade de publicação acadêmica. Esses trabalhos e suas conclusões podem ser corroborados ou desafiados por estudos posteriores, assim se faz ciência.

Contudo, não é só por esses meios que os especialistas e profissionais da área se manifestam, muitos tem espaço na imprensa seja na grande imprensa (como convidado em programa de TV ou articulista em jornal) ou na chamada imprensa alternativa (não gosto do rótulo, mas ai incluso blogs, videoblogs, talkblogs e outras dessa mesma natureza).

Nesses meios não acadêmicos os especialistas emitem o chamado por alguns de “opinião educada”. Isto equivale a opiniões emitidas por especialistas na área feitas a luz de sua experiência, vivência e conhecimento, mas não são opiniões cientificas, já que não se dão da maneira acadêmica. São em ultima instancia o exercício da liberdade de expressão que todos gozamos em uma sociedade democrática.
Essa liberdade de expressão, pressupõe que se tenha também o mesmo desembaraço para lidar com a criticas aos argumentos apresentados, embora notadamente em ambientes virtuais muitas vezes é um debate assimétrico já que nessas situações o debatedor não tem dados básicos e formação e contesta intuitivamente, mas faz parte da vida.

O que quero dizer com toda essa digressão? Quero dizer que as opiniões que emito aqui e em outros fóruns e sites que escrevo são opiniões embasadas e construídas logicamente, mas não estão acima de críticas. Uma obviedade espantosa, contudo com esse mesmo desassombro com que lido com o fato de ter minhas opiniões contestadas, contesto o que não concordo.

Nesses dias em que sombras de restrição a liberdade de expressão anacronicamente ressurgem em toda América Latina, inclusive o Brasil, como fica patente no documento final da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é saudável refletir um pouco sobre esse bem valioso que é a liberdade de expressão.

Chega a ser espantoso pensar que em algumas partes do mundo, como em Cuba, China, Irã, Miamar entre outros o banal ato de ter um blog e se manifestar de acordo com sua consciência pode trazer conseqüências graves, como o covarde espancamento da blogueira cubana Yoani Sánchez atesta.

Eu como muitos blogueiros, decidi por escrever e dar publicidade a meus textos na internet por uma necessidade de se expressar e no meu caso particular de exercitar a escrita e o raciocínio lógico que essa atividade necessita. Escrevo por que tenho vontade de dividir minha visão de mundo e os elementos que sustentam essa visão.

Divido meu conhecimento sem a pretensão de ser professor de ninguém. Proponho discussões por vezes incomodas, não por vontade de ser controverso, mas por achar que são pertinentes.
Motivou-me a escrever essas linhas as recentes analises sobre a COP-15 que estão em todas as partes, feitas por profissionais de todo tipo de formação, algumas muito interessantes outras meras repetições de “talking points” de governos ou grupos de pressão.

Senti uma necessidade de defender que todos têm liberdade de escrever o que quiserem e cabe ao leitor buscar por quem argumenta com fatos e lógica ou não (meio Gil agora) por isso apresento meus motivos pra escrever e o que considero ser a diferença de quem escreve com formação em relações internacionais e quem escreve com base em outras formações.

Por isso há um numero grande de textos aqui dedicados a coisas que são para muitos etéreas e até mesmo intragáveis como teoria, meta-teoria, filosofia da ciência, mas o faço por que acho justo que o leitor saiba em que bases construo minhas argumentações, creio que assim melhor ele poderá avaliar o que escrevo.

De modo sintético posso dizer que mantenho um blog pelo mesmo motivo que encaro qualquer empreitada intelectual, pelo desafio que isso constitui, pelo desafio que é sanar minha própria inquietação e o desafio que é ser pertinente e conquistar leitores em um cenário que pode ser chamado de concorrência perfeita que é a blogosfera.

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